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TRABALHO
Paralisação de mais de 30 dias não teria ocorrido se reforma sindical não tivesse emperrado, dizem empresários e trabalhadores
TST vai julgar hoje greve dos bancários
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O TST (Tribunal Superior do
Trabalho) julga hoje, em Brasília,
a greve dos bancários, uma das
mais longas e difíceis do governo
Lula. A paralisação, que durou 30
dias e atingiu 24 capitais do país,
provavelmente não teria ocorrido
se uma das prioridades do governo -a reforma sindical- não tivesse emperrado, na avaliação de
representantes do governo, dos
trabalhadores e dos empresários.
Com a reforma sindical, o que
se pretende é fortalecer as negociações coletivas e evitar conflitos
trabalhistas, como o que ocorreu
com a greve dos bancários -o
impasse será resolvido na Justiça.
A greve também mostra que a
estrutura sindical do país precisa
mudar com urgência. "A confederação que negocia e representa
de fato os trabalhadores é uma
[CNB-CUT, Confederação Nacional dos Bancários]. Mas quem entrou na Justiça e pediu o julgamento da greve foi outra [Contec,
Confederação Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito, criada em
1958], que tem registro sindical no
Ministério do Trabalho", afirma o
secretário de Relações do Trabalho, Osvaldo Bargas.
O projeto de lei para a reforma
sindical já está nas mãos do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, mas patrões e empregados
ainda disputam mudanças que
possam lhes garantir mais poder
nas relações trabalhistas.
A falta de consenso entre representantes das empresas e dos trabalhadores sobre as novas regras
para os sindicatos, após um ano e
três meses de discussões no FNT
(Fórum Nacional do Trabalho),
levou o governo a apresentar a
sua proposta em alguns temas para a reforma sindical. Isso desagradou aos dois lados.
A estrutura sindical, a sustentação financeira das entidades (sindicato, federação, confederação e
centrais) e as regras para a negociação coletiva já foram acertadas
entre as partes, segundo o governo. Ainda assim, grupos de trabalhadores e de empresários contestam até mesmo esses temas.
A CGT (Confederação Geral
dos Trabalhadores) deixou o FNT
no final de junho e decidiu levar
ao Congresso a sua proposta de
reforma sindical. A central não
concorda com o fim do imposto
sindical obrigatório, por exemplo.
Alguns empresários também não
concordam com a proposta de só
haver central sindical do lado dos
trabalhadores, e não dos patrões.
Três pontos ainda provocam
queda-de-braço entre empregados e empregadores: 1) organização no local de trabalho -a existência de uma comissão de trabalhadores dentro das fábricas; 2)
estabilidade de dirigentes sindicais e 3) substituição processual
-o direito de um sindicato recorrer à Justiça em nome do trabalhador sem autorização prévia.
"A organização no local de trabalho deve ser discutida caso a caso na negociação coletiva. Não deve ser determinada em lei", diz
Rodolfo Tavares, vice-presidente
da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e representante da bancada dos empregadores. Os empresários querem regularizar o que prevê a
Constituição, que estabelece representantes de trabalhadores nas
empresas com mais de 200 empregados.
Os trabalhadores consideram
que empresas com mais de 20
funcionários já podem ter representação. "A organização dentro
da fábrica torna as negociações
mais próximas da realidade de cada empresa. É um atraso cultural
do empresariado resistir a essa
forma de organização, comum no
resto do mundo", diz João Carlos
Gonçalves, o Juruna, presidente
interino da Força Sindical.
Sem acordo entre as partes, o
governo pretende colocar no projeto de lei uma proposta que prevê
que empresas com mais de cem
empregados possam ter organização no local de trabalho. Isso deve
valer por três anos. Após esse período, fábricas com mais de 30
funcionários já poderão ter representação. "Os empresários podem chiar. Mas a representação
no local de trabalho é um direito
dos trabalhadores, é fundamental
para modernizar as relações do
trabalho", afirma Bargas.
Ceticismo
A falta de consenso entre representantes da indústria e dos trabalhadores chega a tal ponto que alguns empresários questionam se
a reforma vai de fato contribuir
para a solução de conflitos.
"Do jeito como está elaborado
até agora, o projeto da reforma
sindical contribui para a exacerbação dos conflitos. O governo
diz que há consenso em 90% dos
pontos. Só que os 10% que faltam
são os temas importantes para a
boa convivência entre patrões e
empregados", afirma Tavares.
Para Roberto Ferraiuolo, coordenador do departamento de relações sindicais da Fiesp, o problema da reforma sindical é que
ela está mais baseada em leis do
que em negociação. "A reforma
sindical deveria ter uma base mínima legal. As partes devem construir a relação capital-trabalho
num processo de negociação."
Com 236 artigos, o projeto de lei
deve ser enviado para a Casa Civil
logo após as eleições municipais.
De lá, vai para o Congresso. A
idéia era enviar o projeto no dia 1º
de Maio, quando o governo chegou a ensaiar um minipacote trabalhista. Mas a proposta para reformar as leis sindicais ainda não
saiu do ministério por causa dos
desentendimentos.
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