São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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Espanhóis levam "jóia da coroa", diz Fraga

ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, afirmou ontem que o banco espanhol Santander levou "o que era a principal jóia da nossa coroa". Frase semelhante havia sido usada pelos espanhóis da Telefônica na compra da Telesp fixa, em 1998.
Fraga acha que o banco espanhol deu uma "inequívoca demonstração de confiança no país". Ele não quis comentar o ágio, quase três vezes superior ao preço mínimo. "Quem sabe avaliar (ágio) é o comprador."
Para o presidente do BC, o que pesou na decisão "foi a importância estratégica do Banespa", que põe o comprador "instantaneamente numa posição de destaque num mercado que requer escala e é competitivo".
Fraga, que definiu o leilão como um "marco de transparência e de coragem", disse ainda, na sua única menção às esperadas demissões, que "o Banespa tem um quadro funcional de alto gabarito e funcionários que terão excelentes oportunidades de desenvolver suas carreiras".
E completou: "Para aqueles que isso não acontecer -e fatalmente existirão casos-, nós sentimos muito. Mas, olhando o processo como um todo, o país vai ser ganhador".
O secretário do Tesouro Nacional, Fábio Barbosa, também elogiou o quadro de funcionários do Banespa, dizendo esperar que eles sejam "muito bem aproveitados".
Citando teses de analistas que apontam para a existência, no futuro, de algo em torno de seis bancos de varejo no país, Fraga disse que "o Banespa era, sem dúvida, a última oportunidade para quem queria se candidatar a ser um dos bancos de maior peso aqui".
O processo de venda do maior banco estadual do país terminou "em boas mãos com um preço bom", completou.
Fraga lembrou ainda que os bancos estaduais trouxeram mais problemas do que o esperado. "Bancos são negócios difíceis, cheios de armadilhas e têm que ser conduzidos com absoluta técnica", afirmou, para dar ênfase à importância da privatização.
O presidente do BC disse esperar um setor bancário ainda mais competitivo, com "produtos a um preço razoável".
O diretor de Finanças Públicas do BC, Carlos Eduardo de Freitas, explicou que duas facilidades, já contempladas em privatizações anteriores, estão valendo para os novos donos do Banespa com um prazo maior do que o que foi oferecido no leilão do Banestado, por exemplo, devido ao grande porte do banco paulista.
Os novos controladores terão um prazo de cinco anos para ajustar o investimento feito ao balanço. Durante três anos, ele tem a opção de diferir suas despesas de reorganização administrativa e modernização, incluindo gastos com demissões,o que faz com que o banco pague mais imposto de renda, mas apresente um resultado melhor. Tais medidas, segundo Freitas, existem para incentivar a compra de bancos por um preço maior e facilitar a digestão do investimento.



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