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VISÃO DE FORA
Aperto monetário está correto, vê economista
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
O aperto da política monetária
deve garantir a sustentabilidade
do atual crescimento econômico,
ainda que reduza seu ritmo. A
opinião é de Nuno Camara, economista sênior para América Latina do Dresdner Kleinwort Wasserstein em Nova York.
O economista espera que até o
fim deste ano a taxa chegue a 17%.
Segundo Camara, o mais importante para incentivar o crescimento hoje não é cortar juros, mas o
governo enxugar gastos para que
sobre mais crédito no mercado
para as empresas privadas.
Folha - Juros muito altos não vão
atravancar o crescimento?
Nuno Camara - Na margem há
um desaquecimento, claro. Mas o
objetivo é conquistar estabilidade
de preços, ou seja, uma sustentabilidade do crescimento atual. Na
opinião do investidor, o Banco
Central está subindo os juros por
um bom motivo, e não por causa
de uma crise externa ou de uma
fuga de capital. O que o investidor
vê é que o BC está tentando fazer
um ajuste fino para se certificar de
que a demanda agregada está
crescendo num ritmo que possa
ser comportado pela economia.
Isso dá um grau de previsibilidade
muito grande, que combinado a
um ambiente microeconômico
positivo e com um marco regulatório favorável não tem porque
inibir investimento. A percepção
está muito positiva em relação ao
Brasil, mesmo com a expectativa
de aperto monetário.
Folha - Controlar a inflação é
mais efetivo do que reduzir juros
para incentivar o consumo?
Camara - Sim. O que a gente tem
visto no Brasil é um aumento do
poder aquisitivo do pessoal de
renda mais baixa. Você pode não
querer comprar agora porque o
crédito está mais caro, mas pode
se planejar para um, dois, três
anos à frente, um horizonte com o
qual o brasileiro não trabalhava.
Isso tem um impacto muito
maior no consumo do que um
crescimento de curto prazo inflado por uma taxa de juros baixa.
Folha - Não está sendo criado peso excessivo sobre a dívida?
Camara - É verdade, mas você
tem de colocar todos os parâmetros de forma conjunta e ver qual
tem o peso maior. Um aumento
de agora até o fim do ano de 150
pontos básicos tem um custo "X"
para a dívida, mas a queda de renda que virá de uma inflação mais
alta, e esse efeito ilusório de crescimento tem peso muito maior.
Mais vale ter um crescimento de
3% por cinco anos do que um
crescimento de 4,5% esse ano, 5%
no ano que vem e de repente, queda. Precisamos ainda de reformas, que o governo possa manter
investimentos mas cortar gastos
não-essenciais. Quanto mais o
governo tomar dinheiro no mercado, menos dinheiro há para o
setor privado -e o setor privado
tem de recorrer ao mercado internacional e fica a mercê do investidor externo. Esse é hoje o maior
problema.
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