São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADO / AMEAÇAS

Impactos do câmbio preocupam governo

Equipe econômica teme mais o efeito do dólar na inflação do que propriamente o da redução do crescimento mundial

Contágio via inflação seria "mais complicado" porque obrigaria o BC a tomar medidas mais drásticas como o aumento dos juros

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O medo da equipe econômica com os reflexos que a crise financeira internacional pode ter no Brasil está relacionado, atualmente, muito mais aos riscos de alta da inflação do que com um impacto direto no crescimento deste ano.
Segundo a Folha apurou, a avaliação do governo é que uma redução do ritmo de crescimento da economia em 2008 provocada pelo cenário internacional seria mais "fácil" de administrar. Primeiro porque a economia brasileira está crescendo acima da sua capacidade e uma freada poderia até ajudar a acomodar o ritmo de crescimento. Além disso, esse cenário livraria o governo de ser diretamente responsabilizado por um desempenho menor da economia, afinal o Brasil estaria sofrendo conseqüências da turbulência que afeta o mundo como um todo.
Já o contágio via inflação seria "mais complicado" porque obrigaria a equipe econômica a tomar medidas mais drásticas como a alta do juros, o que, no final das contas, ainda teria como conseqüência um freio no crescimento.
Isso sem contar o impacto "psicológico negativo" que uma elevação de juros tem sobre a expectativa dos empresários. Principalmente num momento em que é preciso turbinar investimentos produtivos para atender à demanda interna puxada pelo aumento do crédito.
Uma recessão mais forte nos Estados Unidos afetaria a compra de produtos daquele país, sobretudo da China, que funciona como o motor-reserva do crescimento mundial. Com EUA e China crescendo menos e, portanto, demandando menos bens e serviços, haveria repercussão negativa nos preços, principalmente das commodities, e a queda no nível de atividade se multiplicaria pelo resto do mundo e no Brasil.
Isso reduziria as exportações, gerando déficits nas transações com o resto do mundo e isso precisaria ser financiado pela manutenção do ingresso de dinheiro no país para investimentos diretos e aplicações financeiras. Como o país tem US$ 185 bilhões em reservas internacionais, apesar de deficitário em conta corrente, o Brasil não seria tão afetado.
A pior hipótese na avaliação da equipe econômica é a crise entrar no país diretamente via inflação por pressão na taxa de câmbio. Num momento em que a economia cresce embalada pelo crédito e que outros fatores como os alimentos têm puxado preços para cima, seria como jogar gasolina na fogueira, avalia a equipe econômica.
Como as expectativas de inflação para 2008 de 4,37% já estão quase coladas no centro da meta, de 4,5%, o Banco Central teria de elevar os juros.
Por enquanto, o mercado tem feito parte do trabalho para o BC. Ao elevar as taxas de juros nos mercados futuros, na prática, o próprio sistema está encarecendo os custos financeiros nos empréstimos.
O BC, por sua vez, vem reforçando o discurso conservador. Ontem, na solenidade de posse da nova diretora de Assuntos Internacionais, Maria Celina Arraes, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, sinalizou que a hipótese da alta dos juros não está descartada. Se ela ocorrerá de fato e em que momento, só o tempo dirá.
Por isso, a ata da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) é considerada de extrema importância. Na análise de especialistas ouvidos pela Folha, o BC deverá deixar claro no documento referente à reunião que acontecerá hoje e amanhã que está realmente disposto a agir se necessário e não terá restrições políticas.


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