|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAC não usa verba liberada desde 2005
De 97 projetos selecionados naquele ano para a lista de ações que hoje é o eixo do PAC, ao menos 54 não usaram tais recursos
Batizado de PPI, o núcleo de obras é um exemplo da dificuldade do Executivo
em recuperar o papel de indutor dos investimentos
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto a publicidade do
PAC afirma que o dinheiro para
as obras está garantido "do início ao fim", o núcleo de investimentos prioritários do Programa de Aceleração do Crescimento não conseguiu empregar até hoje nem a totalidade
das verbas recebidas em 2005.
Levantamento da Folha
mostra que, dos 97 projetos selecionados naquele ano para a
lista de ações que hoje é o eixo
principal do PAC, pelo menos
54 não conseguiram utilizar
nem sua primeira dotação orçamentária (ver quadro abaixo) -outros dois foram reclassificados no Orçamento, impossibilitando o acompanhamento de seus gastos.
Não se trata de mais um caso
de promessa oficial enterrada
por falta de dinheiro. Como diz
a propaganda, esse conjunto de
iniciativas é poupado dos cortes de verba periodicamente
adotados pelo governo e seus
gastos podem ser abatidos das
metas de aperto fiscal.
Batizado de PPI (Projeto-Piloto de Investimentos), o núcleo de obras é o melhor exemplo da dificuldade enfrentada
pelo Executivo para recuperar
o papel de indutor dos investimentos, como pretende o pacote oficial de estímulo à economia. Os projetos inaugurais
receberam R$ 3,2 bilhões em
2005 e mais R$ 4,3 bilhões nos
anos seguintes. Até março passado, os gastos do período não
passavam de R$ 2,8 bilhões.
Ainda assim, o governo incluiu novas obras e elevou para
R$ 4,6 bilhões o PPI no Orçamento já aprovado para este
ano -e enviou ao Congresso
um projeto que fixa o valor em
R$ 11,3 bilhões.
Há projetos que receberam
novos recursos nos Orçamentos dos três últimos anos, mas
gastaram menos de um terço
do previsto. É o caso da recuperação do trecho da rodovia BR-020 entre as divisas de Distrito
Federal-Goiás e Goiás-Bahia.
Foram R$ 23 milhões orçados em 2005 e mais R$ 22 milhões nos anos seguintes. Até
agora, os gastos são de apenas
R$ 6,7 milhões -menos que os
R$ 7,8 milhões destinados à
propaganda do PAC.
Em outros casos, projetos
continuam em andamento,
mas foram excluídos do núcleo
de prioridades. Foi o caso da
construção das eclusas (diques
que vencem desníveis em cursos de rio, para facilitar a navegação) de Tucuruí, no rio Tocantins (Pará).
Depois de destinar R$ 205
milhões à obra, o governo constatou, segundo documento do
Ministério do Planejamento,
"custos muito superiores aos
estimados no processo de seleção para o Orçamento de
2005". Desde então, o investimento para as eclusas somou
R$ 14 milhões.
Remendos
Os números oficiais só não
são piores porque o governo
passou a promover remendos
sucessivos na lista de obras do
PPI, após constatar que obstáculos como chuvas, custos subestimados, licitações e licenças ambientais pesavam mais
que a garantia de liberação das
verbas.
Desde seu lançamento, o que
foi apresentado como uma lista
de iniciativas cuidadosamente
selecionadas acabou incorporando mais de uma centena de
novos projetos -e, pelos números ambicionados pelo PAC,
outra centena está a caminho.
De início, o projeto, negociado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), deveria investir cerca de R$ 3 bilhões
anuais até 2007 em obras com
alto potencial de retorno econômico. A execução dos gastos
e das obras seria objeto de relatórios periódicos.
A idéia acabou sendo aproveitada para valores e prazos
bem mais elásticos, e o acompanhamento foi afrouxado. O
Tesouro Nacional publicou
dois relatórios, o último em outubro de 2005. No Ministério
do Planejamento, o último documento de avaliação data de
julho de 2006.
Mesmo com a série de remanejamentos de verbas, o desempenho nos dois primeiros
anos não encoraja a meta de
2007 -o PPI só conseguiu gastar, em 2005 e 2006, R$ 3,8 bilhões dos R$ 6,6 bilhões previstos no Orçamento.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Análise: Programa ainda nem chegou ao papel Índice
|