São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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O ANO DO DRAGÃO

Cumprir inflação acertada com FMI implicaria recessão

Nova meta é baixa, diz consultoria

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As novas metas de inflação contidas no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), anunciadas anteontem, são "irrealistas" e, "para cumpri-las a ferro e fogo, a política econômica teria de jogar a economia numa forte recessão", segundo a análise da LCA Consultores.
A LCA tem como sócio principal o economista Luciano Coutinho, cotado para um posto no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Outro elo da consultoria com o governo eleito é o economista Bernard Appy, que deixou a empresa para ingressar na equipe de transição coordenada pelo futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Em boletim distribuído aos clientes, a LCA avalia que, mesmo com a elevação das metas, será muito difícil manter a inflação nos níveis prometidos ao FMI pelo ministro Pedro Malan (Fazenda) e pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
"Ao sugerir metas irrealistas, a atual equipe econômica do BC parece querer demonstrar bastante conservadorismo -em linha, aliás, com as declarações dos futuros titulares da Fazenda e do BC (Palocci e Henrique Meirelles)", diz o documento.
Na revisão do acordo com o FMI, o limite máximo para o IPCA em 2002 passou de 9% para 11%; o teto para 2003, medido pela taxa acumulada nos 12 meses encerrados em setembro, subiu de 7,5% para 9,5%.
A LCA elogia a elevação dos limites -"uma decisão válida e que a ninguém surpreende, dado que os resultados recentes de inflação têm ficado muito acima do esperado". A consultoria, porém, acredita que as taxas fixadas ainda são ambiciosas demais.
Segundo as projeções da empresa, o IPCA deve encerrar 2002 em 13% -para ficar dentro das regras do acordo com o FMI, a taxa deste mês não poderá ficar acima de 0,7%.
Para o período de outubro de 2002 a setembro de 2003, a projeção da LCA é de uma variação de 15%. A principal causa da "discrepância" em relação ao prometido limite de 9,5%, diz o documento, é a variação dos preços no último trimestre deste ano.
A análise considera "compreensível" a preocupação de demonstrar que não haverá leniência com a inflação, mas sugere novos critérios para a determinação das metas, de forma a privilegiar a inflação presente, em vez da passada.
Tanto é assim que, em carta à direção do FMI datada de 2 de dezembro, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do BC, Armínio Fraga, pediram a revisão das metas por causa dos "efeitos estatísticos da inflação em 2002". Ou seja, as taxas mais altas deste ano vão contaminar os índices acumulados do ano que vem.
Resta ainda ao governo eleito definir uma nova meta oficial de inflação para a atuação do Banco Central no próximo ano. A que está em vigor hoje, de 4%, com tolerância de 2,5 pontos percentuais, já caiu em descrédito no mercado, que aposta em 11%, de acordo com o último relatório Focus -pesquisa feita pelo BC em meio ao mercado.


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