UOL


São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PREVIDÊNCIA

Todos os mais de 21,5 mi de aposentados e pensionistas terão de renovar o cadastro no próximo ano, diz Berzoini

INSS fará recadastramento geral em 2004

ELLEN NOGUEIRA
DO "AGORA"

O próximo ano será o ano de recadastramento do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Em entrevista exclusiva, em Brasília, o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, diz que todos os mais de 21,5 milhões de aposentados e pensionistas do INSS terão de fazer o recadastramento em 2004.
Mas isso não será feito somente nas agências da Previdência. Correios, bancos e até hospitais poderão ajudar no serviço, diz Berzoini. "Nós vamos trabalhar com uma integração entre a Previdência, a rede bancária e outras instituições do poder público para fazer essa atualização", afirmou.
O recadastramento deve ir do começo até o final do ano que vem e será refeito apenas em 2009. A seguir, os principais trechos da entrevista do ministro.

 

Agora - Nunca se falou tanto de Previdência como em 2003. Qual foi o momento mais difícil para a reforma da Previdência?
Ricardo Berzoini -
Foram muitos momentos difíceis, na verdade. O próprio desconhecimento sobre a técnica previdenciária e sobre as formas de organizar um sistema previdenciário levaram muitas vezes a abordagens equivocadas sobre a Previdência. A Previdência é um sistema de gerenciamento de renda dentro da sociedade e de proteção previdenciária, ou seja, proteger o trabalhador quando ele estiver incapacitado e não puder obter sua própria renda. Então, ela tem de gerenciar de um lado o financiamento, que vem das contribuições, e do outro, a concessão de benefícios. É algo complexo, difícil de compreender. Sempre brinco dizendo que a Previdência ideal é aquela em que você paga o mínimo possível e recebe o máximo possível. Obviamente ela não existe. Então, temos de mediar essa questão que é a renda da sociedade, que, neste ano, só no INSS, vai representar R$ 107 bilhões que serão pagos por todos os trabalhadores em todo o Brasil.

Agora - O governo pensa em outra forma de recadastramento em 2004?
Berzoini -
A PEC [proposta de emenda constitucional] paralela prevê que se faça o recenseamento quinquenal [a cada cinco anos] da Previdência. Vamos trabalhar com a perspectiva de, em 2004, fazer o recadastramento dos beneficiários de uma forma fácil e simples para os segurados. Por exemplo: as pessoas têm de renovar a senha do cartão magnético, as pessoas têm de formalizar suas procurações quando o procurador recebe, as pessoas têm de ir a um posto da Previdência para fazer qualquer tipo de procedimento. Como o cadastro nosso tem várias inconsistências, o ideal seria nós podermos manter a relação com esse segurado por meio de correspondência. Como tem inconsistência de endereço e outros itens, nós vamos produzir, em 2004, a depuração do cadastro e vamos chegar ao final do ano com o cadastro do INSS equivalente ao de qualquer grande instituição do país.

Agora - De que forma seria essa depuração de dados?
Berzoini -
Vamos trabalhar com uma integração entre a Previdência, a rede bancária e outras instituições do poder público para fazer essa atualização. As pessoas que tiverem qualquer tipo de dificuldade -e quem vai decidir se tem algum tipo de dificuldade é a pessoa-, poderão agendar com um servidor da Previdência a visita domiciliar.

Agora - O recadastramento não é só para quem tem mais de 90 anos de idade?
Berzoini -
Não, é para o público em geral. Esse público com mais de 90 anos só tem uma preocupação especial devido à idade e à discrepância de dados que existe.

Agora - Haverá um prazo para recadastrar todas as pessoas?
Berzoini -
Nós vamos, em 2004, fixar uma sistemática para, até o final do ano, fazer todo o recadastramento para regularizar o cadastro do INSS. Como a Previdência tem mais de 21,5 milhões de beneficiários, qualquer recadastramento que dependa do comparecimento à rede da Previdência provoca demanda insuportável. Não é possível organizar isso. Nós recebemos por mês cerca de 1 milhão de pessoas nas nossas agências. Se nós tivermos de colocar mais 2 milhões por mês, aproximadamente, de outros clientes para recadastrar, é impossível. E essas pessoas já têm um tipo de relacionamento com outras instituições do poder público que poderão ajudar nesse trabalho.

Agora - Mas como essas instituições ajudariam e quais seriam?
Berzoini -
Os bancos e os correios. As pessoas, eventualmente, comparecem à rede pública de saúde para fazer um procedimento médico, e esse pode ser outro canal de recadastramento.

Agora - Como a pessoa vai saber sobre o recadastramento? Seria um cruzamento de dados entre as instituições?
Berzoini -
A pessoa vai saber que está sendo consultada para confirmar seu cadastro. Obviamente, todo esse desenho não vai ser obra de um ministério. Vai ser feito pelo Conselho Nacional de Previdência Social, e temos de ter a aprovação dos aposentados, dos empregados, dos empregadores e dos representantes do governo.

Agora - O recadastramento será feito de que maneira?
Berzoini -
As pessoas têm várias demandas com o Estado: saúde, educação, relacionamento com os correios e com a rede bancária pública e privada para receber os benefícios. Havendo esses canais, nós poderemos utilizar todos eles para diluir a demanda e para garantir que o objetivo seja alcançado sem transtornos.

Agora - E elas seriam chamadas para se recadastrarem?
Berzoini -
Identificando uma pessoa que recebe todo mês da Previdência, ela pode ser, em um dos meses, abordada por um funcionário do banco ou por um servidor no mês em que ela vai renovar a senha, por exemplo.

Agora - Quando o recadastramento seria feito novamente?
Berzoini -
Se conseguirmos, e estamos trabalhando para isso, o recadastramento em 2004, haverá um novo em 2009. Mas isso não impede ações segmentadas entre 2004 e 2009 para garantir a qualidade do sistema.

Agora - Como está a força-tarefa em São Paulo contra as fraudes?
Berzoini -
A força-tarefa em São Paulo estava praticamente desativada. Reconstruímos as estratégias, estamos trabalhando na investigação em segmentos econômicos onde há maior incidência de fraudes e de sonegação. Já foram avaliados segmentos importantes, como construção civil e transporte coletivo, sem prejuízo das investigações de outros setores. Em relação a fraudes, já observamos algumas, como a de auxílios-doença em Sorocaba e em Cubatão. Havia quadrilhas organizadas que concediam benefícios a quem não tinha direito. Em Sorocaba não havia controle estatístico de benefícios concedidos. Sorocaba gerava mais auxílios-doença do que a Grande São Paulo, o que é um absurdo.



Texto Anterior: Exportadoras pagam mais aos funcionários
Próximo Texto: Legislação: Empresa tem até dia 9 para adaptar contrato
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.