|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Mais eficiente do que se pensava?
Novos números do PIB pedem revisões nas estimativas de produtividade e de potencial de crescimento da economia
O BRASIL ficou mais rico e, em
termos relativos, diminuiu o
peso dos impostos. Trata-se
dos novos números do PIB, divulgados ontem pelo IBGE. Claro, não
passou a chover emprego, fábrica ou
dinheiro. Mudou só o método de cálculo da atividade econômica do IBGE, agora muito mais preciso.
Como de hábito, o governo dedicou-se ao descaramento ignorante
de faturar os números. A oposição
deu-se à safadeza de suspeitar do IBGE com burrice oportunista, pois a
economia sob Lula agora parece ter
andado algo melhor que nos anos
FHC. Mas passemos pela idiotice e
pela má-fé, lembrando por fim que o
IBGE estuda tais mudanças faz mais
de cinco anos, ao menos.
Uma novidade interessante foi a
revisão, para baixo, da taxa de investimento. Passou da casa dos 20% do
PIB para 16%. Grosso modo, a economia parece ser muito mais produtiva do que se imaginava. O PIB cresce mais com uma quantidade menor
de investimento (em máquinas,
equipamentos e instalações).
Em tese, isso significa que o investimento adicional necessário para
fazer o país crescer mais, sem mais
inflação, é menor do que se imaginava. O trabalhador e/ou o capital investido rendem mais do que se estimava. "Foi o que mais me chamou a
atenção, numa primeira passada
d'olhos", diz Joel Bogdanski, consultor de análise econômica do Itaú.
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN, observa que o
peso dos serviços na economia aumentou (em detrimento de agropecuária e indústria). O setor de serviços é, em geral, menos intensivo em
capital (demanda menos investimento por unidade de produto que a
indústria, por exemplo). Daí, talvez,
se explique a alta da produtividade
nos novos números do PIB.
Mas a revisão da taxa de investimento e a alta aparente da eficiência
de capital e trabalho, para melhor,
têm implicações importantes.
O PIB potencial é uma estimativa
da tendência de crescimento "sustentável": quanto a economia pode,
em tese, crescer sem alta de preços.
Ou, ainda, quanto investimento adicional é necessário para fazer o PIB
crescer sem que ocorra insuficiência
na oferta de produtos, o que causaria
inflação e aumento na taxa de juros.
As evidências mais diretas do limite do crescimento do PIB ainda são o
descontrole da inflação e o nível de
utilização da capacidade produtiva
(Nuci) da indústria. O aumento do
Nuci indica que a demanda de produtos cresce sem que a capacidade
de produção, de oferta, a acompanhe. A hipótese é a de que a inflação
tenderia a crescer em seguida. Um
ponto polêmico da avaliação do PIB
potencial está aí, na variação do Nuci. Não se sabe bem quão rápida será
a resposta das empresas à alta da demanda. O empresário pode aumentar a capacidade instalada ou utilizar
com mais eficiência os fatores de
produção (capital e trabalho).
Se para crescer a economia precisa de menos investimento adicional
do que se imaginava e se a produtividade de capital e trabalho é mal conhecida, a medida atual do PIB potencial torna-se ainda mais imprecisa, assim como a previsão de inflação. Nas estimativas atuais, o Brasil
só pode crescer 2,5% a 4% ao ano
sem inflação. Trata-se de uma dispersão já obscena de grande. Com os
dados do IBGE, o debate esquenta.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Saiba mais: Nova fórmula usa estudos adicionais Próximo Texto: Mudanças derrubam as taxas de investimento Índice
|