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ARTIGO
Investimento tímido trava recuperação do leste asiático
Região volta a crescer após crise de 1997, mas temores de risco e ortodoxia
fiscal severa impedem países de criarem condições para retomada mais forte
GUY DE JONQUIERES
DO "FINANCIAL TIMES"
BEM ANTES do 10º aniversário da crise econômica do leste asiático,
as celebrações pelo restabelecimento da saúde na região estão
progredindo a pleno vapor. Um
novo estudo do Banco Mundial
classifica o desempenho regional como "um renascimento".
Os bancos de investimento declaram que, depois de terem sido eclipsados pela China durante uma década, os demais
países em desenvolvimento
asiáticos estão prontos a retomar seu lugar ao sol. E aí surge
o suposto teste nuclear da Coréia do Norte para estragar a
festa.
Mas, mesmo sem o lembrete
oferecido por Pyongyang quanto à vulnerabilidade da região
aos riscos geopolíticos, certa
dose de ceticismo viria a calhar.
É sábio manter a prudência
quando aqueles que foram apanhados cochilando no passado
respondem pelos anúncios de
que tudo voltou a estar bem.
Pouco antes de a crise de 1997
irromper, um estudo do Banco
Mundial elogiava o "milagre"
econômico do leste asiático
(ainda que, em nome da justiça,
seja preciso apontar que o mais
recente estudo identifica certos problemas e desafios). Os
executivos de investimento internacionais mantiveram a fé
na região até que fosse tarde
demais.
Forma melhor
Por isso, será que o otimismo
atual tem melhores fundamentos? À primeira vista, a recuperação da região parece impressionante. O crescimento anual
médio de 7% desde 2000 restaurou as rendas nominais pelo
menos aos níveis anteriores à
crise, em termos de dólares. O
investimento interno na região
cresceu. Os sistemas bancários
devastados foram reconstruídos, os balanços, saneados, e a
capacidade excedente, reduzida, enquanto imensas reservas
cambiais substituíram a ruinosa dependência de créditos de
curto prazo obtidos no mercado internacional. Em termos financeiros, o leste asiático está
em forma muito melhor do que
há dez anos.
As grandes questões giram
em torno do crescimento. Se
excluirmos a China, o quadro
parece menos róseo. O Banco
de Desenvolvimento Asiático
estima que os demais países em
desenvolvimento da região
cresceram em média 4,9% ao
ano entre 2000 e 2006, ante a
média de 7,4% para o período
1990/6. Indonésia, Filipinas e
Taiwan, no passado vibrantes
tigres econômicos, não conseguiram sequer manter essa média. Evidentemente, parte do
crescimento tórrido no período
imediatamente anterior à crise
representava apenas superaquecimento. Mas, dado o entusiasmo excessivo quanto à "ascensão asiática", o desempenho recente continua a parecer
quase anêmico. A questão relevante não é determinar como o
leste asiático conseguiu se recuperar, mas sim por que não
conseguiu apresentar desempenho melhor.
Investimento
O principal fator negativo é o
investimento insuficiente em
quase todos os países -excetuada a China, cujo problema é
o oposto. Jonathan Anderson,
da UBS, afirma que, mesmo que
incluamos China e Índia, a participação do investimento no
PIB (Produto Interno Bruto)
asiático está em seu mais baixo
patamar dos últimos 40 anos,
com as elevações limitadas a
atividades relacionadas à exportação. O investimento doméstico, acima de tudo no setor
de construção civil, continua
deprimido. Isso, somado às taxas de câmbio artificialmente
baixas, significa que a região
continua a investir larga proporção de sua vultosa poupança no exterior.
O argumento de que a região
está eliminado o excesso de investimento do passado já não
parece tão convincente. Na verdade, a necessidade de dispêndios internos em larga escala
jamais foi mais urgente. O Banco de Desenvolvimento Asiático calcula que o desenvolvimento do continente requeria
US$ 3 trilhões em investimento no setor de infra-estrutura
básica nos próximos dez anos,
para manter o crescimento. No
entanto, excetuada a China,
poucos países estão realizando
os esforços necessários. Para
uma região muitas vezes elogiada como propulsor de crescimento mundial, a maior parte
da Ásia parece curiosamente
relutante em apostar em si
mesma.
Lições erradas
Uma razão importante é o fato de que os governos extraíram as lições erradas da crise.
Memórias amargas de abandono pelas instituição internacionais ou de tratamento prepotente pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) criaram
uma desesperada determinação quanto a evitar destino semelhante, no futuro. O resultado são políticas avessas a riscos
e uma ortodoxia fiscal ainda
mais severa do que aquela que o
FMI hoje defende.
O medo de que déficits orçamentários crescentes venham
a ser punidos imediatamente
pelos mercados é causa de limitação no investimento em infra-estrutura. Mas essas ansiedades parecem errôneas. Os
mercados estão menos preocupados com o risco de uma alta
no nível de captação governamental do que com a falta de
confiança de que o dinheiro será gasto de maneira produtiva.
O entusiasmo inicial por esquemas que envolveriam capital privado desapareceu, devido
ao fracasso de alguns projetos.
A incapacidade de desenvolver
estruturas regulatórias sólidas
ou mercados locais de títulos
com profundidade suficiente
para atenuar o risco de longo
prazo servem para conter o interesse dos investidores. Na Indonésia e em outros países, a
ação dos governos está paralisada por burocracias rígidas e
obstrutivas. Além disso, como
argumenta vigorosamente o
mais recente relatório do Banco Mundial, a corrupção continua fora de controle em toda a
região.
Instituições robustas
Muitas dessas deficiências
levarão anos para serem corrigidas e exigirão instituições robustas, com raízes sólidas na
cultura política. Mas os esforços asiáticos continuam a ser
hesitantes e ocasionais. Não só
o ritmo de reformas para abertura de mercados se reduziu, à
medida que as lembranças da
crise se dissipam, como em
muitos países as reformas cujo
objetivo seria melhorar a governança e a eficiência do setor
público ainda nem começaram.
Até que o façam, as economias
da região continuarão a apresentar desempenho inferior ao
seu potencial.
Manter a inércia não é receita para nova crise ao estilo de
1997, mas representa, sim, uma
oportunidade perdida. A recuperação do leste asiático foi beneficiada pelo ambiente internacional incomumente benigno que então prevalecia. A economia mundial sobreviveu a diversos revezes, graças às políticas expansionistas dos Estados
Unidos e à abundante liquidez
mundial. Eram condições quase ideais para a promoção de reformas difíceis. O momento,
porém, não foi aproveitado como devia.
Tempos difíceis
Uma desaceleração na economia norte-americana causada pela queda do mercado de
habitação poderia sinalizar
tempos difíceis à frente. A despeito da rápida expansão do comércio na região, o leste asiático continua a depender pesadamente dos mercados finais de
exportação no Ocidente, para
manter suas fábricas em operação e seus lucros em alta. Até
que a região crie fundações
mais firmes e amplas para seu
crescimento, falar de um renascimento econômico ou de tigres enfim libertados da jaula e
prontos a rugir outra vez soa
prematuro.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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