São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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ANÁLISE

Crédito "empoça" em porto seguro e fica ainda mais desigual em 2009

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

No setor financeiro, 2009 foi o ano que ampliou as desigualdades no acesso ao crédito. Quem já tinha dificuldade para levantar dinheiro, como pequenas empresas e trabalhadores sem carteira, viu as portas dos bancos fecharem. Empresas gigantes, que se financiam no exterior, tiveram que tomar recursos no Brasil e levaram a maior parte do dinheiro disponível para as demais empresas.
Para o consumidor, os empréstimos que mais cresceram foram os com garantias reais, espécie de porto seguro dos bancos. É o caso do consignado e do financiamento de veículos, cujas concessões saltaram 72,2% e 147% em 2009.
Financiamento ao consumo mesmo só reagiu no final do ano, quando os bancos privados voltaram à cena para recuperar o espaço perdido para as instituições públicas. No último trimestre, a liberação de empréstimos para a compra de bens duráveis como eletrodomésticos cresceu 23,6%. No ano como um todo, essa variação é diluída para modestos 13%.
Segundo analistas, o crédito retomou, sim, para os níveis pré-crise para o consumidor, que renovou ao longo do ano a confiança e o apetite por novas dívidas, conforme viu diminuir o risco de perder o emprego. Para pessoa física, as novas concessões cresceram 19,7%.
Para as empresas, no entanto, a situação ainda não se normalizou. Os empresários buscaram desovar estoque e utilizar toda a capacidade instalada antes de fazer dívidas. No ano, as concessões de crédito para empresas recuaram 6%.
O capital de giro, a principal linha de crédito para o dia a dia das empresas, termina o ano no zero a zero. Financiamento a exportação por meio de adiantamento de dólares caiu 32,3%.
Entre as empresas, as de grande porte conseguiram dinheiro com mais facilidade. O saldo de crédito com tíquete acima de R$ 10 milhões cresceu 15,4% no ano -abaixo desse valor, a expansão foi de 5,1%.
"Na crise, o pequeno é normalmente o primeiro a levar a cacetada e o último a sair. Para o banco, é natural priorizar a grande empresa porque ela representa mais na carteira dele. Só depois olha as empresas menores", disse Ricardo Tortorella, diretor do Sebrae-SP.
Na avaliação da economista Luiza Rodrigues, do Santander, a aceleração do crédito no final do ano passado decepcionou. Nas contas do banco, quando se retira o efeito sazonal, houve uma queda de 3,1% nas concessões em novembro e outra de 2,2% em dezembro. "A situação não melhorou tanto."
Para o Crédit Suisse, a expansão do crédito em 2010 está garantida, dado o maior apetite dos bancos privados. O banco vê maior participação do crédito livre, após forte alta dos empréstimos do BNDES e com recursos da poupança em 2009.


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