|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO
Equipe econômica estimulou expansão do crédito, que favoreceu classes mais baixas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A preocupação do governo
em fazer um ajuste fino para
evitar descompasso entre o
crescimento da economia e a
capacidade de as indústrias
ofertarem bens e serviços é legítima e deve fazer parte da
pauta de prioridades em qualquer país do mundo. No entanto, cabem algumas considerações no caso brasileiro.
Primeiro, as pessoas que estão consumindo abundantemente (a ponto de sofrerem
ameaça do Banco Central de
uma penalização com aumento
dos juros e merecerem uma espécie de puxão de orelhas do
ministro da Fazenda, como faz
parecer a discussão atual sobre
medidas para conter o crédito
excessivo) foram amplamente
estimuladas pelo próprio governo a fazer isso.
Nos últimos anos, por determinação do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a equipe
econômica não só adotou medidas de estímulo ao crédito como comemorou publicamente
os resultados obtidos. Base
eleitoral deste governo, as classes C, D e E, que têm renda
mais baixa, foram recebidas
com festa no mercado de consumo e financiaram suas compras com crédito fácil e farto.
Os bancos do governo, como
a Caixa Econômica e o Banco
do Brasil, foram encarregados
de cumprir a política de governo de abrir as portas a esse público e puxar os juros de mercado para baixo.
A determinação do governo
de elevar o volume de empréstimos no país seguiu até mesmo
quando o Banco Central dava
sinais de que era hora de parar
um pouco para conter risco de
descontrole da inflação, como
aconteceu na virada de 2004
para 2005.
Enquanto o BC tentava desacelerar a economia elevando
juros, o resto do governo dava
impulsos não apenas fortalecendo o mercado de crédito
mas também aumentando os
gastos públicos. Afinal, crédito
não é a única coisa que estimula
e economia.
Aumentos salariais, programas sociais, reajustes do salário
mínimo acima da inflação, elevação das despesas do governo
e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) também
têm impacto no aumento do
PIB (Produto Interno Bruto), e
não deve ser surpresa para um
governo que essas políticas tenham levado a determinado nível de crescimento, que não era
bem o que se pretendia.
O foco da discussão atual para conter o crescimento do
mercado de crédito -a redução
da quantidade de parcelas dos
financiamentos- atingirá diretamente os novatos dessa onda,
a base eleitoral do presidente
Lula. São especialmente eles, as
classes C, D e E, que precisam
de mais tempo para pagar. Com
isso, diminuem o valor da prestação, de forma que ela caiba no
orçamento das famílias.
Agora, essas pessoas terão
que entender que as TVs, as geladeiras, os sofás e até mesmo
os carros zero-quilômetro que
elas compraram ajudaram a
criar um problema para a economia brasileira -e não o descompasso entre Fazenda e
Banco Central para adotar medidas que sigam um projeto de
governo. Talvez se a equipe
econômica estivesse realmente
em sintonia nos últimos anos,
em vez de cada um ir para um
lado, a situação hoje não teria
chegado a esse ponto, e oferta e
demanda estariam mais equilibradas.
(SHEILA D'AMORIM)
Texto Anterior: Repercussão: CNI diz que apóia restrição ao crédito Próximo Texto: Frase Índice
|