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PAULO RABELLO DE CASTRO
Os quatro estágios da prosperidade
O trágico é que os 20% mais ricos ficam com 72% do capital total; os restantes 80%, com apenas 28%
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HÁ QUATRO formas de apropriação do bem-estar associado ao progresso material
de um país. A forma mais elementar
de participação é pelo capital humano, através do acesso ao mercado de
trabalho. Pessoas mais escolarizadas comandam maiores remunerações. No segundo estágio do progresso está o acesso ao capital imobiliário, a habitação, essencial à estabilidade familiar e à confiança no futuro.
Mais adiante vem o mercado
de capitais, e com ele aumentam as
chances de uma apropriação mobiliária, ou seja, o acesso ao capital
aplicado em fundos ou papéis de
renda fixa ou variável, em geral associados à acumulação de uma previdência com lastro em ativos. Por último, vem o quarto estágio de acesso
ao capital, que é o da sustentabilidade, pelo emprego de técnicas não
destruidoras do capital ambiental, a
preservação do planeta vivo.
O Instituto Atlântico desenvolveu
tal conceito de múltipla capitalização social, em quatro estágios de
acesso (o modelo de quatro acessos)
como forma de caracterizar melhor
o que conhecemos como desenvolvimento.
Mas como é que se faz desenvolvimento? Infra-estrutura física não
basta. Os países crescem e enriquecem quando o povo se apropria do
progresso, quer através de conhecimentos técnicos, quer pela participação na acumulação da propriedade material dos meios de produção.
Hoje, acrescenta-se a noção do capital ambiental, embora estejamos
longe de encarar, por exemplo, a
Amazônia ou nossa biodiversidade
como capital "apropriável" pela sustentabilidade e pela preservação.
Propostas objetivas acerca dos
quatro acessos à participação do povo no capital devem ocupar o vazio
do debate atual sobre "desenvolvimentismo".
O modelo proposto pelo Instituto
Atlântico estimou quanto vale o capital total -inclusive o humano- do
Brasil em 2007. Chegamos a um valor na casa dos R$ 15 trilhões. É
quanto valemos hoje, de "porteira
fechada". O trágico é que, desses
R$ 15 trilhões, os 20% mais ricos da
população apropriam cerca de 72%
do capital total, físico e intelectual.
Os restantes 80% do povo ficam
com apenas 28%.
E como será daqui a 30 anos,
quando mais 70 milhões de jovens
adultos houverem entrado na disputa por uma fração desse capital? Seremos uma nação rica, porém com
riqueza pessimamente distribuída?
É raro encontrar trabalhos locais
nessa área da futura distribuição do
capital. Fizemos uma projeção: em
2037, se o país superar a síndrome
de estancamento que ainda o aprisiona, a riqueza brasileira poderá
chegar a um estoque de R$ 100 trilhões. Uma enorme, realmente fantástica soma. Mas de quem? São perguntas irrespondidas...
Há uma chance de se operar o
"milagre" do enriquecimento com
melhor distribuição do capital. A
projeção do Instituto Atlântico é
que, nesse cenário, em 2037 os 80%
da população no andar de baixo ampliem sua participação no acesso às
formas de capital, dos atuais 28%
para 45%. Seria uma revolução espetacular, de inclusão verdadeira e
intensa mobilidade vertical de massas pobres.
Para isso, a principal medida faltante é uma revolução na previdência social brasileira. Pena que o Fórum Nacional, instituído pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para
discutir a previdência oficial, encerrou-se melancolicamente, só debatendo como manter e ampliar os privilégios da geração presente.
PAULO RABELLO DE CASTRO , 58, doutor em economia
pela Universidade de Chicago (EUA), é vice-presidente do
Instituto Atlântico e chairman da SR Rating, classificadora
de riscos. Preside também a RC Consultores, consultoria
econômica, e o Conselho de Planejamento Estratégico da
Fecomercio/SP. Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias,
nesta coluna.
rabellodecastro@uol.com.br
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