São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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Eleição norte-americana pode impedir liberalização comercial

Eric Feferberg/France Presse
Vista de Davos, onde acontece o Fórum Econômico Mundial; houve protestos contra o encontro


DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Richard Levin, presidente da Universidade de Yale (EUA), jogou um balde de água fria no relativo otimismo sobre a perspectiva de retomada das negociações comerciais globais, provocado por carta de Robert Zoellick, principal negociador norte-americano, a seus parceiros. Levin, em debate sobre o comércio no encontro anual de 2004 do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, disse que, no ano que vem, em uma nova sessão sobre comércio, os participantes certamente dirão que ficaram desapontados com os avanços obtidos em 2004.
A razão, sempre segundo Levin: as eleições presidenciais norte-americanas. É um forte contraste com o fato de que Zoellick, em sua carta, dissera aos parceiros que as eleições (e o viés protecionista que elas inevitavelmente despertam) não atrapalhariam as negociações da chamada Agenda Doha de Desenvolvimento. "Não há uma só voz a favor da liberalização comercial nos EUA, ao menos até novembro (quando ocorre a votação)", disparou Levin.
O ministro egípcio do Comércio Exterior, Youssuf Boutros-Ghali, ainda tentou consertar ao dizer que não era necessário muito para avançar. À Folha, Boutros-Ghali foi um pouco mais contido no otimismo sobre a carta de Zoellick, na qual o funcionário norte-americano diz que é preciso fixar uma data para acabar com todos os mecanismos de subsídios à exportação de produtos agrícolas.
"É um positivo primeiro passo", diz o egípcio. Mas acrescenta: "Não podemos esquecer que retomar as negociações [depois do fracasso de Cancún, em setembro] significa restaurar a confiança entre os parceiros e no próprio processo negociador".
Como? Primeiro, por meio do "contato direto". Boutros-Ghali sugere a reedição das reuniões miniministeriais que precederam Cancún. Sugere também que os 148 países que são membros da Organização Mundial do Comércio "façam acordo em algum item de substância". O item óbvio, do ponto de vista brasileiro, é a agricultura. Mas o ministro egípcio não quer um acordo definitivo. Lembra que, antes, é preciso um acerto em torno das modalidades da negociação agrícola, uma espécie de pré-negociação, em que apenas se esboça o resultado final a ser atingido, mas não entram os números a respeito da redução do protecionismo agrícola.
Mas outro dos participantes do debate sobre o comércio, Dani Rodrik, da John Kennedy School of Government (Harvard), minimiza a importância da liberalização agrícola para os países em desenvolvimento. Sugere, como mais importante, reduzir ou eliminar as restrições impostas para a migração de trabalhadores temporários. Um dos itens em negociação na OMC é precisamente a possibilidade de que trabalhadores de um país tenham contratos temporários em outro país.
A eliminação das restrições hoje vigentes, até que os trabalhadores temporários atingissem um teto de 3% da força de trabalho do país que os abrigaria, daria um ganho, para os países em desenvolvimento, de US$ 20 bilhões/ano, calcula Rodrik. (CLÓVIS ROSSI)


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