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Mercado Aberto
guilherme.barros@uol.com.br
Histórias da crise da dívida dariam enredo de novela
O Brasil sempre conviveu
com crises freqüentes de endividamento externo ao longo de
toda sua história, desde a Independência. O fato de o país ter
se tornado, pela primeira vez,
credor externo é um marco para todas as gerações.
"Nunca pensei que fosse viver esse dia", diz o economista
o economista Paulo Nogueira
Batista Jr., atual diretor do Brasil no FMI. Em 1987, em uma
das várias crises de endividamento do país, o economista
cuidava da área internacional
do Ministério da Fazenda
quando o Brasil decretou a moratória unilateral da dívida externa.
Na época da moratória, José
Sarney ocupava a Presidência e
o cargo de ministro da Fazenda
era ocupado por Dílson Funaro
(1933-1988), que um ano antes
tinha levado o país à euforia
com o lançamento do Plano
Cruzado. No início de 1987, o
Brasil tinha apenas US$ 3 bilhões em reservas.
O que pouca gente sabe é que
a moratória foi sendo preparada com meses de antecedência.
O governo tinha medo de os depósitos oficiais no exterior do
Banco Central, da Petrobras e
do Banco do Brasil em bancos
comerciais, principalmente
norte-americanos, fossem congelados quando fosse feito o
anúncio da moratória.
Para isso, o governo foi pouco
a pouco transferindo os recursos para outros bancos. Entre
eles o BIS (Banco de Compensações Internacionais) e o banco central da Rússia. Num belo
dia, quando a moratória foi decretada, em 20 de fevereiro de
1987, a maior parte das reservas
brasileiras não estava mais depositada em bancos norte-americanos.
O tempo mostrou, no entanto, que a cautela tinha sido exagerada. Não houve retaliação
por parte dos bancos comerciais americanos aos pequenos
depósitos que ainda permaneceram naquelas contas.
Histórias curiosas das crises
de endividamento externo do
Brasil são muitas, lembra o economista Carlos Langoni, que
presidia o Banco Central em
1982, em uma da mais graves
crises de endividamento da história do país. O mundo vivia a
segunda crise do petróleo, o
México tinha quebrado e os Estados Unidos tinham acabado
de subir os juros.
"Foram dois anos de inferno
astral", diz Langoni. Na época,
o país era governado pelo presidente João Figueiredo, e Delfim Netto, então ministro do
Planejamento, era quem mandava na economia.
O Brasil viveu, no período,
uma de suas piores fases recessivas da história, depois do Milagre dos anos 70. O petróleo
chegou a bater os US$ 100 de
hoje, o Brasil ficou praticamente sem reservas e sem financiamento externo.
A saída do Banco Central foi
centralizar o câmbio -só saía
dinheiro para insumos altamente necessários- e buscar a
renegociação da dívida. Langoni era amigo de Paul Volcker
(que presidiu o Fed de 1979 a
1987).
A grande preocupação do
país era não faltar petróleo, o
que pararia o país. O Brasil importava 80% do petróleo que
consumia.
Langoni lembra que um navio da Petrobras com petróleo
chegou a ficar retido na Arábia
Saudita. O governo saudita não
aceitou um cheque do Banco do
Brasil em pagamento. Langoni
foi obrigado a transferir reservas do Banco Central para o
Banco Central da Arábia Saudita. "Ele só aceitavam reservas
contra reservas", diz Langoni.
"Na época, fiquei noites e noites sem dormir. Hoje [ontem]
vou dormir tranqüilo."
Todas essas histórias, segundo Delfim Netto, que certamente é uma das maiores testemunhas de todas as crises de
endividamento dos últimos 30
anos, mostram só uma coisa: "O
Brasil é um dos países mais honestos do mundo. Nunca deu
nenhum calote em ninguém".
O problema do endividamento externo do país só começou
mesmo a ser resolvido em 1994,
quando o então presidente do
Banco Central, Pedro Malan,
iniciou o processo de renegociação da dívida. A transição de
devedor externo para credor
externo se deu, no entanto,
nesses últimos anos, no governo Lula, com a política de acumulação de reservas do Banco
Central.
TRABALHO: NÍVEL DE EMPREGO DA CONSTRUÇÃO PESADA CAI 0,5% EM JANEIRO
O nível de emprego da construção pesada registrou queda,
depois de oito altas consecutivas no ano passado. A baixa foi
pequena, de 0,5% em janeiro, com a demissão de 209 trabalhadores, em relação ao mês de dezembro de 2007. Segundo
o Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do
Estado de São Paulo), no acumulado dos últimos 12 meses,
foi registrada alta expressiva de 27,44%, com a abertura de
8.917 postos de trabalho. Em janeiro de 2007, o setor empregava 32.495 trabalhadores. Em janeiro deste ano, as empresas contabilizaram 41.412 empregados. Em dezembro de
2007, o sindicato registrou 41.621 empregados.
FIADOR
A Lello Imóveis, empresa de administração imobiliária,
observou que a modalidade de garantia seguro fiança passou
a ter a preferência dos locatários na hora de alugar um imóvel. O seguro fiança é uma opção à modalidade que envolve
fiador. A escolha dessa garantia registrou, no ano passado,
um aumento de 33%, de janeiro a dezembro, segundo Roseli
Hernandes, responsável pela área de locação e vendas da Lello. "Hoje em dia, as pessoas estão evitando pedir favor. Elas
preferem pagar a incomodar alguém na família para ser seu
fiador", afirma Hernandes. No Estado de São Paulo, a empresa tem uma carteira de mais de 8.000 imóveis administrados.
CANDIDATA
A Câmara aprovou há
poucos dias uma lei que autoriza a Eletrobrás a participar de consócio para compra
direta ou indireta, por meio
de consócio, de empresas de
produção ou transmissão de
energia elétrica. Com essa
autorização, a empresa poderá, por exemplo, habilitar-se para comprar a Cesp.
REFORMA
Bernard Appy, secretário
de Política Econômica do
Ministério da Fazenda, será
o destaque do Workshop Lide, que contará com a presença do jurista Ives Gandra,
na próxima sexta-feira, dia
29, no salão nobre da Fiesp.
Os convidados debaterão
com os CEOs do Lide a reforma tributária.
ESTRÉIA
O primeiro evento de
2008 do nelore brasileiro
acontece amanhã em Avaré,
interior de São Paulo. Em
2007, este mercado chegou a
movimentar cerca de R$
600 milhões. Com um número recorde de animais em
exposição, o leilão "Qualidade Nelore" de prenhezes
reunirá importantes criadores e selecionadores dessa
raça no país. Um dos promotores será José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, que atua na área de seleção genética há cerca de
um ano.
CHINESA
A Fiesp vai trazer ao Brasil, no próximo dia 26, cinco
dos principais sinólogos do
mundo, para falar do atual
perfil da sociedade, da política e da economia chinesa. Os
especialistas abordarão temas como ambiente, respeito à propriedade intelectual
e competitividade e inovação tecnológica. O seminário terá a presença de nomes
como Harry Harding, da
George Washington University, o conselheiro estratégico para temas da China da
Universidade de Columbia,
Trevor Houser, entre outros
convidados.
ALUMÍNIO
A multinacional israelense Iscar vai abrir, no Brasil,
uma unidade de ferramentas de corte para usinagem
de alumínio. Os principais
alvos são os segmentos automotivos, para os quais a
companhia destina 70% das
vendas, e os setores de álcool
e aeroespacial. A Iscar pertence ao grupo Berkshire
Hathaway, do megainvestidor Warrren Buffett.
HORA DO CHÁ
As vendas do Lipton Chá
Verde, que tem três meses
de existência, ficaram 68%
acima da expectativa da
marca e representam 20%
do volume total de Lipton. A
empresa ampliará a produção do chá.
com ISABELLE MOREIRA LIMA e JOANA CUNHA
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