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Depender de combustível natural traz risco, vê físico
Para norte-americano, biocombustíveis não vão garantir suprimento mundial
Especialista critica aposta em só uma fonte de energia e diz que vivemos um "apartheid nuclear", em que poucos países detêm a tecnologia
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Depender majoritariamente
de biocombustíveis, como o álcool produzido a partir da cana-de-açúcar, não é a solução
ideal para garantir o suprimento de energia, afirma o físico
americano Jonathan Tennenbaum, 56. Entre os aspectos negativos, ele destaca a queima da
biomassa e o padrão de vida dos
trabalhadores do setor.
"Não sou contra os biocombustíveis, mas creio que não há
lógica em depender apenas deles em um mundo que conta
com outras fontes de energia."
Tennenbaum esteve no Brasil na semana passada para participar do Inac (Conferência
Internacional Atlântica Nuclear, na sigla em inglês) e para
lançar o livro "A Economia dos
Isótopos". Ele é doutor em matemática e ocupou o cargo de
diretor da Fundação para a
Energia de Fusão de Wiesbaden, na Alemanha.
Na visão do físico, o mundo
vive hoje um "apartheid nuclear", em que poucos países
concentram conhecimento e
tecnologia. Mais do que uma divisão entre nações, Tennenbaum afirma que há divisões
dentro de cada país, onde a
maioria da sociedade vive à
margem da ciência e uma minoria detém conhecimento.
"Cresci na era do programa
espacial e era muito excitante
saber que o homem poderia finalmente pisar na Lua. Foi isso
que me levou a estudar a ciência. É um problema de educação e de vontade dos governos."
A tese defendida por Tennenbaum em seu último livro é
que vivemos no século da energia nuclear, não apenas nas formas como ela é explorada hoje,
mas também sob novas formas
que prometem expandir a aplicação dessa fonte de energia.
"A economia dos isótopos é a
segunda parte da grande revolução na tecnologia e na ciência
que começou há cerca de 100
anos com a descoberta da radioatividade e há 50 anos com a
energia nuclear. Nossa sociedade opera com elementos químicos, como oxigênio e hidrogênio, mas depois da descoberta
da radioatividade, descobrimos
que há muito mais a utilizar."
Segundo ele, a nova etapa da
energia nuclear prevê o uso de
cerca de mil isótopos diferentes, muitos produzidos artificialmente. Isótopos são elementos químicos de um mesmo número atômico, mas de diferentes massas. Na prática, a
mudança significaria uma nova
extensão de tipos de materiais
usados na economia.
Tennenbaum diz que a medicina é uma das primeiras áreas
em transição para essa nova fase, principalmente em diagnósticos, com exames como o de
ressonância magnética.
O renascimento da energia
nuclear desta vez está ocorrendo via países em desenvolvimento. "O centro de gravidade
do mundo está se deslocando
para a Ásia, onde estão localizados muitos países em desenvolvimento." Ele destaca os programas de países como China,
Índia, África do Sul, Argentina,
Brasil, Rússia. Fora do eixo de
países em desenvolvimento, ele
cita os Estados Unidos.
O cientista rechaça até mesmo o risco de problemas na exploração da energia nuclear em
países como o Irã. "O problema
com o Irã é político. Já foi dito
em jornais americanos que o vice-presidente está em busca de
um pretexto para declarar
guerra [contra o Irã]. Temos de
aprender a viver em paz no
mundo, mas essa paz não pode
vir do fato de determinados
países serem proibidos de ter
acesso à tecnologia."
Sobre os rejeitos nucleares,
Tennenbaum é taxativo. "Toda
nova solução cria problemas,
não fomos dotados de cérebro
apenas para nos preocuparmos
com as coisas, mas também para acharmos soluções."
Para ele, os ambientalistas
exercem o papel de combatentes políticos, apesar de reconhecer que muitos agem motivados por preocupações legítimas sobre os efeitos causados
ao ambiente. "Na medicina,
convivemos com elementos perigosos como o mercúrio há
anos. É mais fácil dizer não do
que pensar em como melhorar
o processo."
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