São Paulo, sexta, 22 de janeiro de 1999

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCOSUL
Programa de exportações pode mudar para impedir que vizinho aplique tarifas sobre produto brasileiro
Governo tenta evitar retaliação argentina

da Sucursal de Brasília

O governo brasileiro poderá alterar as regras do Proex (Programa de Financiamento às Exportações) para produtores que destinam suas mercadorias à Argentina e pagamento das importações vindas do país vizinho.
O objetivo é impedir que os efeitos da desvalorização do real levem o governo argentino a ceder às pressões do empresariado e aplicar uma tarifa adicional de importação aos produtos brasileiros. A Folha apurou que os negociadores avaliam que essa medida levaria ao rompimento do Mercosul.
"Antes da desvalorização do real, esses instrumentos tiveram impacto no comércio bilateral", afirmou o embaixador José Alfredo Graça Lima, chefe da área econômica do Itamaraty.
Graça Lima, entretanto, disse que o governo não adotará medidas de compensação -no caso de inversão, em 99, do saldo negativo para o Brasil no comércio bilateral que se verifica há três anos.
Também declarou que o país não aceitará medidas de defesa comercial (sobretaxas ou cotas) a produtos brasileiros que se tornarem mais competitivos.
Ontem, a sobrevivência do Mercosul depois da crise cambial foi discutida durante almoço de autoridades brasileiras com o subsecretário de Relações Econômicas Internacionais da chancelaria argentina, Jorge Campbell.
Do lado brasileiro, participaram os ministros Luiz Felipe Lampreia (Relações Exteriores) e Celso Lafer (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Graça Lima e o assessor especial da Câmara de Comércio Exterior, ministro Ruy Pereira.
"Podemos construir um muro entre os dois países, colocar arame farpado ou até dinamitar as pontes. Mas essas são soluções muito caras. Por isso, preferimos dialogar", ironizou Campbell.
A revisão das regras do Proex é antiga reivindicação do governo argentino, que alega que suas linhas de financiamento são subsídios que distorcem a competitividade na região.
Ontem, o Ministério da Economia sugeriu um pacote de seis medidas para atenuar o impacto da desvalorização brasileira.
Uma dessas propostas, que será apresentada na segunda-feira pelo secretário de Indústria e Comércio, Alieto Guadagni, à equipe econômica brasileira, é o pedido de corte de subsídios aos produtos exportados para o país.
Um dos pontos mais polêmicos é a proposta de dolarizar a economia, que daria a responsabilidade pela política monetária aos EUA.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.