São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Analista diz que decisão de corte mostra contradição entre queda da taxa e última ata do Copom

Expectativa é que BC volte a reduzir juros

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de enxergar contradição do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) entre o que escreveu em sua última reunião e a decisão de cortar juros tomada na quarta-feira passada, economistas se perguntam o que esperar da próxima ata. Apesar das dúvidas, para a maioria, o BC deverá sinalizar continuidade da queda de juros.
A expectativa gira em torno de corte de ao menos 0,25 ponto percentual na reunião de abril. Mas boa parte dos economistas começa a preferir fazer projeções para os juros não mais para o próximo mês e, sim, para o trimestre, ao menos até que a ata seja publicada. A expectativa é de queda de um ponto percentual até junho.
O registro da reunião do Copom realizada na semana passada deve ser divulgado na próxima quinta-feira e despertar muita atenção de investidores que buscam entender quais serão os próximos passos do Banco Central.
Ao cortar 0,25 ponto percentual dos juros básicos, o Copom surpreendeu analistas do mercado financeiro que, pela leitura da cautelosa ata da reunião de fevereiro e das mensagens do governo, esperavam a manutenção da taxa Selic agora em março.
Economistas afirmam que, ao decidir afrouxar os juros, o Copom assumiu um risco. "É possível que cortem 0,25 ponto percentual de novo. Ou são coerentes na decisão ou no discurso. Entre os dois, discurso e decisão, a coerência já foi", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult.
A segunda prévia do IGP-M de março, que registrou alta de 0,92%, veio acima do esperado.
O IPA Industrial ficou próximo do resultado anterior. Alguns analistas observaram, porém, que isso ocorreu pela queda de preços do grupo de combustíveis, que anulou o efeito das altas de commodities, como o aço.
Enquanto o IPA Industrial ainda preocupa, os preços agrícolas, que por sua vez compõem o IPA Agrícola, que estava próximo de zero, sobem. É uma má sinalização para o item alimentação do IPCA de março.
"Os preços no atacado confirmaram o receio descrito nas atas de janeiro e fevereiro e agora sobem os preços agrícolas. As pressões, ainda que contidas, devem continuar em abril", diz Simino.
Por esta razão, a consultoria já reviu sua expectativa para o IPCA de março para 0,65%. O consenso de mercado, segundo o Focus, ainda é de 0,4%. Para outros analistas, o impacto da Cofins sobre os preços, que começa a se esgotar, e o efeito da queda dos combustíveis podem fazer os preços agrícolas recuarem.
"O ajuste da Cofins deve ir até abril. É mais forte no início da cadeia. Com a queda do álcool, mantemos, por ora, nossa projeção de 0,4% para o IPCA de março", diz Gino Olivares, economista do Opportunity Asset Management.
Para uma parcela de analistas, o Banco Central obrigou-se a prosseguir com a queda de juros em abril sob o risco de ser acusado de, ao ter contrariado o consenso do mercado na decisão de reduzir os juros, ter cometido um erro.
"O Banco Central está tateando a conjuntura. Mira naquilo que apenas adivinha: o impacto de suas escolhas sobre o que está por vir. Deram sinais trocados nos últimos tempos. Ninguém sabe ao certo, nem eles, nem nós [qual será o tamanho desse impacto]", diz Guilherme Nóbrega, economista do Banco Fibra.
Olivares afirma que apostaria em corte de 0,25 ponto em abril, mas prefere ler a ata antes de opinar. "O BC deve, por coerência, completar o movimento."


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