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ANÁLISE
Crédito "empoça" em porto seguro e fica ainda mais desigual em 2009
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
No setor financeiro, 2009 foi
o ano que ampliou as desigualdades no acesso ao crédito.
Quem já tinha dificuldade para
levantar dinheiro, como pequenas empresas e trabalhadores
sem carteira, viu as portas dos
bancos fecharem. Empresas gigantes, que se financiam no exterior, tiveram que tomar recursos no Brasil e levaram a
maior parte do dinheiro disponível para as demais empresas.
Para o consumidor, os empréstimos que mais cresceram
foram os com garantias reais,
espécie de porto seguro dos
bancos. É o caso do consignado
e do financiamento de veículos,
cujas concessões saltaram
72,2% e 147% em 2009.
Financiamento ao consumo
mesmo só reagiu no final do
ano, quando os bancos privados
voltaram à cena para recuperar
o espaço perdido para as instituições públicas. No último trimestre, a liberação de empréstimos para a compra de bens
duráveis como eletrodomésticos cresceu 23,6%. No ano como um todo, essa variação é diluída para modestos 13%.
Segundo analistas, o crédito
retomou, sim, para os níveis
pré-crise para o consumidor,
que renovou ao longo do ano a
confiança e o apetite por novas
dívidas, conforme viu diminuir
o risco de perder o emprego.
Para pessoa física, as novas
concessões cresceram 19,7%.
Para as empresas, no entanto, a situação ainda não se normalizou. Os empresários buscaram desovar estoque e utilizar toda a capacidade instalada
antes de fazer dívidas. No ano,
as concessões de crédito para
empresas recuaram 6%.
O capital de giro, a principal
linha de crédito para o dia a dia
das empresas, termina o ano no
zero a zero. Financiamento a
exportação por meio de adiantamento de dólares caiu 32,3%.
Entre as empresas, as de
grande porte conseguiram dinheiro com mais facilidade. O
saldo de crédito com tíquete
acima de R$ 10 milhões cresceu
15,4% no ano -abaixo desse valor, a expansão foi de 5,1%.
"Na crise, o pequeno é normalmente o primeiro a levar a
cacetada e o último a sair. Para
o banco, é natural priorizar a
grande empresa porque ela representa mais na carteira dele.
Só depois olha as empresas menores", disse Ricardo Tortorella, diretor do Sebrae-SP.
Na avaliação da economista
Luiza Rodrigues, do Santander,
a aceleração do crédito no final
do ano passado decepcionou.
Nas contas do banco, quando se
retira o efeito sazonal, houve
uma queda de 3,1% nas concessões em novembro e outra de
2,2% em dezembro. "A situação
não melhorou tanto."
Para o Crédit Suisse, a expansão do crédito em 2010 está garantida, dado o maior apetite
dos bancos privados. O banco
vê maior participação do crédito livre, após forte alta dos empréstimos do BNDES e com recursos da poupança em 2009.
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