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"Novo PIB" reduz dívida e investimento
Com revisão de metodologia, IBGE mostra relação dívida/PIB perto de 45% e aportes do setor produtivo em 17% do produto
Produtividade aumentou e carga tributária ficou um
pouco menor; com revisão, PIB de 2005 sobe 10,9%, para R$ 2,148 tri (US$ 1 tri)
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A revisão da metodologia de
cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) anunciada ontem pelo IBGE revela um Brasil menos endividado e mais produtivo. Mas que investe muito pouco e que continua crescendo
bem abaixo do resto do mundo.
O IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) revisou o PIB de 1996 a 2005 (o de
2006 revisto será conhecido
dia 28). Na nova série das contas nacionais, o PIB de 2005 somou R$ 2,148 trilhões (US$ 1
trilhão), contra R$ 1,938 trilhão
na metodologia antiga. Ou seja,
o PIB ficou 10,9% maior.
Entram agora no cálculo 56
atividades econômicas e 110
produtos. Antes eram 43 e 80,
respectivamente.
Um dos indicadores mais importantes da solvência de um
país, a relação entre o tamanho
da dívida pública e o PIB, melhorou substancialmente.
No cálculo antigo, a dívida
pública em 2005 correspondia
a 51,5% do PIB. Com a revisão,
ela cai para 46,4%. Em 2006,
essa relação vai de 50% para
45,7%. Ela deve ser ainda menor quando for conhecido o
PIB revisado de 2006.
Isso aumenta a chance de o
Brasil obter mais rapidamente
o chamado "grau de investimento", a recomendação de
agências internacionais de risco para investir em um país.
Em contrapartida, a revisão
obrigará o governo a economizar mais em 2007 para cumprir
a meta de superávit primário (a
economia para pagar juros da
dívida) se quiser manter o alvo
de 4,25% do PIB. Como o denominador (o PIB) aumentou, o
governo terá de economizar
cerca de R$ 9 bilhões a mais.
A revisão também fez diminuir como proporção do PIB a
carga tributária: de 37,4% em
2005 para 33,7%. Em 2006, ela
caiu de 38% para 34,5%. Permanece, porém, a maior carga
entre os principais emergentes,
com média em torno de 25%.
A revisão mostrou que a média de crescimento do PIB nos
três primeiros anos do governo
Lula (2003-05) foi de 3,2%, acima dos 2,6% apurados no modelo anterior. Em sete anos de
FHC (1996-02), o crescimento
médio foi revisado ligeiramente para baixo: de 2,1% para 2%.
Uma das principais surpresas com a mudança de cálculo
foi a constatação de que o Brasil
investe muito menos na produção do que se pensava. E que
consome bem mais.
Em 2005, os investimentos
caíram de 20,6% do PIB para
16,3% após a revisão. O consumo final (famílias, governo etc.)
foi de 75% para 80,4% do PIB.
Para o economista Juan Jensen, da Tendências e professor
do Ibmec-SP, o dado mostra
que a produtividade da economia brasileira é bem maior do
que se imaginava. "A produtividade vem compensando a falta
de investimentos, já que crescemos com um consumo maior
e sem inflação."
A tendência de aumento do
consumo, porém, pode ter efeitos preocupantes, do ponto de
vista da inflação, se não houver
mais investimentos na produção para atender a uma demanda crescente, afirma Sérgio Vale, da MB Associados.
"Isso não será problema em
2007. Mas em 2008 o Banco
Central poderá se preocupar",
diz. Isso pode significar o fim
do processo de corte nos juros
ou aumentos no futuro.
Para crescer mais e de forma
sustentada, é consenso que o
país precisa de investimentos
da ordem de 25% do PIB. Com
a revisão, revelou-se que o Brasil ainda está na casa dos 17%.
"Os problemas fundamentais, como crescimento e investimentos baixos e a qualidade
do ajuste fiscal, permanecem",
resume Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC.
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