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CRISE NOS MERCADO / AMEAÇAS
Impactos do câmbio preocupam governo
Equipe econômica teme mais o efeito do dólar na inflação do que propriamente o da redução do crescimento mundial
Contágio via inflação seria "mais complicado" porque obrigaria o BC a tomar medidas mais drásticas como o aumento dos juros
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O medo da equipe econômica
com os reflexos que a crise financeira internacional pode
ter no Brasil está relacionado,
atualmente, muito mais aos riscos de alta da inflação do que
com um impacto direto no
crescimento deste ano.
Segundo a Folha apurou, a
avaliação do governo é que
uma redução do ritmo de crescimento da economia em 2008
provocada pelo cenário internacional seria mais "fácil" de
administrar. Primeiro porque a
economia brasileira está crescendo acima da sua capacidade
e uma freada poderia até ajudar a acomodar o ritmo de
crescimento. Além disso, esse
cenário livraria o governo de
ser diretamente responsabilizado por um desempenho menor da economia, afinal o Brasil
estaria sofrendo conseqüências da turbulência que afeta o
mundo como um todo.
Já o contágio via inflação seria "mais complicado" porque
obrigaria a equipe econômica a
tomar medidas mais drásticas
como a alta do juros, o que, no
final das contas, ainda teria como conseqüência um freio no
crescimento.
Isso sem contar o impacto
"psicológico negativo" que uma
elevação de juros tem sobre a
expectativa dos empresários.
Principalmente num momento
em que é preciso turbinar investimentos produtivos para
atender à demanda interna puxada pelo aumento do crédito.
Uma recessão mais forte nos
Estados Unidos afetaria a compra de produtos daquele país,
sobretudo da China, que funciona como o motor-reserva do
crescimento mundial. Com
EUA e China crescendo menos
e, portanto, demandando menos bens e serviços, haveria repercussão negativa nos preços,
principalmente das commodities, e a queda no nível de atividade se multiplicaria pelo resto
do mundo e no Brasil.
Isso reduziria as exportações, gerando déficits nas transações com o resto do mundo e
isso precisaria ser financiado
pela manutenção do ingresso
de dinheiro no país para investimentos diretos e aplicações
financeiras. Como o país tem
US$ 185 bilhões em reservas
internacionais, apesar de deficitário em conta corrente, o
Brasil não seria tão afetado.
A pior hipótese na avaliação
da equipe econômica é a crise
entrar no país diretamente via
inflação por pressão na taxa de
câmbio. Num momento em
que a economia cresce embalada pelo crédito e que outros fatores como os alimentos têm
puxado preços para cima, seria
como jogar gasolina na fogueira, avalia a equipe econômica.
Como as expectativas de inflação para 2008 de 4,37% já
estão quase coladas no centro
da meta, de 4,5%, o Banco Central teria de elevar os juros.
Por enquanto, o mercado
tem feito parte do trabalho para o BC. Ao elevar as taxas de
juros nos mercados futuros, na
prática, o próprio sistema está
encarecendo os custos financeiros nos empréstimos.
O BC, por sua vez, vem reforçando o discurso conservador.
Ontem, na solenidade de posse
da nova diretora de Assuntos
Internacionais, Maria Celina
Arraes, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, sinalizou que a hipótese da alta
dos juros não está descartada.
Se ela ocorrerá de fato e em que
momento, só o tempo dirá.
Por isso, a ata da próxima
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária do BC) é
considerada de extrema importância. Na análise de especialistas ouvidos pela Folha, o
BC deverá deixar claro no documento referente à reunião
que acontecerá hoje e amanhã
que está realmente disposto a
agir se necessário e não terá
restrições políticas.
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