São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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PARCIMÔNIA RADICAL

Após sete cortes consecutivos, taxa básica é mantida em 16,5% ao ano; setor produtivo reclama

BC suspende queda do juro e gera protesto

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa decisão que surpreendeu até os mais conservadores analistas do sistema financeiro, o Banco Central interrompeu ontem a trajetória de queda dos juros básicos da economia, mantendo-os em 16,5% ao ano. Foi a primeira vez desde junho de 2003 que o Copom (Comitê de Política Monetária, formado pelo presidente e diretores do BC) não promove um corte na taxa Selic.
A decisão ocorre na primeira reunião do Copom neste ano e vem na contramão do discurso político do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que elegeu a reativação da economia e a geração de empregos como prioridades para 2004 -vendendo otimismo em reuniões ministeriais e sempre citando a queda dos juros como indicador de que o caminho está aberto ao crescimento.
O protesto do setor produtivo foi intenso. Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a decisão representa um "custo desnecessário para a sociedade brasileira". O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, disse que nada justifica uma atitude tão conservadora do BC.

Parada técnica
Nota do BC divulgada após a decisão informa que a interrupção da queda da Selic é temporária. "Considerando que os efeitos do corte de dez pontos percentuais na taxa Selic nos últimos meses ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom decidiu interromper temporariamente o processo de flexibilização da política monetária", informou o banco no início da noite.
A grande maioria dos analistas de mercado apostava num corte de 0,5 ponto percentual. Os mais otimistas falavam em uma redução de um ponto, para estimular a recuperação da economia.
José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston, classificou a decisão do BC como um ""excesso de parcimônia".
A decisão de ontem não foi unânime: dos nove membros da diretoria do BC, oito votaram pela manutenção dos juros. Os votos não são divulgados. A taxa será mantida em 16,5% ao ano até a próxima reunião do Copom, nos dias 17 e 18 de fevereiro.
A taxa Selic é aquela que remunera os empréstimos feitos, diariamente, entre o Banco Central e os bancos. Ela serve de referência para as taxas praticadas nas demais modalidades de crédito.

Inflação
Cenários traçados pelo próprio BC indicam ser reduzida a probabilidade de uma volta da inflação. Segundo a instituição, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registraria alta de 4,5% neste ano se a taxa Selic fosse mantida em 16% anuais até dezembro próximo.
A meta de inflação para 2004 foi fixada pelo governo em 5,5%, admitindo-se uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Isso significa que, na teoria, os juros poderiam ser reduzidos, sem prejuízo ao cumprimento dos objetivos traçados pela equipe econômica.


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