São Paulo, sexta, 22 de janeiro de 1999

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MERCADO TENSO
Cotação chega a R$ 1,66, segundo a média do BC; a desvalorização acumulada desde o dia 12 já é de 27%
Escassez de dólar faz câmbio disparar

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

O dólar disparou ontem e chegou a bater em R$ 1,78, apesar da aprovação pela Câmara, na véspera, da contribuição previdenciária dos funcionários públicos inativos. As negociações foram tensas, com mais compradores do que vendedores.
Na média ponderada calculada pelo Banco Central, o dólar ficou em R$ 1,66 para venda, com desvalorização de 5,21% do real. Por esse critério, desde o dia 12, um dia antes de a política cambial ser alterada, a desvalorização é de 27,05%.
No fechamento, o dólar estava em R$ 1,71, contra R$ 1,59 no dia anterior. A desvalorização -comparando fechamento contra fechamento- foi de 7,02%, acumulando 29,18% desde o dia 12.
Até as 19h45, o fluxo cambial estava negativo em US$ 190 milhões, sendo US$ 100 milhões pelo segmento comercial e US$ 90 milhões pelo flutuante. A saída não significa queda das reservas em moeda estrangeira do país, já que o Banco Central não tem vendido dólares.
O fluxo ficou negativo apesar de uma entrada de US$ 200 milhões em exportações, recorde em um dia neste ano. Os especialistas observaram que, com o dólar acima de R$ 1,70, exportadores sentiram-se estimulados a trazer seus dólares ao país e vendê-los.
A pressão sobre o câmbio brasileiro fez com que a Bolsa de Nova York fechasse em baixa de 0,77%.
A principal explicação apontada por operadores de câmbio para a forte alta do dólar é a crescente escassez da moeda em poder dos bancos, os únicos que têm abastecido a demanda pela moeda norte-americana desde que o governo decidiu, há uma semana, não intervir mais no mercado.
Com as saídas desde sexta-feira, as mesas de câmbio estimam que na manhã de ontem o estoque dos bancos estava entre US$ 400 milhões e US$ 700 milhões.
Ontem, alguns bancos que ainda tinham dólares relutavam em vender, acreditando que a cotação poderia subir ainda mais.
Um indício da escassez de dólares foi uma remessa de US$ 100 milhões, que teve que ser fechada "no varejo". Ou seja, os dólares foram comprados de vários bancos em pequenos lotes, de US$ 150 mil a US$ 1 milhão, em média.
O dia também foi de testes. Muitos operadores acreditavam que o BC poderia entrar vendendo dólares se a cotação ultrapassasse R$ 1,60, mas isso não aconteceu.
Grandes operações, tanto de entrada quanto de saída de dólares, foram identificadas. A Petrobrás e o Lloyds teriam comprado para enviar US$ 100 milhões cada um ao exterior para pagar dívidas. Na ponta da entrada, a Volks trouxe US$ 75 milhões e a Vale, US$ 50 milhões, ambas de exportações.
O Banco Central interveio no over, o mercado por um dia, e manteve os juros a 32,5% ao ano.
Segundo analistas, a sensação é de que falta uma orientação mais clara ao BC. Primeiro, a reunião do Comitê de Política Monetária, na segunda-feira, sinalizou alta dos juros. A tendência foi confirmada nos dois dias seguintes, com o over sendo puxado de 30% para 32% e, depois, para 32,5%. O movimento de ontem, de manter o over estável, rompeu com as expectativas.
Para especialistas, o governo estaria se orientando mais pela pauta política. Teria mantido os juros estáveis devido ao sucesso da votação da Previdência no dia anterior.
A expectativa de que o governo volte a puxar os juros para conter a fuga de recursos fez explodir as projeções de taxas no mercado futuro. Os contratos de março projetaram juros de 53,63% ao ano em fevereiro, contra 42,70% no dia anteontem. Durante o dia, chegaram a superar 60%.



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