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Sempre "atrasado", caminhoneiro recorre a drogas
DO ENVIADO AO CENTRO-OESTE
Pesquisa coordenada pelo
Ministério do Trabalho em Mato Grosso, realizada no ano passado, revela um dado alarmante sobre o nível que alcançou o
consumo de drogas estimulantes entre os caminhoneiros responsáveis pelo escoamento da
safra de grãos no segundo
maior Estado produtor de soja
do país (o primeiro é o Paraná).
Em duas pesquisas feitas em
momentos diferentes ao longo
da BR-163, a Delegacia Regional do Trabalho de Mato Grosso constatou que metade dos
caminhoneiros examinados tinha traços de cocaína e anfetamina na urina (nas estradas, a
anfetamina é chamada de "rebite"). Segundo Lomberto Mario Henry, auditor fiscal e médico especializado em medicina do trabalho, muitos caminhoneiros se recusaram a fornecer material para exames.
"Isso pode significar que o
uso de drogas nas estradas entre os caminhoneiros pode ser
muito pior do que a pesquisa
apurou", afirma Henry. Para
ele, o consumo excessivo de
drogas estimulantes, como a
identificada na pesquisa, é consequência direta do atual modelo de remuneração desses
profissionais.
O Ministério do Trabalho
avalia que a formação da renda
a partir de comissões sobre o
frete é a base do problema. O
sistema é equivalente ao usado
no corte de cana, cuja remuneração depende da produtividade do bóia-fria. Nos dois casos,
quanto mais carga transportada ou mais cana cortada, maior
é a remuneração.
A investigação em Mato
Grosso subsidiou uma ação do
Ministério Público do Trabalho. Uma liminar, já cassada,
determinava que todos os caminhoneiros fossem obrigados
a parar o caminhão a partir das
22h e só retornassem à estrada
a partir das 6h. O objetivo era
impor um período de descanso
de pelo menos oito horas para
os caminhoneiros. "Entendemos que, com um período compulsório de descanso, o consumo de drogas para se manter
alerta cairia drasticamente."
A liminar foi cassada, e agora
o Ministério Público e a DRT
tentam obter na Justiça a exigência para que as transportadoras passem a controlar a jornada dos caminhoneiros.
O "homem pilha"
Com ou sem uso de drogas, o
que se percebe nas conversas
com os caminhoneiros, ao longo das estradas, é que eles sempre estão atrasados.
Giovani Moreira, 36, caminhoneiro há 20 anos, nega que
faça uso de drogas para suportar as longas jornadas, mas reconhece que a pressão por produtividade o tem mantido alerta mais tempo do que o normal.
Alcalina, como é chamado,
dorme quatro horas por dia e,
em geral, dirige por quase 20
horas. A renda de R$ 1.600 por
mês, segundo ele, não compensa tamanho esforço.
Por isso, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público
tentam impor uma jornada de
dez horas por dia para a categoria profissional.
(AB)
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