São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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PAULO RABELLO DE CASTRO

Os quatro estágios da prosperidade


O trágico é que os 20% mais ricos ficam com 72% do capital total; os restantes 80%, com apenas 28%

HÁ QUATRO formas de apropriação do bem-estar associado ao progresso material de um país. A forma mais elementar de participação é pelo capital humano, através do acesso ao mercado de trabalho. Pessoas mais escolarizadas comandam maiores remunerações. No segundo estágio do progresso está o acesso ao capital imobiliário, a habitação, essencial à estabilidade familiar e à confiança no futuro.
Mais adiante vem o mercado de capitais, e com ele aumentam as chances de uma apropriação mobiliária, ou seja, o acesso ao capital aplicado em fundos ou papéis de renda fixa ou variável, em geral associados à acumulação de uma previdência com lastro em ativos. Por último, vem o quarto estágio de acesso ao capital, que é o da sustentabilidade, pelo emprego de técnicas não destruidoras do capital ambiental, a preservação do planeta vivo.
O Instituto Atlântico desenvolveu tal conceito de múltipla capitalização social, em quatro estágios de acesso (o modelo de quatro acessos) como forma de caracterizar melhor o que conhecemos como desenvolvimento.
Mas como é que se faz desenvolvimento? Infra-estrutura física não basta. Os países crescem e enriquecem quando o povo se apropria do progresso, quer através de conhecimentos técnicos, quer pela participação na acumulação da propriedade material dos meios de produção.
Hoje, acrescenta-se a noção do capital ambiental, embora estejamos longe de encarar, por exemplo, a Amazônia ou nossa biodiversidade como capital "apropriável" pela sustentabilidade e pela preservação.
Propostas objetivas acerca dos quatro acessos à participação do povo no capital devem ocupar o vazio do debate atual sobre "desenvolvimentismo".
O modelo proposto pelo Instituto Atlântico estimou quanto vale o capital total -inclusive o humano- do Brasil em 2007. Chegamos a um valor na casa dos R$ 15 trilhões. É quanto valemos hoje, de "porteira fechada". O trágico é que, desses R$ 15 trilhões, os 20% mais ricos da população apropriam cerca de 72% do capital total, físico e intelectual. Os restantes 80% do povo ficam com apenas 28%.
E como será daqui a 30 anos, quando mais 70 milhões de jovens adultos houverem entrado na disputa por uma fração desse capital? Seremos uma nação rica, porém com riqueza pessimamente distribuída?
É raro encontrar trabalhos locais nessa área da futura distribuição do capital. Fizemos uma projeção: em 2037, se o país superar a síndrome de estancamento que ainda o aprisiona, a riqueza brasileira poderá chegar a um estoque de R$ 100 trilhões. Uma enorme, realmente fantástica soma. Mas de quem? São perguntas irrespondidas...
Há uma chance de se operar o "milagre" do enriquecimento com melhor distribuição do capital. A projeção do Instituto Atlântico é que, nesse cenário, em 2037 os 80% da população no andar de baixo ampliem sua participação no acesso às formas de capital, dos atuais 28% para 45%. Seria uma revolução espetacular, de inclusão verdadeira e intensa mobilidade vertical de massas pobres.
Para isso, a principal medida faltante é uma revolução na previdência social brasileira. Pena que o Fórum Nacional, instituído pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a previdência oficial, encerrou-se melancolicamente, só debatendo como manter e ampliar os privilégios da geração presente.


PAULO RABELLO DE CASTRO , 58, doutor em economia pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio/SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias, nesta coluna.

rabellodecastro@uol.com.br


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