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Pequena copia grande para evitar imposto
Fabricantes de refrigerante abrem unidade em Manaus em busca de benefícios fiscais
Empresas ligadas à Afrebras dizem que recorrerão à SDE contra práticas de AmBev e Coca-Cola, que rebatem as acusações
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um pool formado por fabricantes regionais de refrigerantes decidiu copiar o modelo de
produção da Coca-Cola e da
AmBev na Zona Franca de Manaus -que dispõe de benefícios
fiscais- e pedir investigação da
SDE (Secretaria de Direito
Econômico), ligada ao Ministério da Justiça, sobre práticas
das duas empresas que resultariam em concorrência desleal.
Com fábricas em Manaus,
Coca-Cola e AmBev vendem
insumos às coligadas e, com essa operação, repassam crédito
de 27% do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) às
afiliadas -o mesmo benefício é
concedido a todas as empresas
do setor de bebidas instaladas
naquela região.
Para também ter direito a esse benefício fiscal, cinco fabricantes de refrigerantes investiram R$ 2,5 milhões para montar a Sulamerica Importação e
Exportação de Concentrados
de Bebidas, na Zona Franca de
Manaus (AM).
Fabricantes regionais de refrigerantes reunidos na Afrebras, associação que representa
105 empresas, afirmam que Coca-Cola e AmBev são ainda beneficiadas pela legislação sobre
IPI, PIS e Cofins. Esses tributos
incidem sobre as unidades vendidas -e não sobre o valor das
vendas (faturamento).
"Isso é a mesma coisa que dizer que o imposto de um Fusca
é o mesmo do de um BMW.
Quem vende mais barato, caso
dos fabricantes regionais de refrigerantes, paga imposto proporcionalmente maior sobre o
preço. Por que essa legislação
tributária vale só para refrigerantes?", questiona Fernando
Rodrigues de Bairros, presidente da Afrebras.
"Com toda essa situação, o
jeito foi copiar o modelo deles
[de instalação de fábricas na
Zona Franca] para ter mais eficiência", afirma Edson Bruehmueller, gerente comercial da
Refrigerante Marajá, de Mato
Grosso, uma das empresas que
participam do pool para produzir concentrado na ZFM.
A Marajá, assim como a Coca-Cola, também importa xarope de duas empresas situadas
em Atlanta (EUA), onde está a
Coca-Cola.
Representantes das empresas de maior porte discordam
dos argumentos da associação
de fabricantes regionais e informam que o setor de refrigerantes não é o único que tem
esse sistema de tributação.
Em 2006, diz a Afrebras, os
fabricantes regionais pagaram
40,62% em tributos -IPI, PIS,
Cofins e ICMS considerado de
18%- sobre o preço médio de
R$ 1,64 (preço identificado pela
Afrebras) de uma garrafa de
dois litros. Coca-Cola e AmBev
pagaram 33,08% sobre o preço
médio de R$ 2,46 da mesma
embalagem.
O IPI incidente sobre a venda
de refrigerante é fixo -R$ 0,24
por unidade. No caso do PIS e
da Cofins, os fabricantes pagam
R$ 0,131 por unidade. O ICMS
considerado foi de 18%, o que
dá R$ 0,30 por litro para quem
vendeu a R$ 1,64 e R$ 0,44 para
quem vendeu a R$ 2,46.
Os dados constam de estudo
do IBPT (Instituto Brasileiro
de Planejamento Tributário)
para a Afrebras, feito em 2005,
e considera os preços de venda
ao consumidor. A associação
ressalta, entretanto, que, mesmo se considerados os preços
de fábrica, os fabricantes regionais estão pagando "proporcionalmente" mais imposto do
que as grandes companhias. "É
só verificar os preços de fábrica
nas notas fiscais para confirmar isso", afirma Bairros.
Representação na SDE
A Afrebras deve formalizar
amanhã uma representação na
SDE para investigar a atuação
da Coca e da AmBev, que estariam utilizando "práticas que
causam sérios danos à concorrência e a toda a coletividade".
A associação quer a avaliação
da SDE quanto a: 1) aquisições
realizadas pelas duas companhias -vai pedir, por exemplo,
a revisão na aquisição da cervejaria Cintra pela AmBev; 2)
prática de compra de espaços
nas redes de supermercados; 3)
política de preços; 4) legislação
tributária para o setor de refrigerantes.
Em 2006, segundo informa a
Afrebras, Coca-Cola e AmBev
tinham 74,4% de participação
no setor de refrigerantes, fatia
que cresce desde 1999, quando
as duas detinham 67%. Os fabricantes regionais, que respondiam por 33% desse mercado em 1999, terminaram 2006
com 25,6% de participação. Sobre o faturamento do setor (R$
17,5 bilhões em 2005), nos cálculos da Afrebras, as grandes
participam com 89% e, as pequenas, com 11%.
O presidente da Afrebras informa que as duas companhias
também interferem diretamente na política de preços do
setor. "Uma das práticas mais
comuns é a promoção cruzada.
Elas diminuem o preço de uma
marca de grande presença no
mercado. Assim, obrigam os fabricantes a acompanharem.
Mas, em contrapartida, aumentam o preço de certa marca
líder para inviabilizar a iniciativa e sobrevivência de empresas
do setor", informa a Afrebras
na representação à SDE.
O fato de a legislação tributária no setor de refrigerantes
considerar as unidades vendidas -e não o faturamento das
vendas- é outro ponto a favor
das grandes companhias, na
avaliação da Afrebras.
"Proporcionalmente, as empresas que vendem por preços
mais baixos pagam mais tributos do que as grandes corporações. Isso promove e agrava as
desigualdades dentro do setor,
da mesma forma que interfere
na concorrência", diz a Afrebras no documento encaminhado à SDE.
A associação também recorreu três vezes, nos últimos oito
meses, à Receita Federal para
mudar o atual sistema.
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