São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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ALBERT FISHLOW

Caveat Vendor!


Todos os países deveriam estar agindo para elevar a demanda, e não para restringir as importações

CAVEAT VENDOR ! O vendedor que se cuide. Essa é a mensagem universal, hoje em dia.
Quer estejamos falando da venda de automóveis, casas, outros bens duráveis e até mesmo produtos de uso cotidiano como os alimentos, todos os indicadores estão em queda. Cada mês parece registrar novo recorde de baixa. E o mesmo se aplica ao valor dos ativos: os preços das ações e das casas caíram consideravelmente. O nível de endividamento, porém, continua muito alto. Essas obrigações, especialmente as dívidas dos governos e as dívidas hipotecárias e de cartões de crédito dos consumidores, cresceram de maneira dramática. Nenhum banco deseja realizar novos empréstimos quando seu capital real, a despeito das continuadas infusões de dinheiro pelos bancos centrais, continua a cair para profundezas nunca vistas. Os consumidores não têm confiança. Assim, a demanda cai de novo e a situação fica ainda pior no mês seguinte.
Desta vez porque todos os países desenvolvidos estão experimentando esse mesmo declínio, que se reforça negativamente, pela primeira vez em mais de meio século, as exportações compensatórias não oferecem saída. Em consequência do declínio no comércio mundial e da acentuada queda nos preços das commodities, dos minerais e do petróleo, os países em desenvolvimento provavelmente vêm sendo cada vez mais atingidos. Se adicionarmos a isso a virtual paralisação dos fluxos internacionais de capital, o quadro se torna ainda mais deprimente.
Muitas das pessoas que saíram da pobreza nos últimos anos serão arrastadas de volta.
Será que a política fiscal keynesiana -combinada a uma intervenção financeira agressiva e com medidas que evitem novas execuções em massa de hipotecas- funcionará agora e ajudará a evitar uma repetição da Grande Depressão dos anos 30? Essa pergunta, valendo trilhões de dólares, será respondida ao longo dos próximos meses. Ainda que a recente reunião dos ministros das Finanças do G7 não ofereça muitos motivos para confiança, quase todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, grandes e pequenos, estão agora tomando medidas decisivas na direção certa.
Ainda assim, as atenções estão concentradas nos EUA. O governo Obama já aprovou um pacote de estímulo que resultará em um déficit orçamentário de cerca de 10% do PIB, neste ano e em 2010, de acordo com as projeções. As autoridades já ofereceram, ainda que não providenciassem detalhes, um plano para estabelecer uma nova instituição que deteria o grande volume de maus ativos que existem no sistema financeiro e assim evitariam a longa demora em tratar da questão que caracterizou as ações do Japão nos anos 90. Isso poderia levar à estatização temporária de bancos, como já aconteceu no Reino Unido e em outros países, mas ninguém -nem mesmo os conservadores- continua a defender o "laissez-faire" ao estilo de Margaret Thatcher. E por fim existe agora uma estratégia para reduzir os pagamentos mensais sobre as dívidas imobiliárias, o que evitaria as execuções de hipotecas que poderiam se multiplicar rapidamente nos anos vindouros.
A mensagem é poderosa e está sendo enviada de maneira transparente. Descobriremos em breve se os consumidores norte-americanos respirarão aliviados nos próximos meses e darão início a um processo de recuperação gradual, mas contínuo. O mundo inteiro espera com a respiração suspensa. Mas todos os países também deveriam estar agindo para suplementar a demanda, e não para restringir as importações.
Os economistas de Obama, bem como os do Federal Reserve, aprenderam muito com o acontecido nos anos infelizes -não apenas economicamente- da Grande Depressão.
Não existe motivo para repetir um passado tão trágico.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.


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