São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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Participação de estrangeiros vai a um quarto

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A venda do Banespa para um banco de origem espanhola aumentou substancialmente a participação do capital estrangeiro no sistema financeiro nacional.
As instituições estrangeiras, que detinham um pouco mais de um quinto do total dos ativos, agora passam a ter participação superior a um quarto.
Segundo cálculos do Banco Central, os bancos de fora passaram a deter 25,6% dos ativos totais, estimados em R$ 220 bilhões. Antes do leilão de privatização, a participação era de 22,6%.
Os bancos europeus, cuja presença já era grande, estão dominando ainda mais o cenário com o negócio de ontem. Praticamente três quartos dos ativos de instituições estrangeiras são de origem européia.
O BC calcula que os europeus sejam responsáveis por 74,2% dos ativos dos bancos estrangeiros no Brasil. Antes da venda do Banespa ao Santander, essa participação era de 71,2%.
As contas do BC indicam só uma nova ordem de grandeza. Para chegar às porcentagens, somou-se o total dos ativos segundo os balanços de junho (já consolidados pelo BC) aos ativos do Banespa que constam do balanço de setembro (quase R$ 29 bilhões).
Para evitar distorções, também foi usada a taxa de câmbio de R$ 1,799 por dólar (que constava de trabalho anterior do BC sobre participação estrangeira).
O Santander deverá demorar de 10 a 15 anos para obter o retorno para o dinheiro colocado ontem no Banespa, na opinião de Gustavo Bussinger, coordenador do grupo de Comunicação Institucional do BC.
O longo período é atribuído não apenas ao elevado investimento e aos custos de reestruturação do Banespa, mas também aos efeitos da maior concorrência bancária prevista a partir de agora.
Para manter ou ganhar participação no mercado, os bancos nacionais e estrangeiros teriam, supostamente, que reduzir tarifas e juros, a fim de atrair clientes.
Em ocasiões anteriores, quando outros estrangeiros chegaram ao Brasil, esse raciocínio também foi feito, mas a lógica acabou não prevalecendo. Agora, no entanto, o argumento é reforçado pelo fim das oportunidades de um banco crescer comprando uma grande instituição em leilão público.

Remessa de lucros
A participação dos europeus na remessa dos lucros não é proporcional ao peso que eles têm no total dos ativos.
Até junho, os europeus eram responsáveis por menos de um quarto (23,6%) dos lucros mandados para as matrizes.
Enquanto isso, os americanos (que só têm um quarto dos ativos dos estrangeiros) enviaram mais de dois terços do total (68,7%).
A razão é simples: os europeus ainda estão digerindo aquisições recentes. O leilão de ontem não deverá alterar esse quadro.
Bussinger vê na decisão dos espanhóis a continuidade de uma tendência já observada nos anos 90, quando os bancos europeus passaram a reter a maior parcela dos investimentos estrangeiros.


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