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Lula conserva BNDES desenvolvimentista
Escolha de Luciano Coutinho reforça atuação do banco focada na política industrial e no estímulo a grandes projetos
Estrutura vigente do banco difere da desenhada na década de 90, que foi inspirada no formato dos bancos de investimentos
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A escolha do economista Luciano Coutinho reforçou o caráter desenvolvimentista da
administração do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Especialista em política industrial, o nome de Coutinho foi
sugestão do presidente Lula.
Desde a gestão de Carlos Lessa, no primeiro mandato do
presidente Lula, o banco rompeu com a estrutura da década
de 90, inspirada no formato dos
bancos de investimentos.
Na prática, o banco de fomento, que pode emprestar até
R$ 61 bilhões neste ano, tornou-se a face do governo em
que a atuação desenvolvimentista é mais claramente identificável. "Tem muito mais desenvolvimentista do que se
imagina nesse governo, mas
nem sempre as pessoas vestem
a camisa publicamente. Se vestem, acabam botando uma gravata e um paletó para disfarçar", afirmou Lessa.
Mesmo com personalidades
distintas, Lessa, Guido Mantega e Fiocca imprimiram uma
política de banco público de fomento ao BNDES. As comparações de desembolsos e aprovações mostram que o banco passou a emprestar mais nos últimos anos. De 1999 a 2002, ele
financiou R$ 74,4 bilhões para
a indústria. De 2003 a 2006, o
valor subiu para R$ 89,1 bilhões. O mesmo ocorreu com a
infra-estrutura: passou de R$
53,5 bilhões de 1999 a 2002 para R$ 64,2 bilhões.
Ex-dirigentes do banco dizem que os números não devem ser olhados isoladamente
e ressaltam que é preciso considerar o ambiente da década de
90, com economia fechada e
sem a disseminação do conceito de governança corporativa,
além das crises mundiais. Coube ao BNDES incentivar as empresas a adotar práticas de
transparência e comunicação
com acionistas minoritários
por meio de condições mais favoráveis para a concessão de
empréstimos. A partir da década de 90, o BNDES passou a
atuar como agente do governo
no processo de privatização.
Mercado de capitais
O ponto em comum com as
administrações recentes foi o
reforço da área de mercado de
capitais. Nos últimos anos, o
banco estimulou investimentos em debêntures (títulos de
dívida) e em ações.
Na gestão de Francisco Gros,
que assumiu em 2000, foi implantado um modelo de atuação focado na relação cliente/
produto. A idéia era complementar os recursos do setor
privado, e não substituir o mercado. Na visão mais radical, o
fortalecimento do mercado teria como conseqüência o fato
de os financiamentos do banco
se tornarem dispensáveis.
Mesmo os dirigentes do banco à época reconhecem que países emergentes dificilmente
podem prescindir de uma instituição destinada a conceder
melhores condições de empréstimos para setores estratégicos. Para os desenvolvimentistas, cabe ao banco identificar
os setores estratégicos para o
país e criar políticas específicas
para estimular seu crescimento. Se o país decide que quer
tornar o álcool uma commodity, cabe ao BNDES elaborar o
diagnóstico das empresas do
setor e criar as condições de financiamento propícias ao crescimento desse segmento.
Críticos destacam que, independentemente do modelo de
gestão, o banco ainda não conseguiu vencer a concentração
dos empréstimos no Sudeste e
o baixo nível de financiamento
a pequenas e médias empresas.
Segundo Lessa, o banco sempre sofreu com a falta de rede
própria de agências e a carência
ficou mais evidente depois da
privatização dos bancos estaduais, que atuavam em parceria. Em março, último boletim
disponível, 59% dos financiamentos foram destinados ao
Sudeste, e as empresas de grande porte (com receita operacional bruta anual acima de R$ 60
milhões) responderam por
69% dos financiamentos.
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