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Alencar descumpre pedido de Lula para moderar críticas ao BC, a quem desafiou a explicar decisão
Vice diz que mantém "coro" por juro menor
FÁBIO ZANINI
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O vice-presidente da República,
José Alencar, descumpriu ontem
à noite um pedido feito horas antes pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, de que moderasse
suas críticas à política econômica,
e disse que pretende manter o coro pela queda nos juros.
"Sempre critiquei, a minha vida
inteira. Acho que as críticas contribuem. Tenho compromisso
com a minha história de vida",
afirmou Alencar, industrial do setor têxtil filiado ao PL mineiro, em
entrevista em seu gabinete.
Pela manhã, a pedido do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), Lula disse a seu vice que ele
ultrapassou os limites na sua pregação pela queda dos juros.
Alencar, em entrevista à noite,
disse que vai manter suas opiniões enquanto estiver na política.
"O dia em que eu perder minha
coragem, peço desculpas e volto
para casa", afirmou.
A advertência feita por Lula foi
cautelosa, segundo a Folha apurou. O presidente resolveu fazê-la
porque ele e Palocci ficaram contrariados com as declarações de
anteontem de Alencar. Era preciso fortalecer o ministro da Fazenda e o BC (Banco Central), cuja
autonomia para fixar os juros vinha sendo posta em xeque.
Indagado anteontem se faltava
"competência" ao BC, o vice disse: "Claro que está".
Ontem, ao referir-se à manutenção da taxa básica de juros, ele
voltou a soltar uma farpa contra a
instituição, embora ressalvando
que tem grande consideração por
"aqueles homens públicos".
"Eu espero que eles [os diretores do BC] tenham uma razão
muito convincente para a decisão
que tomaram. Se eles, que são honestos e sabem muito mais do que
eu, me convencerem, dou a mão à
palmatória", afirmou.
Ele disse que uma taxa de 17,5%
ao ano iria satisfazer o mercado e
poupar o governo de um gasto de
R$ 90 bilhões ao ano com o pagamento de juros da dívida. "Isso dá
quase dez Cides [imposto sobre
combustíveis] por ano", disse.
"Outro lado"
A Folha apurou que Lula, na
conversa que teve ontem com
Alencar, disse ao vice que o questionamento à competência do BC
e que serviam ao "outro lado".
Por "outro lado", leia-se políticos da oposição ao PT, que desejam minar a política econômica
de Palocci e especuladores do
mercado financeiro interessados
na manutenção das taxas num
patamar o mais alto possível.
Na segunda, Palocci disse a Lula
achar que os juros não cairiam.
Mais uma vez, Lula bancou a posição de Palocci, que sai fortalecido do bombardeio que sofre.
Quando pediu coesão na reunião ministerial, Lula excluiu do
sermão seu vice. O presidente
gosta de Alencar, diz que ele tem
brilho próprio e que deve poder
manifestar suas opiniões.
As críticas de anteontem é que
destoaram, na visão do próprio
Lula, desse acerto. A Folha apurou que o presidente acha que há
um pouco de ingenuidade da parte de Alencar nessa pregação.
Exemplo: após a advertência de
Lula, Alencar e o presidente participaram de um encontro com
grandes empresários. Ao final do
encontro, o vice quis explicar as
declarações, dizendo-se a favor da
queda de juros, mas reafirmando
apoio à decisão do BC.
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) o interrompeu e disse que
as taxas cairiam no "momento
oportuno". Ontem à noite, Alencar disse que não se recordava
dessa cena com Dirceu.
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