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Demitido, metalúrgico volta ao país após 19 anos; corte ameaça quem ficou
JOÃO WAINER
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
Em junho de 1990 foi editada no Japão a Lei de Controle
de Imigração, permitindo que
descendentes de japoneses
até a terceira geração pudessem trabalhar legalmente no
país. Em fevereiro daquele
ano, o nissei (filho de japoneses) Akio Sato, 59, desembarcou em Tóquio, fugindo da
violência e da crise que o Brasil vivia naquela época.
Sato vendeu o mercado que
tinha em São Paulo e migrou
com amigos em busca de estabilidade e melhor salário em
uma época em que eram raros
os brasileiros vivendo lá.
"Foi fácil conseguir emprego no Japão, havia muita
oferta, podíamos escolher onde trabalhar e os salários
eram ótimos. Davam casa,
aparelhos eletrônicos, máquina de lavar, faziam de tudo
para estimular a vinda de decasséguis brasileiros", diz.
Até 2008, mais de 300 mil
brasileiros viviam e trabalhavam legalmente no Japão,
formando o terceiro maior
contingente de estrangeiros,
atrás de coreanos e chineses.
De acordo com o BID, os brasileiros enviam ao país cerca
de US$ 2,2 bilhões por ano.
Em dezembro de 2008, os
primeiros sinais da crise foram sentidos na fábrica da
Daihatsu em Hino, cidade de
171 mil habitantes onde Akio
trabalhava como metalúrgico. "Em outubro, cortaram as
horas extras e, em novembro,
começaram as demissões. Fui
demitido na lista de dezembro e não tive escolha, a não
ser voltar para o Brasil."
Sato chegou a São Paulo no
dia 15 de janeiro, depois de
seis anos sem voltar ao país.
Dos seus três filhos, dois ainda vivem na cidade de Omihatiman, vizinha a Hino. A mais
nova, Luciana, 25, foi demitida em dezembro, mas não
voltou ao Brasil graças ao seguro-desemprego que recebe
do governo. O mais velho, Jefferson, 27, foi avisado que será demitido, mas ainda não
sabe o que vai fazer.
Os brasileiros estão assustados com as demissões. "Antigamente havia crise em segmentos específicos e, quando
isso acontecia, simplesmente
mudávamos de setor. Quando
começava a crise em um setor, migrávamos para outro.
Nunca faltou emprego para
brasileiro", diz Sato.
Assim como ele, muitos
brasileiros estão voltando por
causa da crise. "Os voos vindo
de Tóquio estão cheios. Acredito que, se continuar assim,
pelo menos uns 80% dos brasileiros que vivem no Japão
vão voltar. O custo de vida é
muito alto, sem emprego é
impossível ficar lá."
Desde sua volta ao país, Sato está trabalhando com um
sobrinho, vendendo gengibre
para restaurantes japoneses.
Ele acredita que a crise vai
passar em poucos anos e pretende voltar ao Japão quando
isso acontecer. "Mas não vai
ser fácil para os brasileiros retomarem seus empregos. A
mão-de-obra chinesa está invadindo o Japão e eles ganham um terço do salário dos
brasileiros. Acho que, quando
a crise passar, só os chineses
vão ser contratados."
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