|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A TAXAÇÃO DO CAPITAL EXTERNO SERÁ EFICAZ?
SIM
Finalmente o governo Lula adota alguma ação
FERNANDO J. CARDIM DE CARVALHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O GOVERNO Lula finalmente decidiu-se a intervir na limitação da
entrada de capitais financeiros
no país, que estava levando o
dólar a níveis não apenas inimagináveis, mas também, e
principalmente, suicidas para a
economia brasileira. A reação
de analistas ligados ao setor financeiro não é de surpreender.
Alguns se referem a um "saco
de maldades" do governo. Maldades para quem?
A valorização excessiva do
real, que não parecia conhecer
limites, já está tendo efeitos visíveis sobre a pauta de exportações brasileiras e sobre o perfil
da indústria doméstica. O Brasil se transforma em exportador de produtos primários, como se o esforço de industrialização tivesse sido apenas um
hiato equivocado da história do
país. O pré-sal ainda vinha reforçar as expectativas daqueles
que imaginam a economia brasileira ideal com dois setores:
produção de matérias-primas
para exportação e bancos.
O dólar está se desvalorizando em todo o mundo, realmente, mas o real se valoriza ainda
mais e não apenas com relação
ao dólar. Há um óbvio excesso
de liquidez na economia internacional, resultado das medidas excepcionais de intervenção contra a crise financeira e
do temor das instituições financeiras em se comprometer
com qualquer iniciativa mais
arriscada ou investimento mais
durável. Nessas condições, a
perspectiva de ganho rápido e
fácil em mercados emergentes
tende a atrair aplicadores financeiros interessados em obter ganhos de capital e mover-se para a próxima oportunidade disponível. O impacto desses
fluxos de capital é enorme, fazendo subir as cotações da Bolsa, por exemplo, e alimentando
bolhas, porque o capital entrante, pequeno que é em relação aos mercados financeiros
internacionais, é muito grande
em relação ao mercado local.
A entrada de capitais se autoalimenta: fazendo subir as
cotações, atrai mais especuladores, que fazem as cotações
subirem ainda mais, e assim
por diante, até o colapso inevitável. E para quê?
A intervenção é correta e devia ter sido feita antes. Teria sido melhor uma alíquota maior
e escalonada com relação ao
tempo de permanência, mas
2% é bem melhor que nada.
FERNANDO CARDIM é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Texto Anterior: Falha sujeita aplicações antigas ao novo IOF Próximo Texto: Não: Acelerar investimento ou o aumento do juro? Índice
|