São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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ENTREVISTA

Ricardo K culpa gestão Opportunity por queda nas ações e prevê corte de custo

Herdamos bomba-relógio, afirma a Brasil Telecom

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Desde que a nova administração assumiu a Brasil Telecom, em 30 de setembro do ano passado, as ações da companhia já caíram 16%, depois de uma alta expressiva nas primeiras semanas.
Sem citar o nome do Opportunity, que estava no comando da empresa, o presidente da BrT, Ricardo Knoepfelmacher, 39, responsabiliza a gestão anterior por essa queda. "Encontramos uma bomba-relógio que agora estamos desmontando", afirmou Ricardo K, como é conhecido no meio empresarial.
Segundo Ricardo K, essa queda de ações é reflexo principalmente de uma renegociação de contratos feita pela gestão anterior um mês antes de os novos administradores entrarem na empresa.
Foram renegociados quase R$ 2 bilhões em contratos, quando a média mensal da empresa é de R$ 150 milhões. Os custos da empresa aumentaram 14%, e o mercado foi informado disso. "O resultado da empresa certamente foi afetado por esses novos custos."
Apesar de responsabilizar o Opportunity por essa queda das ações, Ricardo K afirma que não é objetivo da empresa retaliar a antiga gestão. "Não vamos ficar chafurdando nessa lama", afirma. "O passado tem de ser enterrado." Leia a seguir entrevista à Folha.

Folha - Como o sr. explica a queda de 16% no preço das ações da Brasil Telecom desde que a nova gestão assumiu a empresa?
Ricardo K -
Toda informação, quando mal interpretada, pode gerar algum ruído. A atual administração da Brasil Telecom pauta o seu trabalho pela ética, pela transparência e pela obediência à lei. Desde a nossa chegada, deparamo-nos com uma série de aumentos de custos que nos obrigaram a tomar medidas estruturais complexas, e informamos esse problema ao mercado. Nós tivemos quase R$ 2 bilhões de contratos renegociados pela antiga administração às vésperas da nossa chegada. Todo mês, a empresa renova cerca de R$ 150 milhões em contratos.
Em agosto, um mês antes da nossa chegada, foi renegociado R$ 1,9 bilhão em contratos, o que representou um aumento médio de 14% nos custos de serviços de terceiros. Essa foi uma bomba-relógio que encontramos e agora estamos desmontando. Nós transmitimos essa informação ao mercado. Herdamos uma situação muito complicada.

Folha - Como a empresa pretende desmontar essa bomba-relógio?
Ricardo K -
Nós estamos chamando os nossos 25 principais fornecedores para renegociar os contratos. Nossa expectativa é conseguir, em parceria com os fornecedores, uma redução substancial nos preços desses contratos. Quanto conseguiremos reduzir? Não sei. Nós estamos negociando contrato por contrato.

Folha - É isso o que explica a queda das ações?
Ricardo K -
Claro. Ninguém sabia dessas negociações. O mercado não tinha esse conhecimento. O resultado da empresa certamente foi afetado por esses novos custos. E também fomos explícitos quanto à queda no mercado de voz fixa, que em 2006 não será compensado pelo reajuste tarifário. Essa transparência é fundamental para o mercado avaliar corretamente o valor da ação.

Folha - Foi por isso que a empresa anunciou a provisão de R$ 622 milhões?
Ricardo K -
Não. A provisão de R$ 622 milhões foi feita por outros motivos. Houve necessidade de atualização da tábua atuarial do plano de previdência dos funcionários, que estava defasado. As pessoas hoje vivem mais, e a nossa tábua atuarial estava defasada. Também tivemos outras contingências decorrentes de processos trabalhistas e fiscais, aproveitamento indevido do ICMS, e nova súmula Fust.

Folha - A queda das ações da empresa preocupa?
Ricardo K -
Não. Nós temos um mandato para valorizar a empresa no médio e longo prazos. As ações começaram a crescer muito, pouco antes da nossa entrada na empresa, e, depois que alcançaram um patamar bastante alto, começaram a cair. A ação, hoje, está no mesmo patamar de duas semanas antes da nossa chegada à empresa, quando o mercado já refletia a euforia com a perspectiva da rápida troca dos antigos gestores. Os fundamentos da empresa continuam muito sólidos.
Nós recebemos, na semana passada, vários relatórios de analistas. Nós analisamos oito, e esses mantêm recomendação de compra da ação. Um deles, do banco ABN Amro, diz que a ação da companhia tem potencial de crescimento de quase 150%.
O relatório chama a atenção, entre outras coisas, à maior transparência e à nova governança corporativa. As pessoas e o mercado tinham dúvidas sobre como eram tratadas essas questões dentro da empresa. Agora, os investidores estão muito mais tranqüilos.

Folha - Quais são as perspectivas da empresa para este ano?
Ricardo K -
Nós fizemos uma reunião com os investidores no dia 19 dezembro na qual nós explicitamos os nossos planos e a nossa visão sobre o mercado de telecomunicações para este ano.
Nós temos alguns ofensores importantes à performance para este ano. O primeiro deles são as grandes questões regulatórias. Há uma série de investimentos importantes que nós vamos precisar fazer para atender às exigências dos novos contratos de concessão e à manutenção das agressivas metas do plano de universalização. O segundo ofensor é o fato de o nosso principal negócio, a telefonia fixa, estar encolhendo.
Esse não é um fenômeno brasileiro, mas que foi mascarado no Brasil durante bastante tempo por causa do índice de correção de tarifas. A inflação era alta e o índice anual encarregado do reajuste de tarifa, o IGP, mascarava esse encolhimento do setor.
Neste ano, com o índice de inflação tão baixo e com a adoção do novo índice, o IST, nós estimamos que o aumento da tarifa não vai ser suficiente para compensar a inexorável queda de receita. E o terceiro ponto, muito importante, é que, durante este ano, vamos partir para cortar custos e buscar rentabilidade. Nós temos que ser obsessivos no corte de custos.

Folha - Já foi definida qual será a nova agência de propaganda?
Ricardo K -
Ainda não. Estamos na fase final. O mais importante, no entanto, é que a escolha da agência de propaganda foi feita dentro da empresa. Antes, a decisão era tomada fora da empresa.

Folha - Antes era o Opportunity que tomava essas decisões?
Ricardo K -
Não localizamos dentro da empresa pessoas que tivessem participado da seleção nem critérios técnicos no processo. Agora foi diferente. Avaliamos 25 agências. Dessas, foram escolhidas oito, entre elas a Duda Mendonça, a atual agência principal. Serão selecionadas duas agências: uma que vai cuidar da telefonia fixa e móvel e outra que vai cuidar dos provedores de internet.

Folha - Como o sr. pretende tratar as irregularidades encontradas da administração anterior?
Ricardo K -
Acho importante dizer que, felizmente, essa agenda de explicitação das irregularidades toma cada vez menos tempo dos executivos da empresa. Quando encontrarmos uma irregularidade, nós vamos tomar as medidas cabíveis. Não queremos ficar chafurdando nessa lama. Foi com esse intuito que fizemos a representação na CVM, além de todas as medidas judiciais que já foram e ainda serão tomadas. Mas isso toma cada vez menos tempo da administração da empresa. O passado tem que ser enterrado.

Folha - A nova gestão está preparando a empresa para ser vendida? Já há negociações?
Ricardo K -
Nosso papel é valorizar a empresa e transformá-la na melhor empresa de telecomunicações do país. Qualquer negociação com os acionistas está nas mãos deles. Não temos conhecimento de qualquer negociação. Os principais parâmetros de avaliação da performance da empresa vêm caindo de 2002, e o nosso objetivo é recuperá-los. Em nenhum momento foi dito que nosso objetivo é vender a empresa.


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