São Paulo, segunda, 21 de dezembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CRISE Para o consultor Edson Vaz Musa, recessão levará empresários a cortar salários e direitos de empregados em 99 "Conquistas trabalhistas vão para a geladeira"
RICARDO GRINBAUM
Folha - Quais setores serão mais afetados? Musa - É difícil dizer quem não vai passar aperto, mas devem ser atingidos principalmente os setores que necessitam de muito capital. As atividades sazonais, como alguns setores da indústria têxtil, vão se tornar inviáveis. Quem é obrigado a produzir e estocar sua produção não terá como arcar com os custos do dinheiro. Folha - O que pode ser feito para enfrentar a crise? Musa - O custo do dinheiro está alto e as margens de lucros estão baixíssimas, devido à concorrência internacional. As empresas não conseguem mais aumentar preços. Têm de abater os custos, sobretudo os de pessoal, porque os maiores gastos fixos são com salários. Os sindicatos vão reclamar, com toda razão, que o trabalhador paga a conta, mas hoje em dia é uma fatalidade. Com dinheiro escasso e caro, não tem outro jeito. Folha - Isso significa que as empresas terão de demitir em massa? Musa - Não. Acho que existem outros mecanismos. O Brasil tem feito muitos progressos nos sindicatos e na legislação, na busca de novas fórmulas, como os bancos de horas e maior flexibilidade nos contratos. Infelizmente algumas das conquistas dos trabalhadores terão de ser colocadas na geladeira, esperando tempos melhores. Também os preços da área de serviços terão de cair. Folha - O Brasil continua atraindo investimentos produtivos? Musa - Em maio e junho participei de reuniões com grandes investidores e dirigentes na Europa e todos, sem exceção, disseram que o Brasil era sua principal opção estratégica. Em dois meses, tudo virou. O Brasil passou a ser a bola da vez no mau sentido. Mas, a longo prazo, as razões para investir no Brasil não desapareceram. Temos um mercado interno interessante, uma posição estratégica na América Latina e é fácil uma empresa estrangeira adaptar-se ao Brasil. Folha - A instabilidade pode afetar os investimentos produtivos? Musa - As empresas se perguntam se devem vir para o Brasil quando ocorrem episódios como o da privatização da Cedae. Quando aparecem casos de corrupção e de grampo telefônico, os investidores se assustam. Será que a dificuldade em achar candidatas às empresas espelho do Sistema Telebrás se deve só à situação econômica? Folha - O governo deve desvalorizar o real? Musa - Tenho sérias dúvidas se dá para diminuir a taxa de juros com a atual política cambial. Mas também tenho dificuldade em imaginar que influência a desvalorização teria sobre a inflação e o resto da economia a curto prazo. A prioridade deve ser baixar os juros. Folha - Como o senhor vê a pressão que os empresários estão exercendo sobre o governo? Musa - Os empresários são muito dóceis. Não sabemos acampar em frente ao Congresso, como as minorias. Somos uma parte importante da sociedade e temos de nos expressar. É assim que funciona o sistema democrático. Folha - O senhor dirigiu a Unipar, mas saiu depois de uma disputa com a família Geyer, controladora da empresa. Como o senhor vê os resultados da Unipar divulgados na semana passada? Musa - Não faço comentários sobre empresas em que trabalho ou já trabalhei. Nos dez meses que estivemos lá, conseguimos reduzir os custos e reverter os resultados negativos do ano passado para números positivos, em 98. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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