São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Grupo menciona notas frias e etiquetas falsas

Objetivo é "fazer de conta", mostra transcrição de diálogo

DA REPORTAGEM LOCAL

É em diálogos mantidos entre funcionários de diferentes empresas, todas ligadas à Cisco do Brasil, que a Polícia Federal acredita ter rastreado o suposto esquema de fraude.
Nas conversas, os funcionários falam no uso de notas frias e etiquetas falsas para simular a industrialização de um produto que, na verdade, era importado dos EUA. A estratégia, informa a PF, ajudou a reduzir consideravelmente a incidência de impostos sobre as mercadorias.
Num dos diálogos, segundo a PF, Patrícia Saviolli Folchito, funcionária da Mude, explica a Leandro Marques da Silva, da importadora What's Up, que o objetivo é "fazer de conta" que existe uma industrialização.
A importância da conversa, informa a PF, está na identidade dessas empresas.
A Mude se apresenta como distribuidora de produtos eletrônicos, mas, na verdade, diz a polícia, é a real importadora, e quem dá a palavra final na empresa é o fundador da Cisco do Brasil, Carlos Carnevali.
Ainda segundo a PF, a What's Up está registrada em nome de "laranjas" e foi criada pela Mude para fraudar as importações.
Uma terceira empresa, a Waytec, sediada em Ilhéus (BA), tem como meta simular a industrialização de mercadorias e, com isso, garantir uma tributação mais baixa, diz a PF.

"Luís, inventa"
Num diálogo, o funcionário Everaldo Batista Silva, da What's Up, assessoria em comércio exterior, relata a dificuldade enfrentada por um colega para "industrializar" uma mercadoria que já estava até embalada.
O colega, disse Silva, não poderia simplesmente colocar uma etiqueta no produto, teria de justificar a embalagem. "Eu dei uma sugestão para ele: "Não tem como você pintar a caixa, colocar alguma coisa de diferente na caixa de madeira?"."
Na Waytec, Moisés Aleixo Nunes também reclamou da caixa.
"Mandaram os equipamentos errados, não é para mandar aquilo... Como é que ia industrializar aquilo? Tinha uma caixa de madeira", disse Nunes, que prossegue: "Mandamos emitir nota dizendo que nós fizemos a caixa".
Nunes repete: "Como é que eu ia industrializar um negócio de dois metros de altura que custa US$ 700 mil? Aí não tinha jeito, não tinha jeito de fazer nada. Aí eu falei: "Luís, inventa. Faz qualquer coisa'".
Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, a Cisco e a Mude criaram pelo menos 14 empresas de fachada que importavam produtos subfaturados e simulam a industrialização. O objetivo central, informa a polícia, era "blindar" a verdadeira beneficiária, a Cisco, representada por seus dirigentes.
A PF relatou à Justiça Federal que a Cisco e a Mude, "embora não aparecendo formalmente perante as autoridades aduaneiras nos procedimentos de importação de produtos Cisco, controlam todo o fluxo da importação, desde o fechamento da encomenda até a entrega do produto ao cliente final".
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)


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