São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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A TAXAÇÃO DO CAPITAL EXTERNO SERÁ EFICAZ?

SIM

Finalmente o governo Lula adota alguma ação

FERNANDO J. CARDIM DE CARVALHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O GOVERNO Lula finalmente decidiu-se a intervir na limitação da entrada de capitais financeiros no país, que estava levando o dólar a níveis não apenas inimagináveis, mas também, e principalmente, suicidas para a economia brasileira. A reação de analistas ligados ao setor financeiro não é de surpreender.
Alguns se referem a um "saco de maldades" do governo. Maldades para quem? A valorização excessiva do real, que não parecia conhecer limites, já está tendo efeitos visíveis sobre a pauta de exportações brasileiras e sobre o perfil da indústria doméstica. O Brasil se transforma em exportador de produtos primários, como se o esforço de industrialização tivesse sido apenas um hiato equivocado da história do país. O pré-sal ainda vinha reforçar as expectativas daqueles que imaginam a economia brasileira ideal com dois setores: produção de matérias-primas para exportação e bancos.
O dólar está se desvalorizando em todo o mundo, realmente, mas o real se valoriza ainda mais e não apenas com relação ao dólar. Há um óbvio excesso de liquidez na economia internacional, resultado das medidas excepcionais de intervenção contra a crise financeira e do temor das instituições financeiras em se comprometer com qualquer iniciativa mais arriscada ou investimento mais durável. Nessas condições, a perspectiva de ganho rápido e fácil em mercados emergentes tende a atrair aplicadores financeiros interessados em obter ganhos de capital e mover-se para a próxima oportunidade disponível. O impacto desses fluxos de capital é enorme, fazendo subir as cotações da Bolsa, por exemplo, e alimentando bolhas, porque o capital entrante, pequeno que é em relação aos mercados financeiros internacionais, é muito grande em relação ao mercado local.
A entrada de capitais se autoalimenta: fazendo subir as cotações, atrai mais especuladores, que fazem as cotações subirem ainda mais, e assim por diante, até o colapso inevitável. E para quê?
A intervenção é correta e devia ter sido feita antes. Teria sido melhor uma alíquota maior e escalonada com relação ao tempo de permanência, mas 2% é bem melhor que nada.


FERNANDO CARDIM é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)



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