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Para AmBev, pequenas querem burlar fisco
Empresa diz que fabricantes reclamam mudança na forma de tributação para escapar do controle dos medidores de vazão
AmBev diz que taxação com valor fixo sobre unidade vendida vige desde 89 e que contestação veio só após a adoção de medidor de vazão
Juca Varella - 4.mar.02/Folha Imagem
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Funcionário trabalha na linha de produção de cervejaria da AmBev, em Jacareí (São Paulo) |
DA REPORTAGEM LOCAL
Segunda maior fabricante de
refrigerantes do país, a AmBev
(dona das marcas Guaraná Antarctica, Pepsi, Soda e Sukita,
entre outras) questiona os argumentos da Afrebras (associação de fabricantes regionais),
que defende a mudança na forma de cobrar impostos no setor, e informa que a discussão
surgiu após a Receita Federal
determinar a instalação de medidores de vazão nas fábricas
de refrigerantes para aumentar
o controle da produção e evitar
a sonegação fiscal no setor.
"O sistema de tributação do
IPI, com valor fixo sobre unidade vendida, está em vigor desde
1989 e nunca foi contestado.
Agora, com a obrigatoriedade
da instalação dos medidores de
vazão nas fábricas de refrigerantes [o prazo para instalação
termina em maio], a Afrebras
reivindica mudanças?", questiona Ricardo Gonçalves Melo,
gerente de tributos da AmBev.
Essa mesma discussão, sobre
a necessidade de mudar o sistema de tributação no setor, foi
feita pelas cervejarias há três
anos, quando o assunto era o
mesmo: a instalação dos medidores de vazão nas cervejarias.
"É o mesmo script", diz.
Para Melo, afirmar que o
atual sistema (que fixa em reais
um valor a ser pago sobre a unidade vendida, e não sobre o
preço do produto) impede o desenvolvimento do setor, como
dizem representantes dos fabricantes de menor porte, só
pode ser "brincadeira".
"Nos últimos 17 anos, o setor
passou de 50 fábricas para mais
de 800. Portanto, o sistema não
impede o surgimento de novas
empresas, nem a concorrência", diz. Os números constam
também de estudo da LCA
Consultores, feito em janeiro
deste ano, para o instituto Etco.
A mudança na forma de tributação pode dar margem a sonegação fiscal, segundo Melo.
"O sistema de medidor de vazão é difícil de ser fraudado, é
seguro. A única forma de fraudar é mudar o sistema tributário para permitir uma manobra: a inclusão de mais uma variável na tributação, que é o
preço do produto", explica.
"Nesse caso, joga-se o medidor de vazão no lixo e volta-se à
nota fiscal. Com isso, a empresa
alega que tem várias marcas,
cada uma com um preço, e perde-se o controle da produção."
Segundo o gerente de tributos da AmBev, a Afrebras já entrou com 40 mandados de segurança contra o sistema de
medidor de vazão. A associação, por sua vez, informa que
retirou os mandados e que neles contestava os custos de instalação dos equipamentos. Cada medidor custaria R$ 100 mil.
"Em alguns casos, o valor do
medidor é 160% maior do que o
lucro líquido anual da empresa.
Assim, ocorre o desestímulo
nos investimentos dos empresários", diz a Afrebras. Na AmBev, o número é outro: R$ 60
mil por equipamento.
A AmBev questiona ainda o
fato de os cálculos da Afrebras
levarem em conta o preço dos
produtos vendidos ao consumidor. Sobre a aquisição da Cintra, a AmBev diz que é necessária para ampliar sua capacidade
instalada de forma "imediata".
A Coca-Cola, líder do mercado de refrigerantes no país,
com 55,5% do mercado (segundo dados da AC Nielsen de janeiro) informou, por meio de
sua assessoria, que está representada pela Abir e sua posição
é a mesma da associação.
Para a Abir, que reúne os fabricantes de refrigerantes, a
tributação no setor, da forma
como é feita hoje, está correta.
Paulo Mozart Gama e Silva,
diretor-executivo da Abir, diz
que vai participar, na quarta-feira, de audiência pública na
Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados sobre o assunto e não quis
adiantar seu depoimento.
Em 2005, o setor pagou R$
5,8 bilhões em impostos, segundo a Abir. Já a Afrebras diz
que os pequenos fabricantes,
que responderam por 11% do
setor em 2005, pagaram 19%
dos impostos recolhidos no setor. Cinco fabricantes regionais
consultados pela Folha não
quiseram detalhar seus volumes de produção, faturamento
e valor de impostos pagos.
(CLAUDIA ROLLI e FÁTIMA FERNANDES)
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