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VINICIUS TORRES FREIRE
Quando Lula jantou tucanos fritos
Pós-FHC, PSDB volta a ficar sem projeto político e social, se desagrega e negocia sua rendição ao poder luliano
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UMA DAS FICÇÕES da política
dos anos 90 era a aliança dos
partidos "modernos", o PT e
o PSDB, a união das forças que poderiam renovar o Estado e outras cascatas sobre as quais não é preciso se delongar. Era uma ilusão de uns moderados muito periféricos do PT,
pois o núcleo sindical-lulista e a esquerda jamais cogitaram alianças.
Era também um sintoma passageiro
dos acessos de desorientação político-social e da síndrome de abstinência de poder do cardinalato tucano.
O tucanato não sabia o que seria
quando crescesse. A comunhão da
paulicéia ilustrada e agregados regionais vivia na ansiedade de tornar-se uma UDN tecnocrático-universitária, sem apelo popular, voto ou poder -e sem golpistas. O partido vivia
entre a pregação oportunista do parlamentarismo (meio mais fácil de
chegar ao poder central que o voto
direto) e o risco de se render à sedução de Fernando Collor, que quase
levou os tucanos ao seu ministério.
A hiperinflação, a ruína final do
Estado dito desenvolvimentista e o
colapso do liberal-cesarismo alucinado de Collor produziu o acidente
Itamar Franco e um vácuo de poder.
A inteligência política de Fernando
Henrique Cardoso viu o cavalo passar desmontado. FHC reorganizou
os cacos da elite sem projeto e dividida; agregou o povo dizimado pela
inflação. A fim de se adequar ao espírito e aos dinheiros do tempo, levou
a finança ao poder e renovou a tecnocracia, agora burocracia banqueira-executiva-universitária, a tecnocracia que quase sempre deu rumo e
colocou ordem na vida das classes ricas e desorientadas do Brasil.
Depois desse raio fernandino em
dia de céu azul, o PSDB voltou a ser a
nuvem de calças ou o cão por demais
emplumado que sempre foi. Mas o
novo ciclo de nebulização tucana
encontra um país diferente e menos
caótico na política e na economia.
Uns anos de democracia no mar
de miséria, a reforma liberal imperfeita do tucanato e sua incapacidade
de reforma social tanto dissolveram
velhas polarizações políticas que diferenciavam o PSDB do petismo-sindicalismo como ressuscitaram o
desejo dos brasileiros de disporem
de alguma social-democracia, o que
abriu espaço para Lula. O PSDB, esse, não tem o que dizer ao povo. A
elite não carece mais deles, não.
Mudanças políticas e sociais ajudaram a rachar o partido. A comunhão de executivos, banqueiros e intelectuais perdeu a hegemonia e, em
parte, debandou depois da missão
(mal) cumprida de liberalizar o país.
Divide espaço com carcomidos que
embarcaram no "ônibus" que se tornou o PSDB no poder. Mais séria, foi
contestada pelos homens novos, em
parte representados pelos alckmistas, "mélange" do interior rico paulista, da nova alta classe média e da tosca nova elite gerencial paulista.
O arquipélago de neocoronéis das
elites regionais, o centrão do Congresso e o sindicato parlamentar,
que aderem a qualquer governo,
aderiram ao sucesso do distributivismo lulista, marginalizando o tucanato e seu sócio-menor, o DEM, o
PFL que não ousa dizer seu nome.
O PSDB ora não passa de legenda
de conveniência para três projetos
políticos particularistas (Serra, Aécio, Alckmin), que em parte barganham abertamente seus interesses
com um Lula no auge do poder. O
PSDB adere por W.O., sem luta.
vinit@uol.com.br
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