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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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Alencar descumpre pedido de Lula para moderar críticas ao BC, a quem desafiou a explicar decisão

Vice diz que mantém "coro" por juro menor

FÁBIO ZANINI
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O vice-presidente da República, José Alencar, descumpriu ontem à noite um pedido feito horas antes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que moderasse suas críticas à política econômica, e disse que pretende manter o coro pela queda nos juros.
"Sempre critiquei, a minha vida inteira. Acho que as críticas contribuem. Tenho compromisso com a minha história de vida", afirmou Alencar, industrial do setor têxtil filiado ao PL mineiro, em entrevista em seu gabinete.
Pela manhã, a pedido do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), Lula disse a seu vice que ele ultrapassou os limites na sua pregação pela queda dos juros.
Alencar, em entrevista à noite, disse que vai manter suas opiniões enquanto estiver na política.
"O dia em que eu perder minha coragem, peço desculpas e volto para casa", afirmou.
A advertência feita por Lula foi cautelosa, segundo a Folha apurou. O presidente resolveu fazê-la porque ele e Palocci ficaram contrariados com as declarações de anteontem de Alencar. Era preciso fortalecer o ministro da Fazenda e o BC (Banco Central), cuja autonomia para fixar os juros vinha sendo posta em xeque.
Indagado anteontem se faltava "competência" ao BC, o vice disse: "Claro que está".
Ontem, ao referir-se à manutenção da taxa básica de juros, ele voltou a soltar uma farpa contra a instituição, embora ressalvando que tem grande consideração por "aqueles homens públicos".
"Eu espero que eles [os diretores do BC] tenham uma razão muito convincente para a decisão que tomaram. Se eles, que são honestos e sabem muito mais do que eu, me convencerem, dou a mão à palmatória", afirmou.
Ele disse que uma taxa de 17,5% ao ano iria satisfazer o mercado e poupar o governo de um gasto de R$ 90 bilhões ao ano com o pagamento de juros da dívida. "Isso dá quase dez Cides [imposto sobre combustíveis] por ano", disse.

"Outro lado"
A Folha apurou que Lula, na conversa que teve ontem com Alencar, disse ao vice que o questionamento à competência do BC e que serviam ao "outro lado".
Por "outro lado", leia-se políticos da oposição ao PT, que desejam minar a política econômica de Palocci e especuladores do mercado financeiro interessados na manutenção das taxas num patamar o mais alto possível.
Na segunda, Palocci disse a Lula achar que os juros não cairiam. Mais uma vez, Lula bancou a posição de Palocci, que sai fortalecido do bombardeio que sofre.
Quando pediu coesão na reunião ministerial, Lula excluiu do sermão seu vice. O presidente gosta de Alencar, diz que ele tem brilho próprio e que deve poder manifestar suas opiniões.
As críticas de anteontem é que destoaram, na visão do próprio Lula, desse acerto. A Folha apurou que o presidente acha que há um pouco de ingenuidade da parte de Alencar nessa pregação.
Exemplo: após a advertência de Lula, Alencar e o presidente participaram de um encontro com grandes empresários. Ao final do encontro, o vice quis explicar as declarações, dizendo-se a favor da queda de juros, mas reafirmando apoio à decisão do BC.
O ministro José Dirceu (Casa Civil) o interrompeu e disse que as taxas cairiam no "momento oportuno". Ontem à noite, Alencar disse que não se recordava dessa cena com Dirceu.


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