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VINICIUS TORRES FREIRE
As desrazões do pânico
Bolsas caem sem motivo "essencial", devido a feriado nos EUA e à rebarba de notícias de sexta-feira em Wall Street
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PÂNICOS TÊM muitos e diferentes motivos. Tantos motivos,
tantas explicações diferentes
e de origem tão diversa que, no conjunto, não explicam grande coisa.
Sim, o medo está em disparada
-mas faz quase uma quinzena. Sim,
ninguém entendeu ou apreciou o
pacote Bush. Sim, Ásia e Europa pegaram a rebarba do final da sexta-feira passada em Nova York, que nos
números não foi tão dramático, mas
que acrescentou novo motivo de
preocupação para bancos e mercados de crédito, em especial o de finanças exóticas. De resto, o mercado americano estava fechado ontem
e, pelo jeito, ninguém quis esperar
para ver se o caminhão da finança
dos EUA também hoje desceria a
rua desgovernado, como indicavam
os índices futuros ontem de tarde.
Mas por que a ficha da recessão teria
caído só ontem a leste do Atlântico?
Ações de instituições financeiras
puxaram os tombos na Europa e na
Ásia. Havia rumores de perdas em
bancos chineses, alemães e franceses com derivativos imobiliários
americanos. O custo de fazer seguro
financeiro para empresas européias
decolou. Mas, em suma, o fator de
medo menos irracional parecia ser a
crise de instituições que fazem seguro de títulos financeiros nos EUA.
Não se trata de seguradoras, reguladas pelo governo. São empresas
que entram em contratos por meio
dos quais se comprometem a cobrir
eventual calote num título financeiro e, em troca, recebem pagamentos
periódicos da outra parte. O título financeiro pode ser qualquer coisa: de
simples empréstimo de uma empresa até um estrambótico derivativo,
um título que rende o pagamento de
outro título lastreado num pagamento do mundo "real" -prestação
de casa ou cartão de crédito.
Para ficar num caso bem simplezinho: se as finanças da empresa que
tomou o empréstimo "segurado"
pioram, o banco que emprestou está
em tese e/ou em parte coberto e não
precisa registrar no balanço que o tal
empréstimo pode ir para o vinagre.
Mas, se a empresa que fez o "seguro"
também está micada, o "seguro"
passa a valer menos ou nada.
Pois bem, depois de muito boato,
agências de cotação de risco passaram a confirmar na sexta-feira que
essas "seguradoras" estão mal das
pernas: podem não cumprir os contratos, pois "seguraram" muita dívida ruim. Perderam a "nota dez" de
crédito. Se forem à breca ou receberem notas menores, os títulos ruins
que elas "seguravam" passam a valer
menos, e bancos têm de reservar
mais dinheiro para perdas (certas
instituições são obrigadas a vender
tais títulos apodrecidos). Na semana
passada, Merrill Lynch e Citigroup
já deram baixa de R$ 4 bilhões de títulos em tese "segurados".
Quanto menor o crédito das "seguradoras", menos vale seu "seguro", menos valem os papéis apodrecidos que tais instituições "seguravam". Fica mais arriscado emprestar. O crédito fica mais caro. A economia "real" também tende a sofrer.
Para piorar, tais contratos de "seguro", "credit default swaps" (CDS),
também são negociados no mercado, o que só aumenta a confusão e a
cadeia potencial de perdas. Quase
nada desse dominó começou a cair.
O Brasil com isso? A Bovespa é
"mundializada". Significa que a economia vai entrar em parafuso? Por
ora, não -não por isso, ao menos.
vinit@uol.com.br
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