São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Mercado interpreta que alta do juro deve continuar, e Bolsas caem; estilo da exposição do presidente do Fed é criticado

Investidor reage mal a discurso de Bernanke

TONY TASSELL
DO "FINANCIAL TIMES"

O otimismo que prevalecia entre os investidores na semana passada quanto à possibilidade de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) estivesse se aproximando do final de seu atual ciclo de aperto monetário foi atenuado depois do discurso de Ben Bernanke, o presidente da instituição, ontem, no Clube Econômico de Nova York.
A posição de Bernanke quanto às perspectivas econômicas para os Estados Unidos foi interpretada como positiva, mas ele deu poucos sinais de que o banco central planeja encerrar em breve seu ciclo de aumento nos juros.
Ele disse que não interpretava a redução na diferença entre as taxas de juros de curto e de longo prazo como "indicador de uma aceleração econômica significativa que estaria por vir", ao mencionar que ela talvez reflita a confiança dos investidores na economia.
A visão mais otimista quanto às perspectivas da política monetária recebeu certo reforço com a notícia de alta no "núcleo" do índice de preços de atacado dos EUA em fevereiro. Os preços ao produtor excluindo alimentos e energia subiram 0,3%, acima do 0,1% previsto por economistas.
Em reação, o euro caiu 0,6% ante o dólar em Nova York, enquanto os títulos do Tesouro norte-americano recuaram. O rendimento sobre o papel com vencimento em dez anos subiu em 5,9 pontos básicos, para 4,721%.
Já as Bolsas americanas registraram queda, já que a maioria do mercado espera novas alta no juro. O principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones, caiu 0,35%. O Nasdaq, 0,86%.

Sem clareza
Talvez tão significativo quanto o conteúdo do discurso de Bernanke foi seu estilo. Tony Crescenzi, vice-presidente de estratégia da Miller Tabak, disse que Bernanke adotou estilo diferente do de seu predecessor, Alan Greenspan, e que isso talvez não resulte na clareza que o mercado esperava do novo presidente do Fed.
Crescenzi disse que, ao começar o discurso, Bernanke fez uma ressalva que jamais seria ouvida em discurso de Greenspan: "As opiniões que expresso são pessoais e não são necessariamente as mesmas de meus colegas no Comitê de Mercado Aberto [do Fed, que define a política monetária]".
"Ao fazer a ressalva, Bernanke deixou claro que ele seria um presidente que procuraria promover o debate aberto e que o consenso do comitê seria formado como resultado disso. Isso representa grande mudança ante o período de Greenspan, durante o qual o presidente expunha sua opinião e tentava formar consenso a partir dela", disse Crescenzi.
As diferenças podem resultar em menos transparência na gestão Bernanke, porque o mercado teriam de interpretar de que maneira o debate poderia terminar.


Tradução de Paulo Migliacci


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