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TENSÃO PÓS-COPOM
Entidades vêem na elevação da taxa de juros ameaça aos investimentos e à retomada da economia
Indústria, comércio e centrais criticam alta
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais uma vez a decisão do Copom de elevar os juros básicos gerou críticas unânimes dos representantes do setor produtivo. A
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), a Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo), as centrais e o comércio viram
na medida uma ameaça à retomada da economia.
"Eu detesto ser comentarista de
fatos ocorridos e de decisões já tomadas pela autoridade monetária", disse Paulo Skaf, presidente
da Fiesp. "Vamos nos esforçar para que a produção seja ouvida e
respeitada neste país. Não é com
aumento de juros que nós vamos
entrar em uma rota de crescimento sustentado e contínuo de que o
Brasil precisa, que a sociedade
exige e o povo quer", disse ele no
Salão de São Paulo.
Segundo nota divulgada antes
pela entidade e assinada pelo presidente recém-empossado da
Fiesp, "mais do que se limitar às
críticas e análises econômicas, os
empresários, bem como os trabalhadores, devem mobilizar-se no
sentido de participar mais das decisões nacionais".
O texto diz que empresários e
trabalhadores precisam ser mais
pró-ativos "para demonstrar com
clareza, diante de decisões como
esta do Copom, que é questionável manter juros elevados num
mercado ainda distante de qualquer risco de inflação de demanda". Skaf ainda diz que a melhor
solução para evitar alta de preços
seria estimular investimentos.
O presidente do Ciesp (Centro
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Claudio Vaz, não quis comentar a decisão.
Para o presidente em exercício
da CNI, Carlos Eduardo Moreira
Ferreira, a entidade não compartilha da visão do Copom. "A alta
dos juros é danosa à produção e
ao investimento, e a CNI lamenta
essa decisão". Na sua avaliação, a
economia brasileira não enfrenta
pressões inflacionárias decorrentes de excesso de demanda.
A Fecomercio SP também lamentou o aumento da Selic. "Os
efeitos da elevação e mesmo da
interrupção da trajetória de queda da Selic já podem ser notados.
As taxas ao consumidor final voltaram a subir. O volume de crédito e os prazos de financiamento
pararam de melhorar. Inevitavelmente, o comércio sofrerá com isso", afirmou o presidente da Fecomercio, Abram Szajman.
Emílio Alfieri, economista da
Associação Comercial de São
Paulo, afirmou que a alta dos juros foi desnecessária num momento em que a inflação está em
queda. "A não ser que o governo
esteja planejando subir fortemente o preço dos combustíveis e já
sabe que isso vai ter impacto na
inflação."
O presidente da Força Sindical,
João Carlos Gonçalves, o Juruna,
divulgou nota afirmando que "as
rédeas do Brasil escapam, mais
uma vez, das mãos do governo".
"O reajuste compromete a retomada do desenvolvimento social,
uma vez que a medida fará com
que o consumo, a renda do trabalhador e a empregabilidade voltem a cair", diz o texto.
Para a CUT (Central Única dos
Trabalhadores), é "inadmissível a
política de juros adotada pelo Copom. Essa receita conservadora
certamente continuará inibindo o
crescimento econômico, tornando cada vez mais distante as possibilidades de solução para o grave problema do desemprego".
Senado
A decisão não foi comemorada
por senadores aliados ao governo
nem pela oposição na Casa. "Foi
um aumento conjuntural. A área
econômica está reagindo à alta do
petróleo e ninguém pode ficar satisfeito com isso. A elevação da taxa de juros diminui a capacidade
de investimento", disse o senador
Romero Jucá (PMDB-RR).
Para o líder do PSDB, senador
Arthur Virgílio (AM), a alta foi
uma tentativa do Copom de mostrar que suas decisões não sofrem
interferência política, após críticas vindas inclusive do Planalto.
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