São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Medo de apagão turbina o mercado de usinas privadas

Pequenas geradoras de energia atraem empresas, fundos e investidores individuais

Financiamentos do BNDES crescem mais de 800% em três anos; fundos vão aplicar mais de US$ 2 bi em usinas de pequeno porte

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O medo de um novo apagão elétrico e do aumento excessivo nas tarifas de energia tem feito com que um número cada vez maior de empresas, fundos e investidores individuais entre na área de PCHs (pequenas centrais hidrelétricas).
Na lista, figuram nomes como os do ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, da família Szajman, da Klabin Papel e Celulose, do frigorífico Bertin e das gestoras de recursos Pátria e Brascan.
"Todas as semanas entram novos projetos de financiamento no banco", afirma Alan Fischler, chefe do Departamento de Infra-estrutura do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). "São grupos empresariais e fundos de investimento nacionais e estrangeiros querendo trabalhar com energia limpa."
A demanda pode ser medida pelo valor dos empréstimos concedidos pelo banco, que passou de R$ 82 milhões em 2003 para R$ 782,2 milhões em 2006. Neste ano, o banco já emprestou R$ 606 milhões até agosto para PCHs, que, por definição, são as centrais com até 30 MW de potência.
"O alto custo da energia deixou de ser um diferencial para se tornar uma ameaça à nossa competitividade internacional", diz José Oscival dos Santos, assessor de meio ambiente e energia da Klabin. "Temos hoje sérias preocupações como fornecimento de energia."
Para a maioria dos empresários ouvidos, se não houver investimentos pesados em geração, a expectativa é que falte energia na virada da década. Por isso, a Klabin, que produz metade da energia consumida em suas fábricas, investiu R$ 200 milhões em melhoria de turbinas e caldeiras. "Também estamos buscando oportunidades para adquirir usinas tradicionais e PCHs", diz Santos.
Empresa com maior número de PCHs, a Cemig vai aumentar a potência de suas usinas, substituindo turbinas, geradores e fazendo reformas. Já a americana Duke Energy voltou a investir no país, ao comprar recentemente duas PCHs.
Mesmo quem não é do ramo se preocupa com o tema. Praticamente todas as grandes consumidoras têm dedicado grandes investimentos em auto-geração (leia texto abaixo).

Certeza do apagão
"As empresas não têm medo da falta de energia: elas têm certeza", diz José Sérgio de Oliveira Andrade, diretor da consultoria CndPCH (Centro Nacional de Desenvolvimento em PCH). "Ninguém duvida que faltará energia em dois ou três anos. A pergunta é se a falta será maior ou menor."
De acordo com Goret Pereira Paulo, coordenadora do Núcleo de Energia da FGV-Projetos, a oferta teria de aumentar de 1,2 a 1,3 ponto percentual acima do crescimento do PIB para não haver falta de energia. Não é o que vem acontecendo. "Desde 2001, a oferta cresce em ritmo menor do que o esperado", diz ela. "Não houve grandes investimentos em aumento da capacidade, e as áreas leiloadas foram poucas."
De olho nesse mercado, alguns gestores de recursos têm montado operações para investir em geração de energia. O grupo Brascan criou a Brascan Energética S.A. (Besa) e o Pátria Investimentos fundou a Energias Renováveis S.A. (Ersa). A Besa administra 15 PCHs e tem mais quatro em construção. Já a Ersa comprou, há dois meses, 12 projetos de PCHs do grupo Opportunity.
"Tão logo o quadro regulatório do setor se confirmou, os investidores passaram a se sentir confiantes para entrar na área", afirma Octávio Castello Branco, presidente da Ersa.
Segundo ele, a Ersa optou por investir em PCHs porque, apesar de esse tipo de energia ser mais caro do que o das grandes centrais hidrelétricas, as licenças de operação saem mais facilmente devido ao pequeno impacto ambiental. As interferências políticas também são menores e, por isso, as obras andam com mais facilidade.
No longo prazo, a Ersa pretende diversificar a produção e fazer com que de 50% a 60% da energia vendida seja gerada por PCHs, de 20% a 30% por biomassa e 10% de outras fontes, como eólica ou gás metano, de aterros sanitários.
Hoje, a Ersa tem 77 MW de autorizações e licenças em PCHs. Detalhe: 95% da produção, antes mesmo de as usinas estarem construídas, já está vendida. Sua meta é ter capacidade de geração de 600 MW em cinco anos. Para isso, pretende investir R$ 2 bilhões.
De olho nesse mercado, a WEG acaba de comprar a fabricante de turbinas Hisa, especializada em equipamentos para PCHs. "As vendas nessa área só tendem a aumentar", diz Roberto Bauer, diretor da unidade de energia da WEG.


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