São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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análise

Negócio entre bancos atende a Lula e a Serra

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em mais um gesto de boa vizinhança administrativa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra, fecharam um negócio bom para os dois. A compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil atende aos interesses econômicos e políticos de Lula e Serra.
Contrariado com os grandes bancos privados, que têm segurado a concessão de crédito na crise financeira, Lula estimulou o Banco do Brasil a não deixar brecha para o Bradesco tentar comprar a Nossa Caixa.
A MP (medida provisória) 443, que abria a possibilidade de o BB e a Caixa Econômica Federal comprarem instituições financeiras total ou parcialmente, facilitou a negociação, porque o Bradesco queria um leilão para a venda do banco do governo paulista.
A MP 443 permitiu a compra direta da Nossa Caixa, fundamental para o BB tentar voltar a ser o primeiro no ranking nacional de bancos.
Essa, aliás, é uma meta de Lula: deixar o Palácio do Planalto em 2010 com o Banco do Brasil de novo na primeira posição, perdida após a fusão do Itaú com o Unibanco.
Já Serra ganhará uma bolada para financiar projetos nos seus dois últimos anos de governo.
O tucano pretende ser candidato à Presidência em 2010 e está na dianteira na briga interna no PSDB contra o governador de Minas, Aécio Neves. Serra cobra da equipe agilidade nos projetos para o dinheiro que entrará com a venda. Corre contra o tempo.
Do ponto de vista político, a operação pode ser resumida assim: um mandatário que caminha para os seus dois últimos anos de governo faz um negócio de pai para filho com o pré-candidato a presidente mais forte nas pesquisas. Na linguagem do mercado financeiro, seria uma espécie de hedge lulista.
Na transição dos governos FHC para Lula, um acordo político foi cumprido à risca: o petista não investigaria atos da gestão do antecessor tucano.
Não deixa de ser irônica coincidência o anúncio do negócio entre BB e Nossa Caixa acontecer no mesmo dia em que Lula autoriza, por decreto presidencial, a compra da Brasil Telecom pela Oi. Tudo indica que Serra, se eleito, agirá em relação a Lula como o petista atuou com FHC na rubrica "decisões de Estado com alguma margem para controvérsia".
Por último, Lula aposta as fichas na candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), mas não vê mal em ter boa relação com Serra e Aécio. O petista pode sonhar em concorrer ao Palácio do Planalto em 2014.


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