São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Lula conserva BNDES desenvolvimentista

Escolha de Luciano Coutinho reforça atuação do banco focada na política industrial e no estímulo a grandes projetos

Estrutura vigente do banco difere da desenhada na década de 90, que foi inspirada no formato dos bancos de investimentos

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A escolha do economista Luciano Coutinho reforçou o caráter desenvolvimentista da administração do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Especialista em política industrial, o nome de Coutinho foi sugestão do presidente Lula.
Desde a gestão de Carlos Lessa, no primeiro mandato do presidente Lula, o banco rompeu com a estrutura da década de 90, inspirada no formato dos bancos de investimentos.
Na prática, o banco de fomento, que pode emprestar até R$ 61 bilhões neste ano, tornou-se a face do governo em que a atuação desenvolvimentista é mais claramente identificável. "Tem muito mais desenvolvimentista do que se imagina nesse governo, mas nem sempre as pessoas vestem a camisa publicamente. Se vestem, acabam botando uma gravata e um paletó para disfarçar", afirmou Lessa.
Mesmo com personalidades distintas, Lessa, Guido Mantega e Fiocca imprimiram uma política de banco público de fomento ao BNDES. As comparações de desembolsos e aprovações mostram que o banco passou a emprestar mais nos últimos anos. De 1999 a 2002, ele financiou R$ 74,4 bilhões para a indústria. De 2003 a 2006, o valor subiu para R$ 89,1 bilhões. O mesmo ocorreu com a infra-estrutura: passou de R$ 53,5 bilhões de 1999 a 2002 para R$ 64,2 bilhões.
Ex-dirigentes do banco dizem que os números não devem ser olhados isoladamente e ressaltam que é preciso considerar o ambiente da década de 90, com economia fechada e sem a disseminação do conceito de governança corporativa, além das crises mundiais. Coube ao BNDES incentivar as empresas a adotar práticas de transparência e comunicação com acionistas minoritários por meio de condições mais favoráveis para a concessão de empréstimos. A partir da década de 90, o BNDES passou a atuar como agente do governo no processo de privatização.

Mercado de capitais
O ponto em comum com as administrações recentes foi o reforço da área de mercado de capitais. Nos últimos anos, o banco estimulou investimentos em debêntures (títulos de dívida) e em ações.
Na gestão de Francisco Gros, que assumiu em 2000, foi implantado um modelo de atuação focado na relação cliente/ produto. A idéia era complementar os recursos do setor privado, e não substituir o mercado. Na visão mais radical, o fortalecimento do mercado teria como conseqüência o fato de os financiamentos do banco se tornarem dispensáveis.
Mesmo os dirigentes do banco à época reconhecem que países emergentes dificilmente podem prescindir de uma instituição destinada a conceder melhores condições de empréstimos para setores estratégicos. Para os desenvolvimentistas, cabe ao banco identificar os setores estratégicos para o país e criar políticas específicas para estimular seu crescimento. Se o país decide que quer tornar o álcool uma commodity, cabe ao BNDES elaborar o diagnóstico das empresas do setor e criar as condições de financiamento propícias ao crescimento desse segmento.
Críticos destacam que, independentemente do modelo de gestão, o banco ainda não conseguiu vencer a concentração dos empréstimos no Sudeste e o baixo nível de financiamento a pequenas e médias empresas.
Segundo Lessa, o banco sempre sofreu com a falta de rede própria de agências e a carência ficou mais evidente depois da privatização dos bancos estaduais, que atuavam em parceria. Em março, último boletim disponível, 59% dos financiamentos foram destinados ao Sudeste, e as empresas de grande porte (com receita operacional bruta anual acima de R$ 60 milhões) responderam por 69% dos financiamentos.


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