São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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Banco chinês bate recorde ao lançar ações

ICBC deve captar US$ 21,9 bilhões, maior valor já registrado em abertura de capital; ofertas superaram US$ 350 bilhões

Controlado pelo Estado, banco tem 18 mil agências, 360 mil empregados, ativos de US$ 800 bilhões e 152,5 milhões de clientes


Peter Parks/France Presse
Clientes fazem fila em Pequim à espera da abertura de uma das 18 mil agências do ICBC (Industrial & Commercial Bank of China)


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A China bateu mais um recorde econômico mundial e realizou a maior abertura de capital de uma empresa da história. O estatal ICBC (Industrial & Commercial Bank of China) obteve US$ 19 bilhões com a venda de 15% de suas ações nas Bolsas de Hong Kong e Xangai. O valor pode subir a US$ 21,9 bilhões com a oferta adicional de ações para atender a enorme demanda de investidores, dentro e fora da China.
O recorde anterior de oferta inicial de ações pertencia à companhia de telefonia celular japonesa NTT DoCoMo, que captou US$ 18,4 bilhões no mercado em 1998.
Maior banco da China, o ICBC tem ativos de US$ 800 bilhões, 360 mil empregados distribuídos em 18 mil agências e 152,5 milhões de clientes -2,5 milhões dos quais pessoas jurídicas. Pela primeira vez no processo de abertura de capital das estatais chinesas, as ações serão lançadas simultaneamente nas em Hong Kong e Xangai.
O preço final dos papéis será anunciado oficialmente na segunda-feira, mas a enorme demanda dos investidores deixou claro ontem que ele será fixado no teto máximo, o que corresponde à captação de US$ 19 bilhões. As ofertas dos investidores institucionais somaram US$ 300 bilhões, ou 23 vezes a fatia de ações que poderiam comprar. A procura dos investidores pessoa física em Hong Kong superou a oferta em 76 vezes e atingiu US$ 54 bilhões.
Os papéis do ICBC começam a ser negociados na sexta-feira.
Os dois bancos estatais que abriram capital antes do ICBC -China Construction Bank e Bank of China- realizaram suas emissões apenas em Hong Kong. Em ambos os casos, o interesse dos investidores superou as expectativas do governo.
O China Construction Bank captou US$ 9,2 bilhões em outubro de 2005, e o Bank of China, US$ 11,2 bilhões em maio. Esses dois bancos e o ICBC são as três maiores instituições financeiras da China e, desde 2003, receberam no mínimo US$ 60 bilhões do Estados para sanear seus balanços.
Com um índice de poupança que se aproxima de 50% do PIB, quase todo aprisionado nos bancos, a China é vista como a nova fronteira de expansão do sistema financeiro global. Menos de 2% da população de 1,3 bilhão de pessoas possui cartão de crédito e a oferta de serviços bancários e opções de investimentos é limitada.
O interesse dos investidores contrasta com as dúvidas que rondam a saúde financeira dos bancos chineses. Controlados pelo Estado e sujeitos a forte influência política de líderes locais do Partido Comunista, eles acumularam montanhas de crédito irrecuperáveis, em operações que beneficiaram outras estatais, muitas das quais ineficientes e à beira da falência.
Ciente da dificuldade de mudar a cultura interna das instituições, o governo optou pela abertura de capital como um caminho para forçar sua profissionalização.
Com ações na Bolsa de Hong Kong, os bancos deverão seguir as regras sobre transparência e fornecimento de informações vigentes no mercado acionário mundial.
O governo também promove a atração de investidores estrangeiros estratégicos, que nos últimos dois anos gastaram cerca de US$ 20 bilhões na compra de participações minoritárias das estatais financeiras.
Nesses casos, a principal meta é implantar a tecnologia gerencial dos estrangeiros nos bancos chineses, que têm crônica dificuldade para fazer operações com base em avaliações econômicas, e não políticas.
Poucos dias antes de o China Construction Bank abrir o capital, em outubro de 2005, seu presidente, Guo Shuqing, declarou que 90% dos gerentes da instituição não sabem avaliar riscos na concessão de crédito.
Com essas mudanças, o governo espera preparar os bancos locais para a concorrência estrangeira que eles serão obrigados a enfrentar a partir de dezembro, quando a China terá que abrir seu setor financeiro ao capital externo.

Com agências internacionais

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