|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Na crise, SP eleva gás à indústria em 19%
Segundo o Estado, reajuste decorre da defasagem no cálculo do produto fornecido pela Petrobras; residências não devem ter aumento
Estatal, por sua vez, defende critério de preço, que tem ajuste trimestral com base no dólar e na cotação, de seis meses antes, do petróleo
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O governo de São Paulo
anuncia nesta semana autorização para a Comgás reajustar
em 19% o preço do gás cobrado
dos grandes consumidores industriais do produto no Estado.
Aos pequenos consumidores
da indústria o aumento deve
ser da ordem de 10%.
Já o preço do gás residencial
não deve ser reajustado. O objetivo do governador José Serra
(PSDB) é poupar o consumidor
residencial de um aumento.
A informação foi confirmada
à Folha pelo secretário estadual de Fazenda, Mauro Ricardo Costa, após mais de um mês
de discussão com diversas outras áreas do governo. A autorização do reajuste no preço do
gás será anunciada pela Arsesp
(agência estadual reguladora
de saneamento e energia).
A decisão de autorizar o aumento do gás atende só parcialmente ao pedido feito pela
Comgás, a maior distribuidora
do país, de repasse tarifário para cobrir perdas com a defasagem no preço do produto.
A Comgás tinha solicitado
reajuste de 56%. O cálculo da
distribuidora é de que essa defasagem já tenha provocado
perdas de R$ 500 milhões até
novembro. Em janeiro, iria para R$ 600 milhões.
O grande problema, para o
governo de São Paulo, é a fórmula da Petrobras para o cálculo do preço do gás às distribuidoras. Há um desbalanceamento entre o preço que a
Comgás paga pelo gás à Petrobras e o que ela vende.
A tarifa cobrada pela Petrobras sofre reajustes trimestrais
e é indexada ao dólar e ao preço
do barril de petróleo de seis
meses antes. Já o gás vendido
ao consumidor pelas distribuidoras sofre reajuste anual e é
fixado em reais.
Assim, hoje a Comgás compra o gás com base num preço
do barril de petróleo equivalente a US$ 110 e a um dólar a
quase R$ 2,50. Já a tarifa que a
empresa vende é fixada levando em conta o barril a US$ 88 e
o dólar a R$ 1,75.
"O Brasil tem que pensar numa nova política de gás, senão
ninguém mais vai consumir o
produto", diz Mauro Ricardo.
Segundo o secretário, o governo paulista tentou por diversas
formas convencer a Petrobras
a mudar a fórmula de cálculo
do preço do gás às distribuidoras, mas não obteve sucesso.
Já a diretora de gás e energia
da Petrobras, Maria da Graça
Foster, afirma que não houve
intransigência da companhia.
O que ela argumenta é que São
Paulo consome 8,5 milhões de
metros cúbicos de gás boliviano e apenas 4,5 milhões de gás
nacional, e o preço que a Petrobras cobra da Comgás segue a
mesma fórmula do que a companhia compra da Bolívia.
"São contratos-espelhos com
os da Bolívia", diz Foster.
"Quando o preço do petróleo
está em alta, a empresa ganha,
mas, quando cai, perde".
Dessa forma, a diretora da
Petrobras diz que a queda do
preço do petróleo -de US$ 147
o barril para US$ 35- não pode
ser incorporada ao preço do gás
imediatamente em razão do
contrato com a Bolívia.
Mauro Ricardo diz, no entanto, que a Petrobras foi inflexível nas negociações, apesar
de ter sido dito que essa política de gás poderia destruir as
distribuidoras de São Paulo.
O consultor Adriano Pires,
especialista do CBIE (Centro
Brasileiro de Infra-Estrutura),
afirma que a distorção na fórmula do cálculo do preço do gás
cobrado pelas distribuidoras é
evidente. Para ele, em vez de
anual, o repasse deveria ser feito mediante um gatilho a ser
acionado quando o preço do
barril de petróleo ultrapasse
um determinado limite para cima ou para baixo. Atualmente,
o reajuste no preço do gás só é
concedido no mês de maio,
mas pode ser antecipado no caso de se verificar que a tarifa esteja provocando desequilíbrio
econômico e financeiro nas
contas da distribuidora.
De acordo com Mauro Ricardo, ao autorizar esse aumento
do gás, o governo de São Paulo
procurou determinar uma tarifa que sacrificasse o mínimo
possível os consumidores industrial e residencial. O objetivo foi o de evitar que o preço do
gás seja mais um fator de preocupação à indústria num momento de crise econômica.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Rubens Ricupero: Vaga-lumes ou faróis? Índice
|