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MERCADO FINANCEIRO
Analista diz que decisão de corte mostra contradição entre queda da taxa e última ata do Copom
Expectativa é que BC volte a reduzir juros
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de enxergar contradição
do Copom (Comitê de Política
Monetária do Banco Central) entre o que escreveu em sua última
reunião e a decisão de cortar juros
tomada na quarta-feira passada,
economistas se perguntam o que
esperar da próxima ata. Apesar
das dúvidas, para a maioria, o BC
deverá sinalizar continuidade da
queda de juros.
A expectativa gira em torno de
corte de ao menos 0,25 ponto percentual na reunião de abril. Mas
boa parte dos economistas começa a preferir fazer projeções para
os juros não mais para o próximo
mês e, sim, para o trimestre, ao
menos até que a ata seja publicada. A expectativa é de queda de
um ponto percentual até junho.
O registro da reunião do Copom realizada na semana passada
deve ser divulgado na próxima
quinta-feira e despertar muita
atenção de investidores que buscam entender quais serão os próximos passos do Banco Central.
Ao cortar 0,25 ponto percentual
dos juros básicos, o Copom surpreendeu analistas do mercado financeiro que, pela leitura da cautelosa ata da reunião de fevereiro
e das mensagens do governo, esperavam a manutenção da taxa
Selic agora em março.
Economistas afirmam que, ao
decidir afrouxar os juros, o Copom assumiu um risco. "É possível que cortem 0,25 ponto percentual de novo. Ou são coerentes na
decisão ou no discurso. Entre os
dois, discurso e decisão, a coerência já foi", diz Jorge Simino, sócio-diretor da MS Consult.
A segunda prévia do IGP-M de
março, que registrou alta de
0,92%, veio acima do esperado.
O IPA Industrial ficou próximo
do resultado anterior. Alguns
analistas observaram, porém, que
isso ocorreu pela queda de preços
do grupo de combustíveis, que
anulou o efeito das altas de commodities, como o aço.
Enquanto o IPA Industrial ainda preocupa, os preços agrícolas,
que por sua vez compõem o IPA
Agrícola, que estava próximo de
zero, sobem. É uma má sinalização para o item alimentação do
IPCA de março.
"Os preços no atacado confirmaram o receio descrito nas atas
de janeiro e fevereiro e agora sobem os preços agrícolas. As pressões, ainda que contidas, devem
continuar em abril", diz Simino.
Por esta razão, a consultoria já
reviu sua expectativa para o IPCA
de março para 0,65%. O consenso
de mercado, segundo o Focus,
ainda é de 0,4%. Para outros analistas, o impacto da Cofins sobre
os preços, que começa a se esgotar, e o efeito da queda dos combustíveis podem fazer os preços
agrícolas recuarem.
"O ajuste da Cofins deve ir até
abril. É mais forte no início da cadeia. Com a queda do álcool,
mantemos, por ora, nossa projeção de 0,4% para o IPCA de março", diz Gino Olivares, economista do Opportunity Asset Management.
Para uma parcela de analistas, o
Banco Central obrigou-se a prosseguir com a queda de juros em
abril sob o risco de ser acusado de,
ao ter contrariado o consenso do
mercado na decisão de reduzir os
juros, ter cometido um erro.
"O Banco Central está tateando
a conjuntura. Mira naquilo que
apenas adivinha: o impacto de
suas escolhas sobre o que está por
vir. Deram sinais trocados nos últimos tempos. Ninguém sabe ao
certo, nem eles, nem nós [qual será o tamanho desse impacto]", diz
Guilherme Nóbrega, economista
do Banco Fibra.
Olivares afirma que apostaria
em corte de 0,25 ponto em abril,
mas prefere ler a ata antes de opinar. "O BC deve, por coerência,
completar o movimento."
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