São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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TENSÃO PÓS-COPOM

Entidades vêem na elevação da taxa de juros ameaça aos investimentos e à retomada da economia

Indústria, comércio e centrais criticam alta

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais uma vez a decisão do Copom de elevar os juros básicos gerou críticas unânimes dos representantes do setor produtivo. A CNI (Confederação Nacional da Indústria), a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), as centrais e o comércio viram na medida uma ameaça à retomada da economia.
"Eu detesto ser comentarista de fatos ocorridos e de decisões já tomadas pela autoridade monetária", disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp. "Vamos nos esforçar para que a produção seja ouvida e respeitada neste país. Não é com aumento de juros que nós vamos entrar em uma rota de crescimento sustentado e contínuo de que o Brasil precisa, que a sociedade exige e o povo quer", disse ele no Salão de São Paulo.
Segundo nota divulgada antes pela entidade e assinada pelo presidente recém-empossado da Fiesp, "mais do que se limitar às críticas e análises econômicas, os empresários, bem como os trabalhadores, devem mobilizar-se no sentido de participar mais das decisões nacionais".
O texto diz que empresários e trabalhadores precisam ser mais pró-ativos "para demonstrar com clareza, diante de decisões como esta do Copom, que é questionável manter juros elevados num mercado ainda distante de qualquer risco de inflação de demanda". Skaf ainda diz que a melhor solução para evitar alta de preços seria estimular investimentos.
O presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Claudio Vaz, não quis comentar a decisão.
Para o presidente em exercício da CNI, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, a entidade não compartilha da visão do Copom. "A alta dos juros é danosa à produção e ao investimento, e a CNI lamenta essa decisão". Na sua avaliação, a economia brasileira não enfrenta pressões inflacionárias decorrentes de excesso de demanda.
A Fecomercio SP também lamentou o aumento da Selic. "Os efeitos da elevação e mesmo da interrupção da trajetória de queda da Selic já podem ser notados. As taxas ao consumidor final voltaram a subir. O volume de crédito e os prazos de financiamento pararam de melhorar. Inevitavelmente, o comércio sofrerá com isso", afirmou o presidente da Fecomercio, Abram Szajman.
Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo, afirmou que a alta dos juros foi desnecessária num momento em que a inflação está em queda. "A não ser que o governo esteja planejando subir fortemente o preço dos combustíveis e já sabe que isso vai ter impacto na inflação."
O presidente da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, divulgou nota afirmando que "as rédeas do Brasil escapam, mais uma vez, das mãos do governo".
"O reajuste compromete a retomada do desenvolvimento social, uma vez que a medida fará com que o consumo, a renda do trabalhador e a empregabilidade voltem a cair", diz o texto.
Para a CUT (Central Única dos Trabalhadores), é "inadmissível a política de juros adotada pelo Copom. Essa receita conservadora certamente continuará inibindo o crescimento econômico, tornando cada vez mais distante as possibilidades de solução para o grave problema do desemprego".

Senado
A decisão não foi comemorada por senadores aliados ao governo nem pela oposição na Casa. "Foi um aumento conjuntural. A área econômica está reagindo à alta do petróleo e ninguém pode ficar satisfeito com isso. A elevação da taxa de juros diminui a capacidade de investimento", disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
Para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), a alta foi uma tentativa do Copom de mostrar que suas decisões não sofrem interferência política, após críticas vindas inclusive do Planalto.


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