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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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UM ANO DE LULA

Expansão pequena da economia e queda do rendimento ofuscam dados positivos no mercado financeiro

Em 2003, arrocho foi o custo da estabilidade

Jorge Araújo - 8.ago.03/Folha Imagem
"Plaqueiros" no centro de São Paulo; o desemprego no país subiu de 10,5% para 12,9% no ano


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O primeiro ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será lembrado, na economia, como um período de forte recuperação dos indicadores financeiros e de reconquista de credibilidade perante os mercados, mas também por uma das menores taxas de crescimento na última década e pela manutenção da queda na renda do trabalhador.
Em 2004, as perspectivas para que a equipe econômica do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) obtenha êxito também na retomada do crescimento são muito boas, avaliam economistas ouvidos pela Folha. Mas eles destacam riscos que podem turvar o cenário, como uma elevação da taxa básica de juros dos EUA e uma eventual crise política, causada por divergências entre partidos da base aliada e governo.
Quando Lula assumiu o governo, em janeiro, a dívida pública estava em R$ 888,9 bilhões, ou 56,44% do PIB (Produto Interno Bruto), a maior proporção no começo de um ano desde a implementação do Plano Real. Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu o cargo, em 1995, a dívida estava em 29,35% do PIB.
Até então, a dívida só havia atingido percentual maior no auge da crise de confiança provocada pela corrida presidencial de 2002. Em setembro, chegou a 62,52%.
O risco-país (juros pagos pelos papéis da dívida pública externa brasileira acima da taxa dos títulos do Tesouro americano, medida da percepção de risco que os investidores estrangeiros têm de um país) no primeiro dia útil do ano estava em 1.374 pontos. O Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo), em 11.602 pontos. Os analistas de mercado estimavam uma inflação neste ano, no primeiro levantamento de 2003 feito pelo Banco Central, de 11% pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Mesmo empresas de grande porte não conseguiam renovar ou tomar novos empréstimos no mercado internacional.

Fórmula ortodoxa
A escolha da equipe econômica foi adotar uma fórmula ortodoxa para tentar conquistar credibilidade perante o mercado financeiro e reverter não só as estimativas de inflação, mas também as expectativas de aumento de preços.
No lado dos indicadores, o risco-país caiu para menos de 500 pontos ao longo do ano. O Ibovespa bateu recordes seguidos, acima dos 21 mil pontos. A inflação deve ficar próxima de 9%.
O saldo da balança comercial terá recorde histórico perto de US$ 24 bilhões. Após fazer concessões, o governo conseguiu passar no Congresso as reformas tributária e da Previdência -aprovou ainda o artigo 192, que abre espaço para o projeto de autonomia operacional do Banco Central.
Mas, se por um lado a receita conservadora deu certo, por outro ajudou a asfixiar a economia. A estimativa da Fazenda de crescimento em 2003 é de 0,4%. Especialistas do mercado falam em 0,3%, no cenário mais otimista, e até em recessão (queda do PIB).
O estrangulamento da economia partiu de duas direções. Primeiro, o Ministério da Fazenda decidiu elevar a meta de superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros da dívida pública) de 3,75% do PIB para 4,25% (o equivalente a R$ 66,2 bilhões). Corresponde a cerca de R$ 7,8 bilhões a mais do que o proporcional à meta de 3,75% do governo FHC para 2002.
No início do ano, a equipe de Palocci decidiu que seria mais saudável para a economia elevar o superávit não pelo lado da receita (via elevação de impostos), mas pelo lado das despesas -corte de gastos. Resultado: o governo teve menos dinheiro para investir e estimular a economia.
Na outra direção, o BC aumentou duas vezes os juros básicos da economia (em janeiro e fevereiro), levando a taxa de 25% ao ano (já considerada alta pelos economistas) para 26,5% -mantendo nesse nível até junho.
Devido ao aumento do custo do crédito provocado pela elevação da taxa básica, os consumidores reduziram suas compras. Assim, o comércio vendeu menos e a indústria produziu menos.
Uma das consequências da contração econômica foi o aumento do desemprego de 10,5% em janeiro para 12,9% em outubro. A renda do trabalhador caiu 11,6% no mesmo período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para encerrar o ano com o receituário da ortodoxia econômica, o governo decidiu renovar o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) por mais 15 meses e manter a meta de superávit primário de 4,25% para 2004.



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