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Juros elevados atrofiam o setor produtivo, afirma economista
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
O segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso terá de mudar "o samba de uma
nota só" da política econômica para que os reais problemas do país
possam ser resolvidos.
A opinião é de Antônio Corrêa
de Lacerda, 42, novo presidente do
Cofecon (Conselho Federal de
Economia), órgão que representa
os 70 mil economistas do Brasil.
Lacerda é professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de
São Paulo e autor do livro "O Impacto da Globalização na Economia Brasileira".
Lacerda, que prevê uma queda
de 2% do PIB (Produto Interno
Bruto) em 99, diz que governo e
sociedade devem repensar um
modelo de política econômica que,
baseado excessivamente nos juros
altos, tem provocado a desarticulação do Estado e a atrofia do setor
produtivo.
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - Quais as perspectivas da
economia brasileira em 99?
Antônio Corrêa de Lacerda - O
PIB de 1999 vai cair 2% em relação
ao deste ano, que será igual ao do
ano passado.
Folha - Por quê?
Lacerda - Por causa dos juros altos e do aumento de impostos. O
desemprego cresceu em 1998 e está
próximo de 8% da PEA (População Economicamente Ativa). Será
superior a 10% da PEA no ano que
vem. Se a estagnação econômica é
um caos para o emprego, a recessão, então, é perversa. Cerca de 1,8
milhão de pessoas são incorporadas anualmente à PEA. O crescimento econômico anual do país
teria de ser de 5% a 6% para que
fossem criados pelo menos 1,8 milhão de empregos por ano.
Folha - Quando a economia brasileira terá condições de voltar a
crescer e a gerar empregos?
Lacerda - O país tem de compatibilizar a estabilização com o desenvolvimento. Não existe, a meu
ver, essa dicotomia. A estabilização é um ganho para a sociedade,
mas não pode ser um fim em si
mesma. Deve-se criar políticas industrial, comercial, agrícola e de
ciência e tecnologia com o objetivo
de induzir o aumento da produtividade e das exportações.
Folha - Há como baixar significativamente os juros no segundo
mandato do presidente Fernando
Henrique Cardoso?
Lacerda - O segundo mandato do
presidente Fernando Henrique terá de mudar o samba de uma nota
só da política econômica.
Folha - Com a criação do Ministério do Desenvolvimento?
Lacerda - O Ministério do Desenvolvimento não seria um contraponto à política econômica do ministro Pedro Malan. Seria um complemento.
Folha - Por quê?
Lacerda - O presidente Fernando
Henrique Cardoso deveria buscar
um equilíbrio de forças entre os
ministérios do Desenvolvimento e
da Fazenda. O Brasil vive, do ponto
de vista conjuntural, um momento
econômico delicado. Mas a crise
apresenta oportunidades. O Brasil
se destaca, entre os países emergentes, como um foco de crescimento imediato.
Folha - Qual seria o papel do Ministério do Desenvolvimento?
Lacerda - Cuidar das políticas de
desenvolvimento. A maioria dos
países desenvolvidos ou em desenvolvimento bem-sucedidos tem
usado a política industrial para
promover as exportações e para
proteger, com inteligência, a produção local.
Folha - Por que a onda de pessimismo, exemplificada pelas baixas
nas Bolsas e pela fuga de dólares,
não vai embora, apesar do acordo
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e do ajuste fiscal?
Lacerda -Há uma grande contraposição entre os cenários de curto
e de médio e longo prazos. O cenário de médio e longo prazo é bastante positivo. Uma prova disso
são os investimentos diretos estrangeiros no país, que devem alcançar US$ 24 bilhões neste ano. O
curto prazo, no entanto, sofre muito a influência da instabilidade
atual, que é, na minha opinião, um
fenômeno passageiro.
Folha - Por quê?
Lacerda - Porque os avanços mínimos que serão feitos na área fiscal permitirão que o país volte a
crescer no ano 2000.
Folha - As metas do ajuste fiscal
são viáveis?
Lacerda - Não são, mas o que é
importante é a trajetória de longo
prazo. Mas, como bem definiu o
ex-ministro Mário Henrique Simonsen, toda carta de intenções
com o FMI é uma hipocrisia necessária.
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