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Medo de apagão turbina o mercado de usinas privadas
Pequenas geradoras de energia atraem empresas, fundos e investidores individuais
Financiamentos do BNDES
crescem mais de 800%
em três anos; fundos vão
aplicar mais de US$ 2 bi em
usinas de pequeno porte
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
O medo de um novo apagão
elétrico e do aumento excessivo nas tarifas de energia tem
feito com que um número cada
vez maior de empresas, fundos
e investidores individuais entre
na área de PCHs (pequenas
centrais hidrelétricas).
Na lista, figuram nomes como os do ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando
Furlan, da família Szajman, da
Klabin Papel e Celulose, do frigorífico Bertin e das gestoras de
recursos Pátria e Brascan.
"Todas as semanas entram
novos projetos de financiamento no banco", afirma Alan
Fischler, chefe do Departamento de Infra-estrutura do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social). "São grupos empresariais e fundos de investimento
nacionais e estrangeiros querendo trabalhar com energia
limpa."
A demanda pode ser medida
pelo valor dos empréstimos
concedidos pelo banco, que
passou de R$ 82 milhões em
2003 para R$ 782,2 milhões em
2006. Neste ano, o banco já emprestou R$ 606 milhões até
agosto para PCHs, que, por definição, são as centrais com até
30 MW de potência.
"O alto custo da energia deixou de ser um diferencial para
se tornar uma ameaça à nossa
competitividade internacional", diz José Oscival dos Santos, assessor de meio ambiente
e energia da Klabin. "Temos
hoje sérias preocupações como
fornecimento de energia."
Para a maioria dos empresários ouvidos, se não houver investimentos pesados em geração, a expectativa é que falte
energia na virada da década.
Por isso, a Klabin, que produz
metade da energia consumida
em suas fábricas, investiu R$
200 milhões em melhoria de
turbinas e caldeiras. "Também
estamos buscando oportunidades para adquirir usinas tradicionais e PCHs", diz Santos.
Empresa com maior número
de PCHs, a Cemig vai aumentar
a potência de suas usinas, substituindo turbinas, geradores e
fazendo reformas. Já a americana Duke Energy voltou a investir no país, ao comprar recentemente duas PCHs.
Mesmo quem não é do ramo
se preocupa com o tema. Praticamente todas as grandes consumidoras têm dedicado grandes investimentos em auto-geração (leia texto abaixo).
Certeza do apagão
"As empresas não têm medo
da falta de energia: elas têm
certeza", diz José Sérgio de Oliveira Andrade, diretor da consultoria CndPCH (Centro Nacional de Desenvolvimento em
PCH). "Ninguém duvida que
faltará energia em dois ou três
anos. A pergunta é se a falta será maior ou menor."
De acordo com Goret Pereira
Paulo, coordenadora do Núcleo
de Energia da FGV-Projetos, a
oferta teria de aumentar de 1,2
a 1,3 ponto percentual acima do
crescimento do PIB para não
haver falta de energia. Não é o
que vem acontecendo. "Desde
2001, a oferta cresce em ritmo
menor do que o esperado", diz
ela. "Não houve grandes investimentos em aumento da capacidade, e as áreas leiloadas foram poucas."
De olho nesse mercado, alguns gestores de recursos têm
montado operações para investir em geração de energia. O
grupo Brascan criou a Brascan
Energética S.A. (Besa) e o Pátria Investimentos fundou a
Energias Renováveis S.A. (Ersa). A Besa administra 15 PCHs
e tem mais quatro em construção. Já a Ersa comprou, há dois
meses, 12 projetos de PCHs do
grupo Opportunity.
"Tão logo o quadro regulatório do setor se confirmou, os investidores passaram a se sentir
confiantes para entrar na área",
afirma Octávio Castello Branco, presidente da Ersa.
Segundo ele, a Ersa optou por
investir em PCHs porque, apesar de esse tipo de energia ser
mais caro do que o das grandes
centrais hidrelétricas, as licenças de operação saem mais facilmente devido ao pequeno
impacto ambiental. As interferências políticas também são
menores e, por isso, as obras
andam com mais facilidade.
No longo prazo, a Ersa pretende diversificar a produção e
fazer com que de 50% a 60% da
energia vendida seja gerada por
PCHs, de 20% a 30% por biomassa e 10% de outras fontes,
como eólica ou gás metano, de
aterros sanitários.
Hoje, a Ersa tem 77 MW de
autorizações e licenças em
PCHs. Detalhe: 95% da produção, antes mesmo de as usinas
estarem construídas, já está
vendida. Sua meta é ter capacidade de geração de 600 MW em
cinco anos. Para isso, pretende
investir R$ 2 bilhões.
De olho nesse mercado, a
WEG acaba de comprar a fabricante de turbinas Hisa, especializada em equipamentos para PCHs. "As vendas nessa área só tendem a aumentar", diz Roberto Bauer, diretor da unidade
de energia da WEG.
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