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VIZINHO EM CRISE
Entre novembro e janeiro, companhias do país colocaram em dia dívidas que somavam US$ 2,6 bilhões
Empresas argentinas renegociam dívidas
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
As empresas argentinas estão
conseguindo reestruturar suas dívidas mais rapidamente que o governo do país, mergulhado em
pressões do FMI (Fundo Monetário Internacional), do G7 (grupo
de países mais ricos do mundo) e
de seus credores privados.
Os últimos três meses, até meados de fevereiro, viram uma aceleração no processo de reestruturação da dívida privada, segundo
aponta relatório feito pela consultoria Fundación Capital.
Apenas nesse período, empresas argentinas conseguiram renegociar US$ 2,61 bilhões. Esse valor
representa 11% do total do endividamento privado no período, de
US$ 21,78 bilhões, incluindo dívidas vencidas e em dia.
Desde 2002
Esse resultado é a continuação
de uma tendência que começou já
em 2002 e tomou fôlego no ano
passado, com sinais de recuperação da economia -a economia
do país cresceu 8,7% em 2003.
No auge da crise, o total da dívida corporativa argentina chegou a
ser estimada em US$ 31,5 bilhões,
segundo dados de consultorias
privadas. Hoje, estima-se que cerca de metade desse valor já tenha
sido reestruturado pelas empresas. Os analistas esperam a liquidação de grande parte do que resta ainda neste ano.
O relatório aponta ainda que, de
2003 até fevereiro de 2004, os "defaults" corresponderam em grande parte a operações das mesmas
empresas que já haviam registrado descumprimentos em 2002 -
ou seja, nesse período, não foram
registrados descumprimentos
por parte de empresas novas.
"Durante o ano passado, as melhores condições financeiras e fiscais impulsionaram uma série de
reestruturações e de ofertas de recompra de dívida privada", diz o
relatório. "Longe de ser uma solução definitiva, começaram a marcar uma mudança de tendência
em relação às perspectivas do
mercado e uma aproximação entre devedores e credores."
Outro estudo da mesma consultoria mostra que, das dívidas emitidas durante o segundo semestre
do ano passado, apenas 30% (US$
325 milhões) foram novas emissões. O restante (US$ 748 milhões) referiu-se a trocas de dívidas ou reestruturações.
Nesse processo, saíram ganhando as empresas que começam
suas reestruturações no auge da
crise. Em média, as dívidas foram
renegociadas com descontos de
30% nos valores nominais.
Descontos maiores
"Em 2002, o contexto econômico era tão ruim que as renegociações fechavam em seguida porque, antes de perder tudo, os credores aceitavam descontos de
80%. Quando a economia melhorou, [os credores] já não se conformavam tão facilmente", explica o economista Horacio Costa.
"Por esse motivo, as empresas
que começaram a renegociar
mais tarde ainda não conseguiram fechar o processo e em mais
de um caso tiveram de melhorar
suas propostas originais", diz.
A empresa de telecomunicações
Impsat, por exemplo, fechou as
negociações com os credores por
uma dívida de US$ 650 milhões
em março de 2002 - justo quando metade das empresas argentinas entravam em "default".
As empresas Telefónica e Petrobras, com dívidas de US$ 1,81 bilhão e US$ 2,31 bilhões, respectivamente, conseguiram renegociar suas dívidas sem chegar ao
"default" e sem oferecer nenhum
tipo de desconto. Já o grupo de
TV a cabo Cablevisión só conseguiu fechar um acordo com os
credores neste mês, depois de 13
adiamentos e uma melhora substancial na proposta inicial que a
empresa havia feito aos credores.
Adiamento
"As renegociações concretizadas, apesar de constituírem uma
saída à situação de "default" que
apresentam um grande número
de empresas, não são uma solução definitiva, mas uma postergação dada a falta de capacidade de
pagamento das empresas", diz o
relatório da Fundación Capital.
"O papel do Estado nesse sentido é decisivo, já que a definição da
reestruturação da dívida pública
geraria um marco de referência
para o setor privado e proporcionaria um entorno mais favorável
à renegociação entre devedores e
credores privados", afirma.
Outros fatores que, segundo a
consultoria, influenciarão no futuro das reestruturações da dívida
privada são a reestruturação do
setor financeiro -de modo a garantir mais fontes de financiamento para as empresas- e as renegociações dos contratos das
empresas de serviço públicos.
Essas já são, inclusive, as empresas com maior dificuldade para
sair da moratória. Isso porque,
para os analistas, as prestadoras
de serviços públicos estão expostas a um risco maior devido à natureza política das negociações.
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