São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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Demitido, metalúrgico volta ao país após 19 anos; corte ameaça quem ficou

JOÃO WAINER
REPÓRTER FOTOGRÁFICO

Em junho de 1990 foi editada no Japão a Lei de Controle de Imigração, permitindo que descendentes de japoneses até a terceira geração pudessem trabalhar legalmente no país. Em fevereiro daquele ano, o nissei (filho de japoneses) Akio Sato, 59, desembarcou em Tóquio, fugindo da violência e da crise que o Brasil vivia naquela época.
Sato vendeu o mercado que tinha em São Paulo e migrou com amigos em busca de estabilidade e melhor salário em uma época em que eram raros os brasileiros vivendo lá.
"Foi fácil conseguir emprego no Japão, havia muita oferta, podíamos escolher onde trabalhar e os salários eram ótimos. Davam casa, aparelhos eletrônicos, máquina de lavar, faziam de tudo para estimular a vinda de decasséguis brasileiros", diz.
Até 2008, mais de 300 mil brasileiros viviam e trabalhavam legalmente no Japão, formando o terceiro maior contingente de estrangeiros, atrás de coreanos e chineses. De acordo com o BID, os brasileiros enviam ao país cerca de US$ 2,2 bilhões por ano.
Em dezembro de 2008, os primeiros sinais da crise foram sentidos na fábrica da Daihatsu em Hino, cidade de 171 mil habitantes onde Akio trabalhava como metalúrgico. "Em outubro, cortaram as horas extras e, em novembro, começaram as demissões. Fui demitido na lista de dezembro e não tive escolha, a não ser voltar para o Brasil."
Sato chegou a São Paulo no dia 15 de janeiro, depois de seis anos sem voltar ao país. Dos seus três filhos, dois ainda vivem na cidade de Omihatiman, vizinha a Hino. A mais nova, Luciana, 25, foi demitida em dezembro, mas não voltou ao Brasil graças ao seguro-desemprego que recebe do governo. O mais velho, Jefferson, 27, foi avisado que será demitido, mas ainda não sabe o que vai fazer.
Os brasileiros estão assustados com as demissões. "Antigamente havia crise em segmentos específicos e, quando isso acontecia, simplesmente mudávamos de setor. Quando começava a crise em um setor, migrávamos para outro. Nunca faltou emprego para brasileiro", diz Sato.
Assim como ele, muitos brasileiros estão voltando por causa da crise. "Os voos vindo de Tóquio estão cheios. Acredito que, se continuar assim, pelo menos uns 80% dos brasileiros que vivem no Japão vão voltar. O custo de vida é muito alto, sem emprego é impossível ficar lá."
Desde sua volta ao país, Sato está trabalhando com um sobrinho, vendendo gengibre para restaurantes japoneses. Ele acredita que a crise vai passar em poucos anos e pretende voltar ao Japão quando isso acontecer. "Mas não vai ser fácil para os brasileiros retomarem seus empregos. A mão-de-obra chinesa está invadindo o Japão e eles ganham um terço do salário dos brasileiros. Acho que, quando a crise passar, só os chineses vão ser contratados."


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