São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Depender de combustível natural traz risco, vê físico

Para norte-americano, biocombustíveis não vão garantir suprimento mundial

Especialista critica aposta em só uma fonte de energia e diz que vivemos um "apartheid nuclear", em que poucos países detêm a tecnologia

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Depender majoritariamente de biocombustíveis, como o álcool produzido a partir da cana-de-açúcar, não é a solução ideal para garantir o suprimento de energia, afirma o físico americano Jonathan Tennenbaum, 56. Entre os aspectos negativos, ele destaca a queima da biomassa e o padrão de vida dos trabalhadores do setor.
"Não sou contra os biocombustíveis, mas creio que não há lógica em depender apenas deles em um mundo que conta com outras fontes de energia."
Tennenbaum esteve no Brasil na semana passada para participar do Inac (Conferência Internacional Atlântica Nuclear, na sigla em inglês) e para lançar o livro "A Economia dos Isótopos". Ele é doutor em matemática e ocupou o cargo de diretor da Fundação para a Energia de Fusão de Wiesbaden, na Alemanha.
Na visão do físico, o mundo vive hoje um "apartheid nuclear", em que poucos países concentram conhecimento e tecnologia. Mais do que uma divisão entre nações, Tennenbaum afirma que há divisões dentro de cada país, onde a maioria da sociedade vive à margem da ciência e uma minoria detém conhecimento.
"Cresci na era do programa espacial e era muito excitante saber que o homem poderia finalmente pisar na Lua. Foi isso que me levou a estudar a ciência. É um problema de educação e de vontade dos governos."
A tese defendida por Tennenbaum em seu último livro é que vivemos no século da energia nuclear, não apenas nas formas como ela é explorada hoje, mas também sob novas formas que prometem expandir a aplicação dessa fonte de energia.
"A economia dos isótopos é a segunda parte da grande revolução na tecnologia e na ciência que começou há cerca de 100 anos com a descoberta da radioatividade e há 50 anos com a energia nuclear. Nossa sociedade opera com elementos químicos, como oxigênio e hidrogênio, mas depois da descoberta da radioatividade, descobrimos que há muito mais a utilizar."
Segundo ele, a nova etapa da energia nuclear prevê o uso de cerca de mil isótopos diferentes, muitos produzidos artificialmente. Isótopos são elementos químicos de um mesmo número atômico, mas de diferentes massas. Na prática, a mudança significaria uma nova extensão de tipos de materiais usados na economia.
Tennenbaum diz que a medicina é uma das primeiras áreas em transição para essa nova fase, principalmente em diagnósticos, com exames como o de ressonância magnética.
O renascimento da energia nuclear desta vez está ocorrendo via países em desenvolvimento. "O centro de gravidade do mundo está se deslocando para a Ásia, onde estão localizados muitos países em desenvolvimento." Ele destaca os programas de países como China, Índia, África do Sul, Argentina, Brasil, Rússia. Fora do eixo de países em desenvolvimento, ele cita os Estados Unidos.
O cientista rechaça até mesmo o risco de problemas na exploração da energia nuclear em países como o Irã. "O problema com o Irã é político. Já foi dito em jornais americanos que o vice-presidente está em busca de um pretexto para declarar guerra [contra o Irã]. Temos de aprender a viver em paz no mundo, mas essa paz não pode vir do fato de determinados países serem proibidos de ter acesso à tecnologia."
Sobre os rejeitos nucleares, Tennenbaum é taxativo. "Toda nova solução cria problemas, não fomos dotados de cérebro apenas para nos preocuparmos com as coisas, mas também para acharmos soluções."
Para ele, os ambientalistas exercem o papel de combatentes políticos, apesar de reconhecer que muitos agem motivados por preocupações legítimas sobre os efeitos causados ao ambiente. "Na medicina, convivemos com elementos perigosos como o mercúrio há anos. É mais fácil dizer não do que pensar em como melhorar o processo."


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