São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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IOF ameaça Bolsa e lançamento de ações

Taxação de capital externo dificultará financiamento do país no momento em que grandes obras requerem capital, dizem entidades

Segundo analista, as empresas mais prejudicadas serão as de menor porte que pretendam captar recursos só na Bolsa brasileira


TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A taxação via IOF de 2% para investidores estrangeiros em renda variável ameaça a captação de empresas brasileiras no mercado de capitais e diminui a competitividade da BM&FBovespa nos negócios com ações no Brasil, que tendem a migrar para a Bolsa de Nova York.
Para o presidente-executivo da BM&FBovespa, Edemir Pinto, o imposto cria um "pedágio" alto, estimula o estrangeiro a negociar papéis brasileiros no exterior e pode fazer um "estrago" semelhante ao da extinta CPMF, que era de 0,38% e segurou o mercado no período de menor abundância de capitais.
O mercado brasileiro é visto como um dos mais dinâmicos do mundo. As aberturas de capital e oferta de ações somaram R$ 37 bilhões só em 2009, sendo que 65% dos recursos vieram de estrangeiros. Esse investidor terá agora de somar 2% -correspondente a um ano do retorno da renda fixa nos EUA e Europa- a qualquer perspectiva de ganho no país.
A medida levou sete entidades do mercado de capitais -Abrapp (associação dos fundos de pensão), Abrasca (empresas abertas), ABVCap (capital de risco), Anbid (bancos de investimento), Andima (instituições do mercado) Amec (minoritários) e a própria Bolsa- a rechaçarem a tributação, afirmando que ela reduzirá a capacidade de financiamento do país num momento em que grandes obras necessitam de capital. "[A medida] Reduz a capacidade do mercado de capitais brasileiro de exercer seu papel mais fundamental, o de financiar o desenvolvimento."
O Ibovespa chegou ontem a cair mais de 4% e terminou o dia com baixa de 2,88%. Só a BM&FBovespa perdeu R$ 2,3 bilhões em valor de mercado, após queda de 8,41% nas ações.
Na avaliação do Itaú BBA, banco de investimentos do Itaú Unibanco, o IOF punirá as empresas de menor porte que pretendam captar recursos na Bolsa, mas não tenham acesso ao mercado externo, como o Banco Santander, que lançou papéis simultaneamente no Brasil e no exterior. "Para evitar a taxação, grandes empresas podem ser levadas a captar no mercado internacional. O impacto deve recair sobre as pequenas e médias empresas. Devemos observar uma diminuição -ou crescimento menor- de fundos para empresas menores que pretendiam fazer captações por IPOs."
Para Eduardo Rocha Azevedo, fundador da antiga BM&F e ex-presidente da Bovespa, o investidor estrangeiro de grande porte preferirá comprar ações brasileiras em Nova York, onde consegue negociar grandes lotes com custos médios menores do que no Brasil. "O governo não tem a menor sensibilidade para o mercado de capitais. Se taxa em 2%, o pessoal [estrangeiro] vende ação aqui e vai negociar fora, que não tem imposto. As empresas, em vez de abrir o capital aqui, vão fazer em Nova York. O Banco do Brasil está querendo lançar ações em Nova York. É um banco brasileiro, do governo, que busca fortalecer o país, mas que vai colocar ações em Nova York. Foi uma medida pífia, que não vai fazer com que o dólar suba."
Hoje, 33 empresas brasileiras têm seus papéis negociados nos EUA. Segundo a consultoria Economática, 60,3% dos negócios com esses papéis se dão em Nova York e só o restante no Brasil. No caso das ações ON (com direito a voto) da Petrobras, a Bolsa de Nova York concentra hoje 91,5% dos negócios.
Para Rodrigo Pasin, especialista em IPO da Value Consultoria, o IOF não chega a inviabilizar a entrada dos estrangeiros nas captações, mas se tornou um fator relevante. "Atrapalha mais no curto prazo", disse.
Para Cameron Brandt, analista da consultoria EPFR Global, que mapeia os movimentos internacionais dos fundos de investimento, a taxação contribuirá para diminuir o interesse pelo Brasil depois de alguns meses. "Pela nossa experiência, as nações que adotam algum tipo de controle de capital acabam sofrendo, especialmente quando há alguma crise interna ou externa", afirma. "Além disso, as mudanças repentinas de ideia do governo quanto às regras também prejudicam um pouco a reputação do país."
Já José Costa Buck, da T. Rowe Price, uma das maiores administradoras de recursos dos EUA, diz que a medida terá um impacto pequeno na atratividade do Brasil aos olhos dos estrangeiros. "Pensando no longo prazo, 2% é pouco em vista dos ganhos que o país oferece."


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