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IOF ameaça Bolsa e lançamento de ações
Taxação de capital externo dificultará financiamento do país no momento em que grandes obras requerem capital, dizem entidades
Segundo analista, as empresas mais prejudicadas serão as de menor porte que pretendam captar recursos só na Bolsa brasileira
TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
A taxação via IOF de 2% para
investidores estrangeiros em
renda variável ameaça a captação de empresas brasileiras no
mercado de capitais e diminui a
competitividade da BM&FBovespa nos negócios com ações
no Brasil, que tendem a migrar
para a Bolsa de Nova York.
Para o presidente-executivo
da BM&FBovespa, Edemir
Pinto, o imposto cria um "pedágio" alto, estimula o estrangeiro a negociar papéis brasileiros
no exterior e pode fazer um "estrago" semelhante ao da extinta CPMF, que era de 0,38% e
segurou o mercado no período
de menor abundância de capitais.
O mercado brasileiro é visto
como um dos mais dinâmicos
do mundo. As aberturas de capital e oferta de ações somaram
R$ 37 bilhões só em 2009, sendo que 65% dos recursos vieram de estrangeiros. Esse investidor terá agora de somar
2% -correspondente a um ano
do retorno da renda fixa nos
EUA e Europa- a qualquer
perspectiva de ganho no país.
A medida levou sete entidades do mercado de capitais
-Abrapp (associação dos fundos de pensão), Abrasca (empresas abertas), ABVCap (capital de risco), Anbid (bancos de
investimento), Andima (instituições do mercado) Amec (minoritários) e a própria Bolsa- a
rechaçarem a tributação, afirmando que ela reduzirá a capacidade de financiamento do
país num momento em que
grandes obras necessitam de
capital. "[A medida] Reduz a capacidade do mercado de capitais brasileiro de exercer seu
papel mais fundamental, o de
financiar o desenvolvimento."
O Ibovespa chegou ontem a
cair mais de 4% e terminou o
dia com baixa de 2,88%. Só a
BM&FBovespa perdeu R$ 2,3
bilhões em valor de mercado,
após queda de 8,41% nas ações.
Na avaliação do Itaú BBA,
banco de investimentos do Itaú
Unibanco, o IOF punirá as empresas de menor porte que pretendam captar recursos na Bolsa, mas não tenham acesso ao
mercado externo, como o Banco Santander, que lançou papéis simultaneamente no Brasil e no exterior. "Para evitar a
taxação, grandes empresas podem ser levadas a captar no
mercado internacional. O impacto deve recair sobre as pequenas e médias empresas. Devemos observar uma diminuição -ou crescimento menor-
de fundos para empresas menores que pretendiam fazer
captações por IPOs."
Para Eduardo Rocha Azevedo, fundador da antiga BM&F e
ex-presidente da Bovespa, o investidor estrangeiro de grande
porte preferirá comprar ações
brasileiras em Nova York, onde
consegue negociar grandes lotes com custos médios menores do que no Brasil. "O governo não tem a menor sensibilidade para o mercado de capitais. Se taxa em 2%, o pessoal
[estrangeiro] vende ação aqui e
vai negociar fora, que não tem
imposto. As empresas, em vez
de abrir o capital aqui, vão fazer
em Nova York. O Banco do Brasil está querendo lançar ações
em Nova York. É um banco brasileiro, do governo, que busca
fortalecer o país, mas que vai
colocar ações em Nova York.
Foi uma medida pífia, que não
vai fazer com que o dólar suba."
Hoje, 33 empresas brasileiras têm seus papéis negociados
nos EUA. Segundo a consultoria Economática, 60,3% dos negócios com esses papéis se dão
em Nova York e só o restante
no Brasil. No caso das ações ON
(com direito a voto) da Petrobras, a Bolsa de Nova York concentra hoje 91,5% dos negócios.
Para Rodrigo Pasin, especialista em IPO da Value Consultoria, o IOF não chega a inviabilizar a entrada dos estrangeiros
nas captações, mas se tornou
um fator relevante. "Atrapalha
mais no curto prazo", disse.
Para Cameron Brandt, analista da consultoria EPFR Global, que mapeia os movimentos
internacionais dos fundos de
investimento, a taxação contribuirá para diminuir o interesse
pelo Brasil depois de alguns
meses. "Pela nossa experiência,
as nações que adotam algum tipo de controle de capital acabam sofrendo, especialmente
quando há alguma crise interna
ou externa", afirma. "Além disso, as mudanças repentinas de
ideia do governo quanto às regras também prejudicam um
pouco a reputação do país."
Já José Costa Buck, da T. Rowe Price, uma das maiores administradoras de recursos dos
EUA, diz que a medida terá um
impacto pequeno na atratividade do Brasil aos olhos dos estrangeiros. "Pensando no longo
prazo, 2% é pouco em vista dos
ganhos que o país oferece."
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