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Bancos nacionais
abriram caminho
para os espanhóis
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
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Posto do Santander em frente da agência central do Banespa, na rua Boavista, centro de SP |
VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Bradesco poderia ter ido muito além dos R$ 1,86 bilhão que
ofereceu ontem pelo Banespa.
Mas desistiu de brigar segundos
antes de encerrar o prazo para entrega das propostas ao leiloeiro.
A senha para essa repentina decisão foi a desistência do Itaú, que
virou o leilão do Banespa do avesso, fazendo com que os concorrentes nacionais, Bradesco e Unibanco, baixassem suas ofertas.
Isso talvez explique porque o
Santander disparou na frente,
com um preço tão distante dos
demais. Talvez os espanhóis não
tenham lido os mesmos sinais que
estavam tão evidentes para os
brasileiros. Caso contrário, poderiam ter levado o Banespa do
mesmo jeito, porém desembolsando bem menos: R$ 2,6 bilhões
seriam suficientes para arrematar
o banco sem disputá-lo lance a
lance com o Unibanco, que ofereceu R$ 2,1 bilhões.
A retirada do Itaú vinha se desenhando nas últimas semanas,
mas foi sedimentada no final da
tarde de sexta-feira, durante a
reunião do conselho de administração do banco. Ali ficou decidido: o Itaú não partiria para uma
guerra de preço com o Bradesco.
No início da mesma noite, o Banco Central foi informado da retirada silenciosa.
Para o Bradesco, a única coisa
que estava em jogo no leilão era
defender sua liderança no ranking de bancos privados, que era
ameaçada pelo Itaú. Com o segundo do ranking fora, a proposta entregue foi "só para cumprir
tabela", segundo um executivo do
banco.
No domingo, a cúpula do Bradesco reuniu-se por mais de duas
horas para decidir até onde o banco iria no leilão. Houve quem opinasse por ofertas superiores a R$
10 bilhões.
A decisão final, tomada de maneira reservada, coube ao presidente do conselho, Lázaro Brandão, e ao presidente do banco,
Márcio Cypriano.
Nos envelopes que levou ao pregão, o Bradesco não foi tão agressivo. Mas, se a disputa fosse levada ao pregão viva-voz e o Itaú estivesse adversário fosse o Itaú, o
preço do Banespa teria subido
ainda mais.
Para o Unibanco, a saída do Itaú
teve impacto semelhante. Ao perceber que os líderes do ranking
não se digladiariam pela primeira
posição, o banco dos Moreira Salles também decidiu entregar
uma proposta menor.
Os sinais de que o Itaú não compareceria estavam claros, já que
nenhum representante havia se
apresentado à Bolsa sequer para
retirar credenciais. Mas o Unibanco obteve a confirmação do
próprio Itaú na manhã de ontem.
Por isso foi o primeiro a entregar
o envelope.
De qualquer forma, a oferta do
Unibanco jamais teria chegado na
mesma faixa daquela feita pelo
Santander. O máximo que o banco teria feito seria ofertar algumas
centenas de milhões a mais.
""A presença do Itaú, é claro, daria uma ênfase maior ao nosso
apetite na hora de fazer o lance",
admitiu o diretor-executivo do
Bradesco, Sérgio de Oliveira, ao
deixar o prédio da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, onde o leilão foi realizado.
O Bradesco esperou até os cinco
segundos finais -quando teve
certeza de que o Itaú estava mesmo fora do leilão- para entregar
seu envelope ao leiloeiro.
""O Santander, comprando o
Banespa, não tirou a liderança do
Bradesco", prosseguiu o executivo, para, mais adiante, afirmar
que ainda que o Itaú entrasse na
disputa, o Bradesco não chegaria
ao preço ofertado pelos espanhóis.
Sérgio de Oliveira disse que os
R$ 7,050 bilhões pagos pelo Santander estavam muito acima do
limite do Bradesco, mas foram
um preço justo para o Santander
entrar no mercado.
""Quanto custa 1% do mercado
brasileiro? É esta a conta que deve
ser feita. Do ponto de vista dele (o
Santander), foi uma avaliação
correta (...). A gente não tinha
apetite para um ágio de 100%,
200% no leilão. Se nós estivéssemos com apetite, seria para um
ágio de 20% a 30%", acrescentou.
Segundo o diretor, o Bradesco
""agiu corretamente" ao não entrar em uma disputa efetiva pelo
Banespa, pois ele ficaria com 199
agências superpostas no Estado
de São Paulo. O fechamento destas agências, na avaliação do executivo, seria um desgaste político
muito grande.
Ele disse que o banco está bem
posicionado no mercado de São
Paulo e deve disputar as privatizações do Besc (Banco Estado de
Santa Catarina) e o Banrisul, do
Rio Grande do Sul.
Com a compra do Banespa pelo
Santander, o Unibanco perdeu
para os espanhóis a terceira colocação no ranking dos bancos privados. O diretor de Investimentos
da instituição, Cláudio Coracini,
que comandou a ação do Unibanco no leilão, afirma que foi a melhor opção para os acionistas.
""O ranking não é importante. O
importante é fazermos bons investimentos, onde os acionistas
tenham ganhos. Com um valor
desses, nossos acionistas fariam
um mau negócio e seriam prejudicados", afirmou.
O diretor do Unibanco sequer
admite que a instituição tenha
perdido o terceiro no ranking para o Santander. ""Estamos empatados no terceiro lugar", declarou
depois de encerrado o leilão.
Para Coracini, a proposta do
Santander foi ""surpreendente" e
o Unibanco não estava disposto a
chegar a tal limite.
Indagado se os bancos brasileiros teriam subestimado o valor do
Banespa, respondeu que o valor
de um ativo é influenciado por
muitos fatores. ""Nós consideramos que existiam alguns riscos
que diminuíam o valor", acrescentou. Um dos riscos que o Unibanco levou em consideração ao
formular sua proposta foi a possibilidade de os funcionários públicos do Estado optarem por ter
seus salários depositados na Nossa Caixa.
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