São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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Sempre "atrasado", caminhoneiro recorre a drogas

DO ENVIADO AO CENTRO-OESTE

Pesquisa coordenada pelo Ministério do Trabalho em Mato Grosso, realizada no ano passado, revela um dado alarmante sobre o nível que alcançou o consumo de drogas estimulantes entre os caminhoneiros responsáveis pelo escoamento da safra de grãos no segundo maior Estado produtor de soja do país (o primeiro é o Paraná).
Em duas pesquisas feitas em momentos diferentes ao longo da BR-163, a Delegacia Regional do Trabalho de Mato Grosso constatou que metade dos caminhoneiros examinados tinha traços de cocaína e anfetamina na urina (nas estradas, a anfetamina é chamada de "rebite"). Segundo Lomberto Mario Henry, auditor fiscal e médico especializado em medicina do trabalho, muitos caminhoneiros se recusaram a fornecer material para exames.
"Isso pode significar que o uso de drogas nas estradas entre os caminhoneiros pode ser muito pior do que a pesquisa apurou", afirma Henry. Para ele, o consumo excessivo de drogas estimulantes, como a identificada na pesquisa, é consequência direta do atual modelo de remuneração desses profissionais.
O Ministério do Trabalho avalia que a formação da renda a partir de comissões sobre o frete é a base do problema. O sistema é equivalente ao usado no corte de cana, cuja remuneração depende da produtividade do bóia-fria. Nos dois casos, quanto mais carga transportada ou mais cana cortada, maior é a remuneração.
A investigação em Mato Grosso subsidiou uma ação do Ministério Público do Trabalho. Uma liminar, já cassada, determinava que todos os caminhoneiros fossem obrigados a parar o caminhão a partir das 22h e só retornassem à estrada a partir das 6h. O objetivo era impor um período de descanso de pelo menos oito horas para os caminhoneiros. "Entendemos que, com um período compulsório de descanso, o consumo de drogas para se manter alerta cairia drasticamente."
A liminar foi cassada, e agora o Ministério Público e a DRT tentam obter na Justiça a exigência para que as transportadoras passem a controlar a jornada dos caminhoneiros.

O "homem pilha"
Com ou sem uso de drogas, o que se percebe nas conversas com os caminhoneiros, ao longo das estradas, é que eles sempre estão atrasados.
Giovani Moreira, 36, caminhoneiro há 20 anos, nega que faça uso de drogas para suportar as longas jornadas, mas reconhece que a pressão por produtividade o tem mantido alerta mais tempo do que o normal.
Alcalina, como é chamado, dorme quatro horas por dia e, em geral, dirige por quase 20 horas. A renda de R$ 1.600 por mês, segundo ele, não compensa tamanho esforço.
Por isso, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público tentam impor uma jornada de dez horas por dia para a categoria profissional. (AB)


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