São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2006

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Brinquedos importados da China são retidos nos portos

Maior rigor na liberação de documentos deixa cerca de 20 milhões de unidades paradas

Importadores dizem que vendas de Natal devem ser afetadas; ministério afirma que medida foi tomada para detectar itens falsificados

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Brinquedos e produtos populares importados da China que custam no Brasil até R$ 10 podem faltar neste Natal. Cerca de 20 milhões de unidades desses produtos estão presos em portos do país para análise do Decex (Departamento de Comércio Exterior), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A importação foi feita por cerca de 20 empresas, instaladas na rua Senador Queiroz, no centro de São Paulo. Os brinquedos e os produtos para o Natal, como árvores, bolinhas e enfeites, deveriam ser distribuídos neste mês a 60 mil lojas de produtos populares no país.
"Estamos com importação de US$ 1,5 milhão de produtos para o Natal parada nos portos do Brasil e perdendo vendas para o Natal", afirma Gustavo Dedivitis, presidente da Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares.
O Decex não soube informar o volume de produtos retidos nos portos, mas confirma que, desde julho, monitora a importação desse tipo de mercadoria antes de conceder licenças de importação às empresas.
O maior rigor na liberação de documentos para mercadorias da China, segundo informa o Decex, é resultado da invasão desses produtos no país.
De janeiro a outubro deste ano, segundo o Decex, o Brasil importou da China 27 mil toneladas de brinquedos (US$ 121 milhões). No ano passado, a compra de brinquedos chineses somou US$ 96 milhões, e, em 2004, US$ 67 milhões.

Subfaturados
Com o monitoramento nas importações de produtos populares da China, o Ministério do Desenvolvimento quer evitar a entrada de produtos chineses subfaturados e falsificados.
O Decex informa que tem até 60 dias para conceder licenças de importação às empresas, como estabelece norma da OMC (Organização Mundial do Comércio), e que está cumprindo rigorosamente esse prazo.
Dedivitis informa que a associação que preside "joga no time do governo". "Somos importadores que recolhem impostos, não somos inimigos do país. Queremos acabar com a cultura de que o importado é um mal para o país", afirma.
Os produtos populares que as empresas reunidas na associação importam, segundo afirma Dedivitis, não têm similares nacionais. "Não tem indústria que consiga produzir esses produtos com a mesma qualidade com preços de R$ 5 a R$ 10 para o consumidor. E os produtos importados são certificados pelo Inmetro", afirma.
Os 22 importadores reunidos na associação compram cerca de 250 milhões de unidades e faturam cerca de R$ 11 bilhões por ano, conta Dedivitis. Para ele, se o governo barra a importação de produtos populares chineses de forma legal, acaba favorecendo a entrada desse mesmo tipo de produto no país de maneira ilegal.
As dificuldades nas importações começaram neste ano quando o governo decidiu elevar o valor mínimo para entrada dos produtos no país.
"Antes, podíamos importar o quilo do brinquedo por US$ 1,60. Agora, esse valor passou para US$ 6,60 o quilo." Criou-se, assim, restrição à entrada de brinquedos chineses no país. "Quem será punido com isso é o consumidor de menor poder aquisitivo, que vai ficar sem opções de presentes baratos neste final do ano", afirma.
A associação entregou ao Decex um levantamento de preços de produtos populares no país -o preço médio encontrado foi de US$ 2 o quilo. Com isso, eles pretendem importar mercadorias a partir de US$ 2 o quilo, e não de US$ 6,60 o quilo, como determina hoje o governo.
A pressão para que o governo brasileiro restrinja a importação de produtos chineses vem da indústria nacional de brinquedos. "Se o país importa 20 milhões de brinquedos, são 20 milhões de brinquedos que deixam de ser produzidos no país. Para cada US$ 30 mil de produtos importados, são cinco empregos a menos nas indústrias", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação dos fabricantes do setor.
A indústria brasileira de brinquedos, diz, vende cerca de 140 milhões de unidades por ano. A expectativa é que as vendas neste final de ano cresçam 4% sobre igual período de 2005. "Se a importação for muito elevada, certamente a indústria vai entrar em 2007 demitindo", afirma Costa.


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