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PARCIMÔNIA RADICAL
Após sete cortes consecutivos, taxa básica é mantida em 16,5% ao ano; setor produtivo reclama
BC suspende queda do juro e gera protesto
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa decisão que surpreendeu
até os mais conservadores analistas do sistema financeiro, o Banco
Central interrompeu ontem a trajetória de queda dos juros básicos
da economia, mantendo-os em
16,5% ao ano. Foi a primeira vez
desde junho de 2003 que o Copom (Comitê de Política Monetária, formado pelo presidente e diretores do BC) não promove um
corte na taxa Selic.
A decisão ocorre na primeira
reunião do Copom neste ano e
vem na contramão do discurso
político do governo Luiz Inácio
Lula da Silva, que elegeu a reativação da economia e a geração de
empregos como prioridades para
2004 -vendendo otimismo em
reuniões ministeriais e sempre citando a queda dos juros como indicador de que o caminho está
aberto ao crescimento.
O protesto do setor produtivo
foi intenso. Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), a decisão representa um "custo desnecessário para a
sociedade brasileira". O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro, disse que nada justifica uma
atitude tão conservadora do BC.
Parada técnica
Nota do BC divulgada após a decisão informa que a interrupção
da queda da Selic é temporária.
"Considerando que os efeitos do
corte de dez pontos percentuais
na taxa Selic nos últimos meses
ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom decidiu interromper temporariamente o processo de flexibilização
da política monetária", informou
o banco no início da noite.
A grande maioria dos analistas
de mercado apostava num corte
de 0,5 ponto percentual. Os mais
otimistas falavam em uma redução de um ponto, para estimular a
recuperação da economia.
José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston, classificou
a decisão do BC como um ""excesso de parcimônia".
A decisão de ontem não foi unânime: dos nove membros da diretoria do BC, oito votaram pela
manutenção dos juros. Os votos
não são divulgados. A taxa será
mantida em 16,5% ao ano até a
próxima reunião do Copom, nos
dias 17 e 18 de fevereiro.
A taxa Selic é aquela que remunera os empréstimos feitos, diariamente, entre o Banco Central e
os bancos. Ela serve de referência
para as taxas praticadas nas demais modalidades de crédito.
Inflação
Cenários traçados pelo próprio
BC indicam ser reduzida a probabilidade de uma volta da inflação.
Segundo a instituição, o IPCA
(Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) registraria alta de 4,5%
neste ano se a taxa Selic fosse
mantida em 16% anuais até dezembro próximo.
A meta de inflação para 2004 foi
fixada pelo governo em 5,5%, admitindo-se uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais
para cima ou para baixo. Isso significa que, na teoria, os juros poderiam ser reduzidos, sem prejuízo ao cumprimento dos objetivos
traçados pela equipe econômica.
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