São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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guilherme.barros@uol.com.br

Histórias da crise da dívida dariam enredo de novela

O Brasil sempre conviveu com crises freqüentes de endividamento externo ao longo de toda sua história, desde a Independência. O fato de o país ter se tornado, pela primeira vez, credor externo é um marco para todas as gerações.
"Nunca pensei que fosse viver esse dia", diz o economista o economista Paulo Nogueira Batista Jr., atual diretor do Brasil no FMI. Em 1987, em uma das várias crises de endividamento do país, o economista cuidava da área internacional do Ministério da Fazenda quando o Brasil decretou a moratória unilateral da dívida externa.
Na época da moratória, José Sarney ocupava a Presidência e o cargo de ministro da Fazenda era ocupado por Dílson Funaro (1933-1988), que um ano antes tinha levado o país à euforia com o lançamento do Plano Cruzado. No início de 1987, o Brasil tinha apenas US$ 3 bilhões em reservas.
O que pouca gente sabe é que a moratória foi sendo preparada com meses de antecedência. O governo tinha medo de os depósitos oficiais no exterior do Banco Central, da Petrobras e do Banco do Brasil em bancos comerciais, principalmente norte-americanos, fossem congelados quando fosse feito o anúncio da moratória.
Para isso, o governo foi pouco a pouco transferindo os recursos para outros bancos. Entre eles o BIS (Banco de Compensações Internacionais) e o banco central da Rússia. Num belo dia, quando a moratória foi decretada, em 20 de fevereiro de 1987, a maior parte das reservas brasileiras não estava mais depositada em bancos norte-americanos.
O tempo mostrou, no entanto, que a cautela tinha sido exagerada. Não houve retaliação por parte dos bancos comerciais americanos aos pequenos depósitos que ainda permaneceram naquelas contas.
Histórias curiosas das crises de endividamento externo do Brasil são muitas, lembra o economista Carlos Langoni, que presidia o Banco Central em 1982, em uma da mais graves crises de endividamento da história do país. O mundo vivia a segunda crise do petróleo, o México tinha quebrado e os Estados Unidos tinham acabado de subir os juros.
"Foram dois anos de inferno astral", diz Langoni. Na época, o país era governado pelo presidente João Figueiredo, e Delfim Netto, então ministro do Planejamento, era quem mandava na economia.
O Brasil viveu, no período, uma de suas piores fases recessivas da história, depois do Milagre dos anos 70. O petróleo chegou a bater os US$ 100 de hoje, o Brasil ficou praticamente sem reservas e sem financiamento externo.
A saída do Banco Central foi centralizar o câmbio -só saía dinheiro para insumos altamente necessários- e buscar a renegociação da dívida. Langoni era amigo de Paul Volcker (que presidiu o Fed de 1979 a 1987).
A grande preocupação do país era não faltar petróleo, o que pararia o país. O Brasil importava 80% do petróleo que consumia.
Langoni lembra que um navio da Petrobras com petróleo chegou a ficar retido na Arábia Saudita. O governo saudita não aceitou um cheque do Banco do Brasil em pagamento. Langoni foi obrigado a transferir reservas do Banco Central para o Banco Central da Arábia Saudita. "Ele só aceitavam reservas contra reservas", diz Langoni. "Na época, fiquei noites e noites sem dormir. Hoje [ontem] vou dormir tranqüilo."
Todas essas histórias, segundo Delfim Netto, que certamente é uma das maiores testemunhas de todas as crises de endividamento dos últimos 30 anos, mostram só uma coisa: "O Brasil é um dos países mais honestos do mundo. Nunca deu nenhum calote em ninguém".
O problema do endividamento externo do país só começou mesmo a ser resolvido em 1994, quando o então presidente do Banco Central, Pedro Malan, iniciou o processo de renegociação da dívida. A transição de devedor externo para credor externo se deu, no entanto, nesses últimos anos, no governo Lula, com a política de acumulação de reservas do Banco Central.

TRABALHO: NÍVEL DE EMPREGO DA CONSTRUÇÃO PESADA CAI 0,5% EM JANEIRO
O nível de emprego da construção pesada registrou queda, depois de oito altas consecutivas no ano passado. A baixa foi pequena, de 0,5% em janeiro, com a demissão de 209 trabalhadores, em relação ao mês de dezembro de 2007. Segundo o Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo), no acumulado dos últimos 12 meses, foi registrada alta expressiva de 27,44%, com a abertura de 8.917 postos de trabalho. Em janeiro de 2007, o setor empregava 32.495 trabalhadores. Em janeiro deste ano, as empresas contabilizaram 41.412 empregados. Em dezembro de 2007, o sindicato registrou 41.621 empregados.

FIADOR
A Lello Imóveis, empresa de administração imobiliária, observou que a modalidade de garantia seguro fiança passou a ter a preferência dos locatários na hora de alugar um imóvel. O seguro fiança é uma opção à modalidade que envolve fiador. A escolha dessa garantia registrou, no ano passado, um aumento de 33%, de janeiro a dezembro, segundo Roseli Hernandes, responsável pela área de locação e vendas da Lello. "Hoje em dia, as pessoas estão evitando pedir favor. Elas preferem pagar a incomodar alguém na família para ser seu fiador", afirma Hernandes. No Estado de São Paulo, a empresa tem uma carteira de mais de 8.000 imóveis administrados.

CANDIDATA
A Câmara aprovou há poucos dias uma lei que autoriza a Eletrobrás a participar de consócio para compra direta ou indireta, por meio de consócio, de empresas de produção ou transmissão de energia elétrica. Com essa autorização, a empresa poderá, por exemplo, habilitar-se para comprar a Cesp.

REFORMA
Bernard Appy, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, será o destaque do Workshop Lide, que contará com a presença do jurista Ives Gandra, na próxima sexta-feira, dia 29, no salão nobre da Fiesp. Os convidados debaterão com os CEOs do Lide a reforma tributária.

ESTRÉIA
O primeiro evento de 2008 do nelore brasileiro acontece amanhã em Avaré, interior de São Paulo. Em 2007, este mercado chegou a movimentar cerca de R$ 600 milhões. Com um número recorde de animais em exposição, o leilão "Qualidade Nelore" de prenhezes reunirá importantes criadores e selecionadores dessa raça no país. Um dos promotores será José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, que atua na área de seleção genética há cerca de um ano.

CHINESA
A Fiesp vai trazer ao Brasil, no próximo dia 26, cinco dos principais sinólogos do mundo, para falar do atual perfil da sociedade, da política e da economia chinesa. Os especialistas abordarão temas como ambiente, respeito à propriedade intelectual e competitividade e inovação tecnológica. O seminário terá a presença de nomes como Harry Harding, da George Washington University, o conselheiro estratégico para temas da China da Universidade de Columbia, Trevor Houser, entre outros convidados.

ALUMÍNIO
A multinacional israelense Iscar vai abrir, no Brasil, uma unidade de ferramentas de corte para usinagem de alumínio. Os principais alvos são os segmentos automotivos, para os quais a companhia destina 70% das vendas, e os setores de álcool e aeroespacial. A Iscar pertence ao grupo Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warrren Buffett.

HORA DO CHÁ
As vendas do Lipton Chá Verde, que tem três meses de existência, ficaram 68% acima da expectativa da marca e representam 20% do volume total de Lipton. A empresa ampliará a produção do chá.


com ISABELLE MOREIRA LIMA e JOANA CUNHA

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