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Arrecadação bate recorde em dezembro
Com crise e desonerações, 2009 registra 1ª queda anual nos tributos federais desde 2003, mas dezembro aponta 2010 forte
Queda na arrecadação federal chega a R$ 21,6 bi em 2009; incentivos fiscais para eletrodomésticos e veículos custaram R$ 24,9 bi
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após cair com força no início
do ano passado em decorrência
da crise global, a arrecadação
de tributos federais pegou embalo na retomada econômica
dos últimos meses e atingiu o
total de R$ 710,022 bilhões em
2009.
Ainda assim, descontada a
inflação, a queda em relação a
2008 foi de 2,96%, a primeira
retração desde 2003, quando o
órgão passou a divulgar os valores corrigidos pelo IPCA.
Com a aceleração do consumo no fim do ano, a arrecadação cresceu pelo terceiro mês
seguido e bateu recorde em dezembro, somando R$ 73,869
bilhões no mês.
O resultado atenuou o tombo
nas receitas federais, que até
setembro estava em torno de
7%, quando o governo completava 11 meses consecutivos de
retração nos tributos arrecadados.
"Foi um ano difícil para a
economia brasileira e especialmente difícil para a Receita Federal", disse o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo. "Mesmo com a recuperação de parte
das perdas no fim do ano, o resultado somou R$ 21,6 bilhões
a menos que o arrecadado em
2008", acrescentou.
Desonerações
O secretário disse que, além
do impacto da crise na economia brasileira, o governo precisou adotar medidas anticíclicas
de desoneração em alguns setores, como as indústrias automobilística e de eletrodomésticos, para estimular o consumo
e a produção.
De acordo com dados da Receita, a renúncia fiscal em
2009, apenas com essas medidas, chegou a R$ 24,9 bilhões,
ainda que a estratégia tenha se
refletido em um aumento na
arrecadação de outros tributos
incidentes na cadeia produtiva.
"Em face das dificuldades e
dos estímulos concedidos, foi
um resultado auspicioso", considerou Cartaxo. Mesmo assim,
ele reconheceu que a retração
menor do que a prevista só foi
possível graças ao aperto da fiscalização e aos artifícios utilizados pelo governo para recuperar receitas extraordinárias.
Segundo ele, o aumento do
rigor nas cobranças não foi prejudicado nem mesmo pela crise
que abalou a cúpula do órgão e
que culminou com a demissão,
em agosto, da então secretária
da Receita, Lina Maria Vieira.
"A base da pirâmide continuou
trabalhando normalmente,
tanto que as metas de fiscalização foram atingidas", disse.
Além disso, o caixa da Receita foi reforçado com R$ 13,6 bilhões em depósitos judiciais
que estavam retidos em bancos
e com o reparcelamento de dívidas por meio do chamado
"Refis da Crise". "Em tempos
de bonança, geralmente não se
procuram esses créditos que
estão em segundo plano, mas
em momentos de crise precisamos recorrer a todos os recursos", afirmou Cartaxo.
Em dezembro, mesmo sem a
recuperação de R$ 2,3 bilhões
em depósitos judiciais na Caixa
Econômica Federal e o pagamento por uma instituição financeira de R$ 1 bilhão referentes a contribuições em atraso, o resultado ainda seria positivo, a exemplo do que ocorreu
em novembro.
Os dados confirmam que o
crescimento da arrecadação a
partir de agora deve ser sustentado pela atividade econômica.
Dessa forma, o aumento registrado em dezembro pode marcar o retorno dos recordes sucessivos na entrada de recursos
no caixa da Receita, como vinha
ocorrendo antes da crise.
Nesse cenário, o crescimento
da economia, aliado ao maior
rigor na fiscalização adotado
durante a turbulência de 2009,
deve garantir o bom resultado
em 2010.
A perspectiva é claramente
favorável ao governo, que em
pleno ano eleitoral terá mais dinheiro à disposição para ampliar gastos sem pressionar a
meta de superavit primário, a
economia para o pagamento
dos juros da dívida, que precisou ser reduzida no ano passado.
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