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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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ECONOMIA INTERNACIONAL

Desvalorização da moeda ajuda país a ajustar déficit, mas reduz o valor dos ativos americanos

Queda do dólar faz investidor evitar os EUA

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

A trajetória de queda da cotação do dólar em relação ao euro parece indicar que a economia dos EUA está numa armadilha.
A desvalorização da moeda ajuda a equilibrar o déficit em conta corrente americano (algo em torno de US$ 500 bilhões ao ano). Essa mesma desvalorização, porém, diminui a atração do país aos olhos dos investimentos estrangeiros, o que enfraquece o dólar.
Ao longo deste ano, a cotação do dólar caiu 15,3% em relação ao euro. O prognóstico é que essa queda se mantenha, já que o déficit comercial americano está longe de se estabilizar.
"A maior razão para a queda do dólar é o seu grande e insustentável déficit em conta corrente. Com a cotação mais baixa do dólar, os EUA conseguem tornar os seus produtos mais competitivos no mercado internacional e também diminuem o ritmo das importações. O dólar deve cair mais 5% em 2004 e deve continuar caindo em 2005", disse Farid Abolfathi, diretor de estudos globais da consultoria GlobalInsight.
Vincent Cohen, economista-chefe da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), concorda com a avaliação, mas faz ressalvas.
"De fato o dólar perdeu consideravelmente o seu valor em relação ao euro nos últimos três anos, mas é importante dizer que o euro não está tão acima do dólar quando olhamos para cotação do lançamento da moeda européia, em 1999", disse.
Se a manutenção de um dólar mais fraco pode ser uma saída para o desequilíbrio do déficit comercial norte-americano, ela pode ter impactos negativos para os parceiros comerciais dos EUA. "Um dólar fraco versus um euro forte é especialmente ruim para países que têm economias muito abertas, como a União Européia", afirmou Steven Lesley, da Economist Intelligence Unit. A agência pertence ao grupo que edita a revista "The Economist".
No entanto esses efeitos negativos parecem ainda não ter tocado a economia da Eurolândia. Os dados mais recentes do Departamento de Comércio dos EUA mostram que as exportações do bloco europeu cresceram 4% em outubro deste ano ante o mesmo período de 2002. Com isso, o volume exportado para os Estados Unidos atingiu US$ 124,3 bilhões.
"Em resumo, podemos dizer que o dólar mais fraco não é uma grande notícia para a recuperação da economia dos países do euro, mas também não é o fim do mundo", disse Ian Gunner, economista-chefe do banco Mellon Financial, em Londres.
Essa pujança das exportações européias é alimentada pelo ritmo da retomada da economia americana. O PIB (Produto Interno Bruto) deste ano deve ter um crescimento superior a 3% em relação ao ano passado.

Fuga de investidores
O outro fator que pode explicar a queda do dólar é o fato de investidores parecerem menos dispostos a financiar o déficit.
Em outubro, pelo segundo mês consecutivo, investidores estrangeiros venderam US$ 1,3 bilhão de ações americanas. Nos primeiros dez meses do ano, US$ 50,8 bilhões saíram dos investimentos em ações nos EUA.
"Em 2000, os investidores tinham um grande apetite e compraram uma quantidade enorme de ações dos EUA [US$ 174,9 bilhões]. Esse volume foi caindo até atingir os níveis negativos de hoje", afirmou Gunner.
Gunner também chama a atenção para o fato de que mesmo entre os investidores americanos aumenta o interesse em ações estrangeiras. "Parece que os próprios investidores americanos estão se questionando sobre a importância de ter ativos em dólar. Basta ver que eles têm aumentado incrivelmente a compra de ações estrangeiras", avaliou.
Dados do Tesouro dos EUA mostram que, até outubro, os americanos compraram o correspondente a US$ 66,2 bilhões em ações de estrangeiros. Em 2002, a cifra não superou US$ 1,5 bilhão.
Apesar de os olhares de investidores se lançarem para outros mercados, economistas afirmam que ainda é muito cedo para decretar a perda de relevância da moeda americana. "Em 20 anos veremos mais títulos da dívida emitidos em euros e um portfólio mais diferenciado nos bancos centrais. Hoje, apesar do déficit nos EUA, o dólar permanece como a moeda internacional", sentenciou Barry Eichengreen.



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