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MERCADO TENSO
Cotação chega a R$ 1,66, segundo a média do BC; a desvalorização acumulada desde o dia 12 já é de 27%
Escassez de dólar faz câmbio disparar
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O dólar disparou ontem e
chegou a bater
em R$ 1,78, apesar da aprovação pela Câmara, na véspera,
da contribuição
previdenciária dos funcionários
públicos inativos. As negociações
foram tensas, com mais compradores do que vendedores.
Na média ponderada calculada
pelo Banco Central, o dólar ficou
em R$ 1,66 para venda, com desvalorização de 5,21% do real. Por esse
critério, desde o dia 12, um dia antes de a política cambial ser alterada, a desvalorização é de 27,05%.
No fechamento, o dólar estava
em R$ 1,71, contra R$ 1,59 no dia
anterior. A desvalorização -comparando fechamento contra fechamento- foi de 7,02%, acumulando 29,18% desde o dia 12.
Até as 19h45, o fluxo cambial estava negativo em US$ 190 milhões,
sendo US$ 100 milhões pelo segmento comercial e US$ 90 milhões
pelo flutuante. A saída não significa queda das reservas em moeda
estrangeira do país, já que o Banco
Central não tem vendido dólares.
O fluxo ficou negativo apesar de
uma entrada de US$ 200 milhões
em exportações, recorde em um
dia neste ano. Os especialistas observaram que, com o dólar acima
de R$ 1,70, exportadores sentiram-se estimulados a trazer seus dólares ao país e vendê-los.
A pressão sobre o câmbio brasileiro fez com que a Bolsa de Nova
York fechasse em baixa de 0,77%.
A principal explicação apontada
por operadores de câmbio para a
forte alta do dólar é a crescente escassez da moeda em poder dos
bancos, os únicos que têm abastecido a demanda pela moeda norte-americana desde que o governo
decidiu, há uma semana, não intervir mais no mercado.
Com as saídas desde sexta-feira,
as mesas de câmbio estimam que
na manhã de ontem o estoque dos
bancos estava entre US$ 400 milhões e US$ 700 milhões.
Ontem, alguns bancos que ainda
tinham dólares relutavam em vender, acreditando que a cotação poderia subir ainda mais.
Um indício da escassez de dólares foi uma remessa de US$ 100
milhões, que teve que ser fechada
"no varejo". Ou seja, os dólares foram comprados de vários bancos
em pequenos lotes, de US$ 150 mil
a US$ 1 milhão, em média.
O dia também foi de testes. Muitos operadores acreditavam que o
BC poderia entrar vendendo dólares se a cotação ultrapassasse R$
1,60, mas isso não aconteceu.
Grandes operações, tanto de entrada quanto de saída de dólares,
foram identificadas. A Petrobrás e
o Lloyds teriam comprado para
enviar US$ 100 milhões cada um
ao exterior para pagar dívidas. Na
ponta da entrada, a Volks trouxe
US$ 75 milhões e a Vale, US$ 50
milhões, ambas de exportações.
O Banco Central interveio no
over, o mercado por um dia, e
manteve os juros a 32,5% ao ano.
Segundo analistas, a sensação é
de que falta uma orientação mais
clara ao BC. Primeiro, a reunião do
Comitê de Política Monetária, na
segunda-feira, sinalizou alta dos
juros. A tendência foi confirmada
nos dois dias seguintes, com o over
sendo puxado de 30% para 32% e,
depois, para 32,5%. O movimento
de ontem, de manter o over estável, rompeu com as expectativas.
Para especialistas, o governo estaria se orientando mais pela pauta política. Teria mantido os juros
estáveis devido ao sucesso da votação da Previdência no dia anterior.
A expectativa de que o governo
volte a puxar os juros para conter a
fuga de recursos fez explodir as
projeções de taxas no mercado futuro. Os contratos de março projetaram juros de 53,63% ao ano em
fevereiro, contra 42,70% no dia
anteontem. Durante o dia, chegaram a superar 60%.
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