São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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Bancos nacionais abriram caminho para os espanhóis

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Posto do Santander em frente da agência central do Banespa, na rua Boavista, centro de SP


VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O Bradesco poderia ter ido muito além dos R$ 1,86 bilhão que ofereceu ontem pelo Banespa. Mas desistiu de brigar segundos antes de encerrar o prazo para entrega das propostas ao leiloeiro.
A senha para essa repentina decisão foi a desistência do Itaú, que virou o leilão do Banespa do avesso, fazendo com que os concorrentes nacionais, Bradesco e Unibanco, baixassem suas ofertas.
Isso talvez explique porque o Santander disparou na frente, com um preço tão distante dos demais. Talvez os espanhóis não tenham lido os mesmos sinais que estavam tão evidentes para os brasileiros. Caso contrário, poderiam ter levado o Banespa do mesmo jeito, porém desembolsando bem menos: R$ 2,6 bilhões seriam suficientes para arrematar o banco sem disputá-lo lance a lance com o Unibanco, que ofereceu R$ 2,1 bilhões.
A retirada do Itaú vinha se desenhando nas últimas semanas, mas foi sedimentada no final da tarde de sexta-feira, durante a reunião do conselho de administração do banco. Ali ficou decidido: o Itaú não partiria para uma guerra de preço com o Bradesco. No início da mesma noite, o Banco Central foi informado da retirada silenciosa.
Para o Bradesco, a única coisa que estava em jogo no leilão era defender sua liderança no ranking de bancos privados, que era ameaçada pelo Itaú. Com o segundo do ranking fora, a proposta entregue foi "só para cumprir tabela", segundo um executivo do banco.
No domingo, a cúpula do Bradesco reuniu-se por mais de duas horas para decidir até onde o banco iria no leilão. Houve quem opinasse por ofertas superiores a R$ 10 bilhões.
A decisão final, tomada de maneira reservada, coube ao presidente do conselho, Lázaro Brandão, e ao presidente do banco, Márcio Cypriano.
Nos envelopes que levou ao pregão, o Bradesco não foi tão agressivo. Mas, se a disputa fosse levada ao pregão viva-voz e o Itaú estivesse adversário fosse o Itaú, o preço do Banespa teria subido ainda mais.
Para o Unibanco, a saída do Itaú teve impacto semelhante. Ao perceber que os líderes do ranking não se digladiariam pela primeira posição, o banco dos Moreira Salles também decidiu entregar uma proposta menor.
Os sinais de que o Itaú não compareceria estavam claros, já que nenhum representante havia se apresentado à Bolsa sequer para retirar credenciais. Mas o Unibanco obteve a confirmação do próprio Itaú na manhã de ontem. Por isso foi o primeiro a entregar o envelope.
De qualquer forma, a oferta do Unibanco jamais teria chegado na mesma faixa daquela feita pelo Santander. O máximo que o banco teria feito seria ofertar algumas centenas de milhões a mais.
""A presença do Itaú, é claro, daria uma ênfase maior ao nosso apetite na hora de fazer o lance", admitiu o diretor-executivo do Bradesco, Sérgio de Oliveira, ao deixar o prédio da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, onde o leilão foi realizado.
O Bradesco esperou até os cinco segundos finais -quando teve certeza de que o Itaú estava mesmo fora do leilão- para entregar seu envelope ao leiloeiro.
""O Santander, comprando o Banespa, não tirou a liderança do Bradesco", prosseguiu o executivo, para, mais adiante, afirmar que ainda que o Itaú entrasse na disputa, o Bradesco não chegaria ao preço ofertado pelos espanhóis.
Sérgio de Oliveira disse que os R$ 7,050 bilhões pagos pelo Santander estavam muito acima do limite do Bradesco, mas foram um preço justo para o Santander entrar no mercado.
""Quanto custa 1% do mercado brasileiro? É esta a conta que deve ser feita. Do ponto de vista dele (o Santander), foi uma avaliação correta (...). A gente não tinha apetite para um ágio de 100%, 200% no leilão. Se nós estivéssemos com apetite, seria para um ágio de 20% a 30%", acrescentou.
Segundo o diretor, o Bradesco ""agiu corretamente" ao não entrar em uma disputa efetiva pelo Banespa, pois ele ficaria com 199 agências superpostas no Estado de São Paulo. O fechamento destas agências, na avaliação do executivo, seria um desgaste político muito grande.
Ele disse que o banco está bem posicionado no mercado de São Paulo e deve disputar as privatizações do Besc (Banco Estado de Santa Catarina) e o Banrisul, do Rio Grande do Sul.
Com a compra do Banespa pelo Santander, o Unibanco perdeu para os espanhóis a terceira colocação no ranking dos bancos privados. O diretor de Investimentos da instituição, Cláudio Coracini, que comandou a ação do Unibanco no leilão, afirma que foi a melhor opção para os acionistas.
""O ranking não é importante. O importante é fazermos bons investimentos, onde os acionistas tenham ganhos. Com um valor desses, nossos acionistas fariam um mau negócio e seriam prejudicados", afirmou.
O diretor do Unibanco sequer admite que a instituição tenha perdido o terceiro no ranking para o Santander. ""Estamos empatados no terceiro lugar", declarou depois de encerrado o leilão.
Para Coracini, a proposta do Santander foi ""surpreendente" e o Unibanco não estava disposto a chegar a tal limite.
Indagado se os bancos brasileiros teriam subestimado o valor do Banespa, respondeu que o valor de um ativo é influenciado por muitos fatores. ""Nós consideramos que existiam alguns riscos que diminuíam o valor", acrescentou. Um dos riscos que o Unibanco levou em consideração ao formular sua proposta foi a possibilidade de os funcionários públicos do Estado optarem por ter seus salários depositados na Nossa Caixa.



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