São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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"Novo PIB" reduz dívida e investimento

Com revisão de metodologia, IBGE mostra relação dívida/PIB perto de 45% e aportes do setor produtivo em 17% do produto

Produtividade aumentou e carga tributária ficou um pouco menor; com revisão, PIB de 2005 sobe 10,9%, para R$ 2,148 tri (US$ 1 tri)


FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A revisão da metodologia de cálculo do PIB (Produto Interno Bruto) anunciada ontem pelo IBGE revela um Brasil menos endividado e mais produtivo. Mas que investe muito pouco e que continua crescendo bem abaixo do resto do mundo.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revisou o PIB de 1996 a 2005 (o de 2006 revisto será conhecido dia 28). Na nova série das contas nacionais, o PIB de 2005 somou R$ 2,148 trilhões (US$ 1 trilhão), contra R$ 1,938 trilhão na metodologia antiga. Ou seja, o PIB ficou 10,9% maior.
Entram agora no cálculo 56 atividades econômicas e 110 produtos. Antes eram 43 e 80, respectivamente.
Um dos indicadores mais importantes da solvência de um país, a relação entre o tamanho da dívida pública e o PIB, melhorou substancialmente.
No cálculo antigo, a dívida pública em 2005 correspondia a 51,5% do PIB. Com a revisão, ela cai para 46,4%. Em 2006, essa relação vai de 50% para 45,7%. Ela deve ser ainda menor quando for conhecido o PIB revisado de 2006.
Isso aumenta a chance de o Brasil obter mais rapidamente o chamado "grau de investimento", a recomendação de agências internacionais de risco para investir em um país.
Em contrapartida, a revisão obrigará o governo a economizar mais em 2007 para cumprir a meta de superávit primário (a economia para pagar juros da dívida) se quiser manter o alvo de 4,25% do PIB. Como o denominador (o PIB) aumentou, o governo terá de economizar cerca de R$ 9 bilhões a mais.
A revisão também fez diminuir como proporção do PIB a carga tributária: de 37,4% em 2005 para 33,7%. Em 2006, ela caiu de 38% para 34,5%. Permanece, porém, a maior carga entre os principais emergentes, com média em torno de 25%.
A revisão mostrou que a média de crescimento do PIB nos três primeiros anos do governo Lula (2003-05) foi de 3,2%, acima dos 2,6% apurados no modelo anterior. Em sete anos de FHC (1996-02), o crescimento médio foi revisado ligeiramente para baixo: de 2,1% para 2%.
Uma das principais surpresas com a mudança de cálculo foi a constatação de que o Brasil investe muito menos na produção do que se pensava. E que consome bem mais.
Em 2005, os investimentos caíram de 20,6% do PIB para 16,3% após a revisão. O consumo final (famílias, governo etc.) foi de 75% para 80,4% do PIB.
Para o economista Juan Jensen, da Tendências e professor do Ibmec-SP, o dado mostra que a produtividade da economia brasileira é bem maior do que se imaginava. "A produtividade vem compensando a falta de investimentos, já que crescemos com um consumo maior e sem inflação."
A tendência de aumento do consumo, porém, pode ter efeitos preocupantes, do ponto de vista da inflação, se não houver mais investimentos na produção para atender a uma demanda crescente, afirma Sérgio Vale, da MB Associados.
"Isso não será problema em 2007. Mas em 2008 o Banco Central poderá se preocupar", diz. Isso pode significar o fim do processo de corte nos juros ou aumentos no futuro.
Para crescer mais e de forma sustentada, é consenso que o país precisa de investimentos da ordem de 25% do PIB. Com a revisão, revelou-se que o Brasil ainda está na casa dos 17%.
"Os problemas fundamentais, como crescimento e investimentos baixos e a qualidade do ajuste fiscal, permanecem", resume Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC.


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