São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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CONTA SALGADA

Serviços de bancos subiram 14,5% de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004; IPC no período foi de 6,54%

Tarifas bancárias sobem mais que inflação

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos promoveram reajustes médios de 14,52% nas tarifas que cobram dos clientes, em um período de 12 meses encerrado em janeiro passado. Conseguiram, com isso, acompanhar de perto ou até ultrapassar os aumentos dos preços administrados, considerados os maiores vilões da inflação. E excederam com folga o aumento de 6,54% do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), no mesmo período.
Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e se referem a movimentos de preços ocorridos na cidade de São Paulo. Mostram que, neste momento, em que as receitas com serviços ganham peso no resultado dos bancos, as instituições têm aproveitado para reajustar suas tarifas e começar a cobrar por serviços, até então, gratuitos. Em 2003, os lucros das instituições financeiras foram bilionários -as sete maiores registraram resultado positivo conjunto de R$ 13,4 bilhões.
Paulo Picchetti, coordenador-geral do IPC da Fipe, explica que os reajustes dos chamados serviços bancários não chegam a pressionar a inflação porque têm peso muito pequeno no índice.
Mas diz que aumentos de tarifas bancárias pesam no bolso dos brasileiros que utilizam serviços das instituições financeiras: "As tarifas bancárias têm peso pequeno no índice porque representam um percentual muito baixo dos gastos das famílias que ganham até 20 salários mínimos (usadas como base para a pesquisa). Mas a magnitude desses reajustes chama a atenção".

Administrados
Os serviços de utilidade pública, por exemplo, aumentaram 14,44%, menos que os 14,52% de alta das tarifas bancárias nos 12 meses encerrados em janeiro passado. Por trás dessa categoria, há desde subitens como luz, que subiu 16,98%, a gás de botijão, cujos preços caíram 6,27% no período.
Já os serviços de comunicações sofreram reajuste médio de 13,96% entre fevereiro de 2003 e o mês passado. Também por trás desse item, há subitens como telefone fixo, que teve alta de 17,72%, e provedor para internet, que registrou deflação de 14,8%.
Essas tarifas fazem parte do chamado grupo de preços administrados -que têm fórmulas de reajustes, geralmente, estipuladas pelo governo- e são consideradas pelos analistas uma das principais fontes de pressão sobre a inflação nos últimos anos. Ao contrário dos serviços bancários, esses itens têm peso grande nos índices de preços ao consumidor.
Ainda assim, chama a atenção de analistas que os bancos tenham conseguido realizar reajustes em suas tarifas próximos aos registrados pelos preços administrados, principalmente em um período em que a renda do brasileiro tem estado deprimida.
"O sistema bancário é muito concentrado e o grau de mobilidade dos clientes é baixo. Isso deixa as instituições numa posição confortável. Ainda assim, chama a atenção o fato de os bancos conseguirem promover grandes reajustes num momento em que o brasileiro está com a renda tão deprimida", diz Vinícius Zwarg, chefe de gabinete do Procon-SP.
O movimento de reajustes das tarifas bancárias ao longo dos últimos meses foi irregular. Depois de forte alta de 17,79% em 2002, contra um IPC de 9,9% no período, os preços desses serviços ficaram estáveis entre janeiro e abril de 2003, segundo dados da Fipe.
A partir de maio, começou a tendência de alta. Houve meses, de fortes picos. Foi o caso de junho do ano passado, quando os serviços bancários subiram 3,08%, contra uma deflação de 0,16% do IPC. Em novembro passado, as tarifas dos bancos aumentaram 2,64%. Já o IPC teve alta de 0,27%.
Procurados pela Folha, a maior parte dos bancos não concedeu entrevista sobre o assunto. Foram os casos de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, ABN Amro, Santander, Unibanco e Itaú. As exceções foram HSBC e Bradesco.
Segundo Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, a instituição não promoveu fortes reajustes de tarifas nos últimos meses. No entanto, explica ele, passou a cobrar por serviços, até então, gratuitos.
Desde dezembro, o Bradesco cobra por operações feitas em caixas automáticos e por telefone que ultrapassem limite de dez por mês. Quem extrapola esse limite paga, agora, R$ 0,9 por transação excedente. "Não houve reajustes, mas ajustes de tarifas. Fizemos isso porque há pessoas que abusam. Vão ao banco cinco vezes por dia ver saldo. Por isso, colocamos limitadores", diz Cypriano.
Segundo Glen Valente, diretor de marketing e produtos do HSBC, 95% dos clientes da instituição estão enquadrados em pacotes de tarifas que, praticamente, não sofreram reajustes nos últimos 13 meses.
Em relação às tarifas cobradas fora desses pacotes, Valente afirma que a maior parte subiu menos que a inflação. Há exceções que, segundo ele, têm causas específicas. É o caso do uso da rede de Banco 24 horas, cuja tarifa subiu 25% em 2003, de R$ 1,60 para R$ 2: "Nesse caso, o Banco 24 horas reajustou os preços e nós tivemos de repassar os custos".


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