|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui
para conferir a correção na versão eletrônica da
Folha de S.Paulo.
Japão demite ao menos 50 mil brasileiros
Cerca de 25 mil já retornaram ao país devido ao agravamento da crise na maior economia asiática, de acordo com o BB
Maioria dos decasséguis brasileiros trabalha na indústria automobilística
e na de eletrônicos sob contratação temporária
NATÁLIA PAIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Após 13 anos no Japão, o paulista Fábio Yano e a mulher irão
voltar para o Brasil. Com três filhos japoneses, de cinco, sete e
dez anos, o casal de ascendência nipônica considera a repatriação uma "sorte", após meses de sufoco.
Yano, desempregado há sete
meses, conta que a família está
sem pagar o aluguel desde agosto. Com a demissão da mulher
por uma fabricante de eletrônicos em dezembro, a situação se
agravou, a ponto de hoje o governo japonês ajudá-lo a pagar
contas de luz e água.
"Um grupo de brasileiros
traz cesta básica. Semana passada, veio uma pessoa que eu
nunca tinha conhecido e trouxe
carne para a gente", diz Yano.
Em março, a família deixa a
prefeitura de Shizuoka. "Vamos para Campo Grande [MS].
Um tio deixou uma casa abandonada lá. Vamos começar vida
nova, se Deus quiser."
A família Yano é o primeiro
caso de repatriação neste ano
(já foram pelo menos 16 desde o
fim de 2008) e reflete as dificuldades que brasileiros decasséguis (trabalhadores estrangeiros no Japão) enfrentam desde
o agravamento da crise global,
com o PIB nipônico tendo nos
últimos três meses de 2008 a
maior queda em 34 anos. Segundo estimativa do consulado
do Brasil em Nagóia, de 50 mil a
60 mil brasileiros perderam
emprego nos últimos meses.
Até 2008, estimava-se que
cerca de 320 mil viviam no Japão. Os brasileiros constituem
a terceira maior comunidade
estrangeira no Japão, atrás de
China e Coreia do Sul.
A migração começou há 30
anos, quando o Brasil vivia contração, e o Japão, boom econômico. A situação se inverteu.
A maioria dos brasileiros trabalha na indústria automobilística e na de eletrônicos -as
mais afetadas pela crise- e em
regime de trabalho temporário
-o primeiro a ser afetado em
períodos de instabilidade.
Desde outubro de 2008, 25
mil clientes do Banco do Brasil
no Japão (20% do total) transferiram a residência de sua conta bancária para o Brasil. A partir desse dado, o gerente regional do BB para a Ásia, Admilson
Monteiro Garcia, estima que
entre 40 mil e 50 mil brasileiros
-incluindo correntista, cônjuge e filhos- já retornaram ao
Brasil. Segundo o BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), os decasséguis enviam
para cá US$ 2,2 bilhões por ano.
O vice-cônsul em Tóquio,
Marcos Torres, diz que, antes
da crise, havia uma "reserva de
mercado" para estrangeiros, o
que incluía ofícios mais "pesados". "Com a crise, os japoneses
estão pegando tudo, porque o
desemprego é grande. Uma das
primeiras coisas que estão exigindo é que falem japonês."
Garcia diz que um setor que
ainda tem espaço para a mão-de-obra brasileira é a lavoura,
mas os decasséguis brasileiros
não querem essas vagas. "Eram
pessoas de classe média no Brasil e, quando vieram para cá, já
se sentiam fazendo trabalho
não muito nobre. Preferem voltar ao Brasil a enfrentar trabalho como esse", afirma.
A maioria dos desempregados que desejam retornar ao
Brasil, porém, não o consegue
por falta de dinheiro, diz o ex-decasségui Wilson Yamaguti,
demitido de uma fábrica de cerâmica em dezembro e de volta
ao Paraná desde janeiro. Como
em muitos casos a moradia está
vinculada ao emprego, muitos
brasileiros chegaram a virar
moradores de rua, relatam decasséguis ainda no Japão.
Um dos que continuam por lá
é o sansei (neto de japonês)
Márcio Silva, 34, que trabalhava havia três anos em uma fabricante de pneus em Shiga
quando foi demitido, no Natal.
A jornada de 12 horas diárias
e seis dias por semana tinha um
objetivo: comprar uma casa e
voltar para o Brasil. Agora, Silva
vive do seguro-desemprego e
do salário da noiva, que já cumpre aviso prévio. "Se a gente
não conseguir nada no prazo do
seguro, vai ter de ir embora."
Escola e moradia
Na semana retrasada, o embaixador do Japão em Brasília,
Ken Shimanouchi, apresentou
um plano de emergência para
facilitar o retorno de decasséguis e apoiar os que fiquem no
Japão, com medidas para amenizar dificuldades relacionadas
ao desemprego e à educação
das crianças brasileiras.
Os filhos de decasséguis costumam estudar em escolas brasileiras privadas. Mas muitas
estão fechando, já que os pais
estão cada vez mais sem condições de pagar as mensalidades.
Segundo a Associação das Escolas Brasileiras no Japão, cerca de metade dos alunos já
abandonou as aulas -40% voltaram para o Brasil, 10% foram
para escolas japonesas e 50%
estão em casa.
Para impedir que mais brasileiros corram o risco de virar
moradores de rua, o governo
vai conceder moradia gratuita
por seis meses, nas regiões que
concentram mais brasileiros,
como Shizuoka, Aichi e Mie.
Texto Anterior: Governo Obama dá início a corte de impostos Próximo Texto: Foco: Demitido, metalúrgico volta ao país após 19 anos; corte ameaça quem ficou Índice
|